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Celebrado no Ocidente pelo fim da URSS, Gorbachev é detestado na Rússia pelo mesmo motivo

Mikhail Gorbachev, ex-líder da URSS, durante cerimônia do Dia da Vitória em Moscou, em 2018 - REUTERS/Maxim Shemetov
Mikhail Gorbachev, ex-líder da URSS, durante cerimônia do Dia da Vitória em Moscou, em 2018 Imagem: REUTERS/Maxim Shemetov

31/08/2022 04h57Atualizada em 31/08/2022 10h38

Mikhail Gorbachev morreu nesta terça-feira (30), aos 91 anos, de uma "doença grave e longa", confirmou o Hospital Central onde o ex-líder russo estava sendo tratado. Sua morte ocorre em meio à ofensiva do atual presidente russo, Vladimir Putin na Ucrânia, denunciada no Ocidente como um ressurgimento do imperialismo russo. A imprensa francesa desta quarta-feira (31) repercute a morte de Gorbachev, o último dirigente soviético e uma das principais figuras políticas do século XX.

O reformador da União Soviética morreu em Moscou. "Ele foi um dos artífices do fim da guerra fria e morre em pleno conflito na Ucrânia", diz a matéria do Le Parisien.

Com sua política de "perestroika", ele tentou modernizar um país paralisado, analisa o Libération. "Coqueluche entre os ocidentais", prêmio Nobel da Paz em 1990, ele assistiu, após a queda do muro de Berlim, ao desmoronamento do sistema comunista, diz o jornal que destaca que o líder é visto de maneiras opostas pelos países ocidentais e na Rússia.

Celebrado no Ocidente por ter posto fim à guerra fria, Gorbachev é acusado pelos russos de ter vendido a "pátria aos americanos", enquanto os soviéticos passavam "a vida em intermináveis filas para comprar artigos de primeira necessidade". Sob seu governo, milhões de soviéticos descobriram liberdades sem precedentes, mas também a escassez, o caos econômico e as revoltas nacionalistas que fariam soar a sentença de morte da URSS, que muitos de seus compatriotas nunca perdoariam.

O jornal traça o percurso do líder, desde a sua infância, filho de agricultores, até a sua acensão ao Kremlin. Ambicioso e gestor eficaz, Gorbachev encarnava a esperança de renovação de um sistema decrépito, afirma o Libé.

Defendendo a reconstrução (perestroika) e a transparência (glasnost), Gorbachev se lança em uma reforma profunda da gestão econômica do país para criar uma economia de mercado decentralizada dentro do Partido Comunista.

"Mais tático do que estrategista, o ex-tecnocrata sonhava com um socialismo humano, diz Le Figaro". O diário acrescenta que, por sua defesa da União Soviética e do comunismo, Gorbachev será lembrado como um reformador excepcional, cuja fraqueza era ser o último dos soviéticos.