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Presidente ultraconservador do Irã pede à polícia para reprimir manifestantes com firmeza

18.jun.2021 - Ebrahim Raisi, presidente do Irã, pede aumento da repressão contra manifestantes no país - Atta Kenare/AFP
18.jun.2021 - Ebrahim Raisi, presidente do Irã, pede aumento da repressão contra manifestantes no país Imagem: Atta Kenare/AFP

25/09/2022 12h34

O presidente ultraconservador do Irã, Ebrahim Raisi, exortou neste domingo (25) a polícia a atuar "com firmeza" diante das manifestações que abalam o país, desde a morte da jovem curda iraniana Mahsa Amini, de 22 anos. Ela morreu há dez dias em circunstâncias consideradas suspeitas por familiares, depois de ser detida pela polícia moral iraniana por usar o véu islâmico de forma julgada incorreta. 

A revolta contra as regras sufocantes impostas pelos religiosos xiitas no poder no Irã não recua, após nove dias de protestos e confrontos com a polícia. Ao menos 41 pessoas já morreram nas manifestações, incluindo manifestantes e policiais, segundo um balanço oficial.

Mas, na contagem da ONG Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo, pelo menos 54 pessoas morreram na repressão aos protestos. No sábado (24), o movimento ganhou apoio no exterior, com atos registrados no Canadá, Estados Unidos, Chile, França, Bélgica, Holanda e no vizinho Iraque.

Mahsa Amini morreu no dia 16 de setembro, três dias depois de ser detida por usar "usar roupas inadequadas". A morte dela teve forte impacto entre outras mulheres de sua geração, que decidiram desafiar a ordem teocrática e sair às ruas.

Fartas da opressão, várias mulheres queimaram seus véus durante os protestos. As manifestantes têm recebido o apoio de homens, que enfrentam as tentativas de dispersão de policiais munidos de armas com balas reais. No Irã, as mulheres devem cobrir o cabelo e o corpo abaixo dos joelhos e não devem usar calças apertadas ou com rasgos, entre outras coisas.

A atual onda de repúdio aos códigos sociais rígidos já é apontada como a maior no país desde novembro de 2019. Naquele ano, o aumento dos preços da gasolina, em meio à crise econômica, provocou manifestações em uma centena de cidades.

As autoridades reprimiram violentamente a revolta popular, que terminou com um balanço de 230 mortes, segundo um relatório oficial, mais de 300 vítimas, de acordo com a Anistia Internacional.

O presidente ultraconservador Ebrahim Raisi, que chamou as manifestações de "motins", pediu no sábado (24) "às autoridades competentes que ajam com firmeza contra aqueles que ameaçam a segurança e a paz do país e do povo" iraniano. Ele pediu para "distinguir entre manifestações e perturbação da ordem e segurança públicas".

Na mesma linha, o chefe do Judiciário, Gholamhossein Mohseni Ejei, salientou a necessidade de "agir de forma decisiva e sem clemência" contra os principais instigadores dos "motins", segundo o site Mizan Oline.

Manifestação pró-governo

O ministério das Relações Exteriores iraniano apontou um suposto papel dos Estados Unidos nos protestos e alertou que "os esforços para violar a soberania do Irã não ficarão sem resposta". O ministro do Interior, Ahmad Vahidi, citado pela agência oficial IRNA, disse esperar que "a justiça processe rapidamente os principais responsáveis e líderes dos distúrbios", depois que a polícia anunciou a prisão de mais de 700 pessoas.

De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), com sede nos Estados Unidos, 17 jornalistas foram detidos desde o início dos protestos. As autoridades convocaram para este domingo uma nova manifestação a favor do governo.

Na noite de sábado, houve manifestações em várias cidades do país, incluindo a capital Teerã, onde um vídeo que se tornou viral mostrava uma mulher andando na rua com a cabeça descoberta e acenando com o lenço, ignorando os rígidos códigos vestimentares impostos pelas autoridades religiosas xiitas. O principal partido reformista do Irã pediu no sábado que o Estado suspenda a obrigação de as mulheres usarem véu em público e libertasse os detidos.

A Anistia Internacional acusou as forças de segurança de "disparar deliberadamente munição real contra manifestantes" e pediu "ação internacional urgente para acabar com a repressão". A internet ainda sofria perturbações, e o WhatsApp e o Instagram seguiam bloqueados. O NetBlocks, um site com sede em Londres que monitora os bloqueios da Internet em todo o mundo, também informou que o Skype foi bloqueado.

O Irã convocou os embaixadores do Reino Unido e da Noruega para denunciar uma "ingerência". O diplomata britânico foi repreendido por reportagens exibidas por canais de TV baseados em Londres, que estariam "incitando os motins" e contribuindo "à propagação de distúrbios". O embaixador norueguês foi convocado para dar esclarecimentos sobre declarações do presidente do Parlamento do país, consideradas como "uma ingerência em assuntos interiores do Irã".

O diretor de cinema iraniano duas vezes vencedor do Oscar Asghar Farhadi pediu aos cidadãos de todo o mundo que "se solidarizem" com os manifestantes e elogiou as "mulheres progressistas e corajosas que lideram os protestos por seus direitos".

Com informações da AFP