Milei retorna à Espanha e aprofunda tensões com governo de Pedro Sánchez
Um mês depois de visitar a Espanha, o presidente argentino, Javier Milei, volta ao país para uma visita privada. A incógnita é se, desta vez, Milei atacará novamente o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez. O chefe de estado argentino segue depois para a Alemanha e a República Tcheca onde recebe prêmios de instituições liberais. Em seu país, ele tem sido criticado pelo número excessivo de viagens com caráter ideológico.
A segunda visita do presidente Javier Milei à Espanha tem vários pontos em comum com a primeira, tanto pelo formato quanto pelo conteúdo, mas ainda não se sabe se o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, será alvo de novos enfrentamentos públicos como em 19 de maio passado.
A última visita à Espanha também foi privada e o presidente argentino não se reuniu com nenhuma autoridade espanhola.
Javier Milei sai de Buenos Aires às 19 horas desta quinta-feira (20) para, no dia seguinte, receber um prêmio, em Madri, do instituto espanhol liberal, Juan de Mariana, pela "defesa exemplar das ideias da liberdade".
Em sua últimas visita ao país europeu, Milei participou de um ato com Santiago Abascal, líder do partido de ultra direita Vox. Desta vez, o presidente argentino terá uma reunião na sexta-feira (21) com a presidente da Comunidade de Madri, Isabel Díaz Ayuso. Nesse encontro, Milei vai receber a Medalha Internacional da Comunidade de Madri.
Essa reunião é, indiretamente, uma provocação a Pedro Sánchez porque Díaz Ayuso é opositora do líder espanhol.
Milei chega em alta na Espanha, por ter conseguido a aprovação de um pacote de leis para governar, enquanto Pedro Sánchez está em baixa, depois de sofrer uma derrota nas eleições para o Parlamento Europeu.
Enfrentamento aberto
Enquanto se aproxima dos opositores do primeiro-ministro Pedro Sánchez, Javier Milei aprofunda ainda mais seu enfrentamento com o atual governo espanhol.
Na semana passada, esteve na Suíça para a reunião de cúpula pela paz na Ucrânia. Assim como evitou qualquer aproximação com o presidente Lula, Milei também evitou qualquer esbarrão com Sánchez. O presidente brasileiro e o primeiro-espanhol também evitaram cruzar com Milei.
O porta-voz da Presidência argentina, Manuel Adorni, concluiu que "jamais Milei e Sánchez estarão de acordo porque Milei é um presidente liberal, enquanto Sánchez não".
Todo o imbróglio entre Milei e Sánchez começou quando o ministro do Transporte espanhol, Oscar Puente, sugeriu que Milei usava drogas ilícitas. Puente disse em entrevista a uma televisão que Milei estava sob os efeitos de "sabe-se lá de quais substâncias".
Quando Milei viajou à Espanha, durante seu discurso na convenção do partido Vox, chamou a esposa de Sánchez de "corrupta". Não mencionou o nome de Bergoña Gómez, mas deixou claro de quem se tratava. A esposa do primeiro-ministro é investigada por corrupção e por tráfico de influência.
O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, exigiu que Milei pedisse desculpas. O argentino não só não pediu desculpa como também lembrou que Sánchez fez campanha aberta contra Milei durante as eleições argentinas do ano passado.
O governo espanhol, então, decidiu retirar seu embaixador de Buenos Aires.
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A porta-voz do governo espanhol, Pilar Alegría, disse esperar que Milei "mantenha sempre um respeito pelo povo espanhol e pelas suas instituições".
Mas o presidente argentino já começou a disparar contra Sánchez. Nesta semana, através das redes sociais, acusou o líder espanhol de ser "cúmplice do socialismo autoritário" e de "perseguir jornalistas".
A publicação foi em solidariedade com o jornalista espanhol Vito Quiles, candidato da ultradireita nas recentes eleições europeias. Milei disse que o jornalista tem sido perseguido pelo governo espanhol por ter divulgado que o ministro do Transporte usou um veículo oficial para ir ao show da cantora Taylor Swift.
O curioso é que, na Argentina, Milei ataca jornalistas. Segundo a Anistia Internacional, em seis meses de mandato, o novo presidente atacou 20 jornalistas.
Viagens ideológicas
Milei tem o apoio de 56% dos argentinos, segundo diversas pesquisas de opinião. Para a CB consultores, por exemplo, são 55,7%, sendo o líder com a imagem mais positiva na América do Sul, acima do equatoriano Daniel Noboa, com 54,3%; de Lula, com 51,3%; do uruguaio Luis Lacalle Pou, com 50,8%; e do paraguaio Santiago Peña, com 48,5%.
Ele mantém o mesmo número com o qual se elegeu em novembro passado, ou seja, aqueles que votaram em Milei continuam a apoiá-lo, apesar de seu comportamento na esfera internacional.
Milei ganhou as eleições afirmando que jamais se reuniria com comunistas, incluindo nesse grupo o presidente Lula.
Quem apoia Milei quer que ele controle a inflação e faça a economia crescer. Muitos dos seus eleitores não gostam desse comportamento, mas interpretam como algo secundário, próprio da personalidade do presidente argentino.
Onde Milei tem sido criticado é na grande quantidade de viagens internacionais, com elevados custos para um Estado sem dinheiro, apenas para receber prêmios de instituições liberais.
Depois de visitar a Espanha, Milei vai à Alemanha e à República Tcheca, também para receber prêmios.
"É preciso diferenciar os dois tipos de viagem que Milei realiza. Uma coisa é quando vai à reunião de cúpula do G7, da paz na Ucrânia ou ao Fórum de Davos, outra quando faz viagens de caráter pessoal e motivação ideológica. A política exterior argentina estará bem orientada quando o presidente viajar por motivação pragmática de política externa e não por objetivos ideológicos", avalia para a RFI o cientista político, Rosendo Fraga.
Diante das críticas, o governo argentino tem incluído reuniões com as autoridades locais ou empresariais, para justificar as viagens.
No sábado (22), Milei irá a Hamburgo para receber um prêmio, e no domingo (23) vai se reunir, em Berlim, com o chanceler alemão, Olaf Scholz.
Na segunda-feira (24), Milei receberá outro prêmio em Praga e terá uma reunião com o primeiro-ministro tcheco, Petr Fiala.
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