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EUA: até policiais negros podem ter reflexos racistas, denunciam ativistas após morte de Tyre Nichols

Tyre Nichols, homem de 29 anos morto em abordagem policial nos EUA - Reprodução
Tyre Nichols, homem de 29 anos morto em abordagem policial nos EUA Imagem: Reprodução

David Thomson

Em Memphis (EUA)

01/02/2023 16h31Atualizada em 01/02/2023 17h18

O funeral de Tyre Nichols acontece hoje, em Memphis, no estado de Tennessee, nos Estados Unidos.

O homem negro de 29 anos morreu três dias após ter sido violentamente espancado pela polícia, em 7 de janeiro, após uma blitz de trânsito banal. A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, comparecerá ao funeral.

Na noite de sexta-feira (27), as imagens do espancamento do jovem chocaram todo o país. Para os residentes de Memphis, além da tragédia, também é difícil de entender porque os cinco policiais acusados de assassinato são todos afro-americanos, como a vítima.

Isso torna a morte de Tyre Nichols ainda mais difícil de suportar, como reconheceu a própria mãe da vítima.

"O fato de Tyre ter sido morto por policiais negros torna sua morte 10.000 vezes pior para nós, porque nos mostra que a brutalidade policial não é apenas um problema da polícia branca, é um problema global de toda a polícia americana e temos que mudar isso", disse à RFI um afro-americano morador de Memphis, que veio meditar em frente a um mausoléu improvisado no local da tragédia.

A análise é compartilhada por representantes do movimento Black Lives Matter (BLM). Segundo eles, mesmo que esses policiais sejam negros, o racismo pode ter contribuído para o drama.

Na cidade de Memphis, 65% afro-americana, a polícia é majoritariamente negra, mas para o movimento BLM, até policiais negros podem ter reflexos racistas.

"Quando você integra esse sistema policial, você é doutrinado por este sistema, independentemente da raça. Aprendemos a considerar os negros como uma ameaça. E mesmo sendo negros, esses policiais desumanizaram Tyre porque viram sua cor de pele como uma ameaça", explica Amber Sherman, integrante do BLM Memphis.

George Floyd

Depois da morte de George Floyd, que abalou os Estados Unidos em 2020, Joe Biden prometeu uma grande reforma policial, mas em Memphis, depois dessa nova tragédia, os ativistas reunidos não acreditam mais nisso.

"Joe Biden fez belas declarações na frente das câmeras, mas concretamente, ele não fez nada por nós", explica o movimento BLM de Memphis.

A grande reforma policial prometida por Joe Biden durante sua campanha, que leva o nome de George Floyd, foi enterrada no Congresso por falta de maioria. O debate resultado pouco ou nada mudou em matéria de leis.

O que pode ter mudado, por outro lado, é como as autoridades agora administram essas tragédias.

O famoso advogado Ben Crump, que defende a família de Tyre Nichols, chegou a falar de um modelo de gestão por parte das autoridades de Memphis, já que em menos de um mês os cinco policiais foram acusados de assassinato. Além disso, as imagens do espancamento foram divulgadas com transparência.

Essas ações, sem dúvida, ajudaram a acalmar os protestos e permitiram que nenhuma manifestação violenta ocorresse após a morte de Nichols.