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Maior exercício militar da Otan em décadas marca 'retorno à Guerra Fria', diz Rússia

A Otan realiza o seu maior exercício militar em 35 anos em meio a temores crescentes de um confronto armado com a Rússia, no futuro. Cerca de 90 mil soldados, mais de 50 navios, 80 caças, helicópteros, drones e 1.100 blindados participarão das simulações da aliança militar que começam nesta semana e continuam até maio, principalmente nos países que fazem fronteira com a Rússia.

Para Moscou, a simulação militar da Otan marca o "retorno irrevogável" da aliança aos tempos da Guerra Fria. "Esses exercícios são elementos da guerra híbrida desencadeada pelo Ocidente contra a Rússia", declarou o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Alexander Grushko. "Um exercício desta escala marca o regresso da Otan aos esquemas da Guerra Fria, quando o processo do planejamento militar, os recursos e infra-estruturas estão sendo preparados para o confronto com a Rússia", enfatizou.

Segundo especialistas, Moscou vê a iniciativa defensiva da aliança como uma provocação. Na semana passada, a Alemanha advertiu que um ataque russo à Otan poderia ocorrer dentro de cinco a oito anos. Ao colocar o Steadfast Defender em ação, a aliança quer mostrar ao Kremlin que está pronta para enfrentar desafios.

O maior exercício militar desde a Guerra Fria terá a participação dos 31 países da organização e da Suécia. "Será uma demonstração clara de nossa unidade, de nossa força e de nossa determinação em protegermos uns aos outros", declarou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg. Aliás, este é o ponto alto da cooperação, o acordo de proteção mútua - o artigo nº 5 - que diz que se uma nação for atacada todas as outras devem reagir.

Fim da neutralidade

Um cenário até pouco tempo impensável vai se concretizar esta semana na Finlândia quando milhares de tropas da Otan simularem a defesa a um hipotético ataque da Rússia ao país nórdico.

A Finlândia, que compartilha uma fronteira de 1.300 quilômetros com a Rússia, encerrou um período de décadas de neutralidade e oficializou sua entrada na aliança militar em abril passado, o que contrariou Moscou e fez o presidente russo, Vladimir Putin, afirmar que a decisão poderá ter consequências.

Desde a independência da Finlândia, o risco de uma invasão russa paira sob sob os finlandeses, e por isso, em caso de guerra, a capital Helsinque se mantêm preparada e construiu quase 5 mil abrigos antiaéreos que podem proteger até 1 milhão de pessoas por vários dias. Além da Finlândia, os exercícios militares da Otan vão acontecer na Alemanha, Polônia e nos países bálticos, nos próximos meses.

Novos alvos

Desde que os países bálticos entraram para a Otan em 2004, Vladimir Putin sonha em recuperar as esferas de influência do Kremlin. Assim como fez antes de invadir a Ucrânia, Putin tem intensificado a retórica sobre as três nações bálticas que sinaliza uma preparação para eventuais "futuras escaladas" na região, alertou o Instituto de Estudos da Guerra, com sede em Washington.

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A Rússia tem acusado a Letônia, Lituânia e Estônia de discriminarem minorias russas em seus territórios que durante 50 anos pertenceram à União Soviética. De acordo com as novas regras da lei de imigração na Letônia os russos que vivem como residentes permanentes no país - um quarto da população - teriam que passar por um teste de idioma para continuar a viver em território letão.

Cerca de 1.200 russos que não atualizaram suas autorizações receberam um prazo para deixar o país. Segundo o relatório do think tank americano, Putin parece estar se preparando para "futuras ações agressivas com o pretexto de proteger seus compatriotas", apesar de não haver nenhuma evidência de que a Rússia esteja planejando atacar os países bálticos em breve, acrescenta o documento.

Na semana passada, as três ex-repúblicas soviéticas concordaram em construir uma linha de defesa conjunta contra possíveis ameaças militares na fronteira que compartilham com a Rússia e com Belarus.

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