Conteúdo publicado há 11 meses

Natal em Belém sob clima de guerra é marcado por tristeza e perdas econômicas

Embora Gaza esteja a mais de 70 km de Belém, a cidade governada pela Autoridade Palestina fez questão de demonstrar solidariedade aos habitantes de Gaza. Este ano, não há festividades musicais, cerimônias ou decorações extravagantes em frente à Igreja da Natividade.

Na Praça da Manjedoura, também não há sinal nem da grande e tradicional árvore de Natal, nem dos turistas e fiéis que costumam se reunir ao seu redor durante todo o período natalino. Em vez da árvore, uma igreja local montou um presépio bem diferente, em que o menino Jesus aparece envolto em uma mortalha branca, como se fosse mais uma vítima dos bombardeios em Gaza.

As lojas de lembrancinhas também estão praticamente desertas. E a forte chuva que caiu na região na véspera de Natal parece ter desanimado ainda mais os poucos visitantes que estão na cidade.

O cancelamento das festas é oficial. Ainda em novembro, os líderes das diversas representações cristãs em Jerusalém emitiram uma carta pedindo a seus congregados que renunciassem a quaisquer "atividades festivas desnecessárias" no Natal. Orientação que foi seguida, inclusive, pela prefeitura de Belém.

Este ano, houve apenas a tradicional marcha do Patriarca Latino de Jerusalém. Como em todos os anos, o cardeal Pierbattista Pizzaballa, a maior autoridade católica da região, caminhou de Jerusalém a Belém. Mas, desta vez, a caminhada ocorreu em silêncio e sem música. O cardeal também celebrou a Missa do Galo, à meia-noite, na Igreja da Natividade.

Terra Santa sem peregrinos

Mas, ainda que não houvesse a orientação de autoridades religiosas e políticas para um Natal sem festas em Belém, provavelmente essa seria a realidade, uma vez que os peregrinos praticamente desapareceram da cidade e de todos os locais sagrados da Terra Santa. A onda de cancelamentos já havia sido desencadeada desde 7 de outubro. Todas as companhias aéreas internacionais anularam seus voos por medo de que algum dos mais de 12 mil foguetes que o Hamas lançou contra Israel atingissem algum avião.

Lembrando que a guerra começou em 7 de outubro, quando milhares de membros do Hamas invadiram Israel, matando mais de 1,2 mil pessoas, ferindo cerca de 10 mil, além de terem sequestrado outras 240, a maioria civis. Em resposta, Israel iniciou uma violenta incursão militar aérea e terrestre com o objetivo destruir a infraestrutura do Hamas e reaver os reféns.

Dados do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, afirmam que cerca de 20 mil palestinos morreram desde 7 de outubro. As informações não podem ser verificadas e nem fazem distinção entre combatentes e civis, ou entre os mortos pelos ataques israelenses ou por lançamentos falhos de foguetes do próprio Hamas contra Israel.

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O cancelamento das festividades de Natal também se revela um duro golpe para a economia de Belém. O turismo responde por cerca de 70% da receita da cidade. E quase toda essa receita é arrecadada durante a época do Natal. A prefeitura local afirma que mais de 70 hotéis em Belém foram forçados a fechar suas portas, deixando milhares de pessoas desempregadas.

No início de dezembro, o Ministério do Turismo palestino havia calculado que o impacto total da guerra e seus desdobramentos será de cerca de US$ 200 milhões em 2023. Um duro golpe quando a cidade começava a se recuperar das perdas geradas pela pandemia da Covid-19. Em 2020 e 2021, Belém teve dois natais minguados por causa das restrições impostas pelo coronavírus.

Recorde histórico de visitações

Em 2022, no entanto, tudo parecia começar a voltar ao normal, com a abertura das fronteiras e o retorno de milhões de peregrinos e visitantes. O mesmo aconteceu com outras cidades, como Jerusalém e Nazaré, em Israel, que tiveram um Natal farto no ano passado, quase como em 2019, quando testemunharam um recorde histórico de visitações, com 4,2 milhões de turistas desembarcando na Terra Santa.

Em Gaza, este ano, não há sinal de celebrações natalinas em meio à guerra que assola o território. Além disso, atualmente, há pouquíssimos cristãos na Faixa de Gaza. Eles já eram poucos antes da ascensão do Hamas no território, em 2007: apenas 4,2 mil meio a 1,5 milhão de muçulmanos. Hoje, eles são menos de mil pessoas entre mais de 2 milhões de muçulmanos.

A maioria dos cristãos fugiu da região por causa de perseguições de grupos islâmicos fundamentalistas, como o próprio Hamas. Uma pesquisa de 2020 do Centro Palestino para Políticas e Pesquisas revelou que 25% dos cristãos, tanto de Gaza quanto da Cisjordânia, testemunharam terem sido vítima de violência por motivos religiosos entre os palestinos. Nada menos do que 70% disseram que, pelo menos uma vez na vida, ouviram dos muçulmanos que o destino dos cristãos é "queimar no inferno".

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A própria cidade de Belém, berço do cristianismo, perdeu maioria cristã desde a criação de Israel e o acirramento das tensões regionais. Em 1948, os cristãos eram 70% da população. Hoje, eles são só 10 mil na cidade de 75,5 mil habitantes. Ou seja, cerca de 14%.

Já em Israel, o número de cristãos vem crescendo, mesmo que sejam uma pequena minoria. Atualmente, eles correspondem a 2% dos cidadãos do país, algo em torno de 190 mil pessoas - 1,3% a mais do que em 2022.

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