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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Agência da ONU fica em Zaporíjia pelo menos até domingo e diz que usina foi violada após invasão da Rússia

Carros da ONU com especialistas da Agência Internacional de Energia Atômica chegam a usina de Zaporizhzhia, na Ucrânia, para inspeção - ALEXANDER ERMOCHENKO/REUTERS
Carros da ONU com especialistas da Agência Internacional de Energia Atômica chegam a usina de Zaporizhzhia, na Ucrânia, para inspeção Imagem: ALEXANDER ERMOCHENKO/REUTERS

02/09/2022 06h18

O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, confirmou que os inspetores da agência permanecerão "até domingo (4) ou segunda-feira (5) na Ucrânia", para dar continuidade à avaliação da situação da usina nuclear de Zaporíjia. A central está nas mãos do exército russo desde março e é alvo de bombardeios.

Grossi e uma equipe de 14 inspetores visitaram a central nesta quinta-feira (1º). Ele afirmou que "a integridade física" da usina nuclear "foi violada", após a primeira inspeção na unidade, ocupada por tropas russas poucos dias após a invasão ao país, em 24 de fevereiro.

Os bombardeios se intensificaram nas últimas semanas na região e preocupam a comunidade internacional, que teme um desastre nuclear. Rússia e Ucrânia se acusam mutuamente pelos ataques.

A inspeção desta quinta-feira ocorreu depois de novos bombardeios na área. "É evidente que (...) a integridade física da usina foi violada em várias ocasiões", declarou Grossi ao retornar ao território controlado pela Ucrânia, após inspecionar a usina nuclear durante o dia. "Precisamos de elementos de avaliação", mas "isso não pode acontecer novamente", acrescentou. "Temos muito trabalho para analisar certos aspectos técnicos", ressaltou.

Situação difícil

A AIEA quer "estabelecer uma presença contínua" no local, informou, sem dar maiores detalhes. "Pudemos visitar todo o local. Eu estive nas unidades de reatores, vi o sistema de emergência, as salas de controle e outros espaços", acrescentou. Grossi elogiou os funcionários que continuam trabalhando na usina. "Certamente estão em uma situação difícil, mas têm um nível de profissionalismo incrível", declarou.

Ele também descreveu a "situação bastante difícil" enfrentada por sua equipe, que ouviu disparos durante o trajeto para a central e ao cruzar a linha de frente entre as tropas ucranianas e russas. "Houve momentos em que os disparos eram evidentes, de metralhadoras pesadas, artilharia, morteiros em duas ou três ocasiões. Ficamos muito preocupados", relatou Grossi.

Os inspetores entraram na área a partir das zonas controladas pela Ucrânia. Essa era uma condição de Kiev, por temer que a visita legitimasse a ocupação russa. Os especialistas chegaram ao local apesar de novos bombardeios ocorridos pela manhã, que obrigaram a operadora ucraniana a desligar a rede elétrica de um dos seis reatores. "Esta foi a segunda vez nos últimos 10 dias que ações criminosas dos militares russos levaram ao fechamento da unidade", informou a operadora ucraniana Energoatom.

"Efeitos devastadores"

É hora de parar de brincar com fogo e tomar medidas concretas para proteger essa instalação e outras semelhantes de qualquer operação militar", declarou em Kiev o diretor-geral do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Robert Mardini. "O menor erro de cálculo poderia desencadear devastações que lamentaremos por décadas", acrescentou.

O Ministério da Defesa russo afirmou que dezenas de membros do Exército ucraniano haviam cruzado em embarcações o rio Dnieper, que separa suas posições a três quilômetros da central, e afirmou ter tomado "medidas para destruir o inimigo". Nada disso dissuadiu a equipe de inspetores.

O estado-maior do Exército ucraniano comunicou à noite a ocorrência de "bombardeios maciços" russos em torno de Kharkiv (nordeste), segunda maior cidade do país, bem como em Zaporíjia, no sul, e em Kramatorsk, Bakhmut e Sloviansk (leste). O boletim militar não menciona a contraofensiva lançada nesta semana pelas tropas ucranianas no sul do país, especialmente na região de Kherson, uma das poucas grandes cidades que a Rússia conseguiu conquistar em mais de seis meses de ofensiva.

Zelensky pede desmilitarização

A ONG Human Rights Watch denunciou que as forças russas estão transferindo civis à força para áreas sob seu controle desde o começo da invasão.

Na terça-feira (30), diante dos inspetores da AIEA, Zelensky pediu à comunidade internacional que busque um acordo para "uma desmilitarização imediata" da central nuclear", a maior da Europa, ocupada pelas tropas russas.

De acordo com Zelensky, o acordo deve incluir "a retirada de todos os militares russos com todos os explosivos e todas as suas armas" e a recuperação plena do controle ucraniano da usina. Nesta quinta-feira, Zelensky voltou a insistir sobre a necessidade desta desmilitarização e da retomada do controle da central pelos ucranianos.

(Com informações da AFP)