Milésimo dia de guerra na Ucrânia evidencia temor da Europa sobre possíveis ações de Trump

A imprensa francesa destaca nas principais capas dos jornais desta terça-feira (19), os mil dias de guerra na Ucrânia após a reunião do Conselho de Segurança da ONU na segunda-feira. Encontro que por sua vez repercutiu o "sinal verde" americano para mísseis de longo alcance serem disparados da Ucrânia em direção à Rússia, dado pelo presidente dos EUA, Joe Biden, poucas semanas antes do retorno de Donald Trump à Casa Branca, em um cenário que evidencia pontos fracos das forças internacionais.

Le Parisien detalha que a Ucrânia se prepara para um terceiro inverno de guerra. Na região, o frio intenso, com mínimas que podem chegar a -30?°C, aumenta o desafio ucraniano nas trincheiras do Donbass. A preocupação é maior desta vez, segundo a publicação, pois a infraestrutura de energia da Ucrânia foi muito prejudicada pelos ataques de Moscou, por isso, são esperados cortes de energia nos próximos meses, o que pode deixar as famílias sem água quente ou calefação. 

Adrien Taquet, ex-secretário de Estado francês para Crianças e Famílias, visitou recentemente várias localidades próximas aos combates e reuniu-se com equipes da Unicef que estavam "extremamente preocupadas com a chegada do inverno". 

Trump e a guerra na Ucrânia

Le Parisien sublinha que Donald Trump, que deve retornar à Casa Branca em 20 de janeiro, durante sua campanha, "se gabou de que resolveria o conflito em 24 horas após assumir o cargo", acrescentando que, atualmente, a Rússia controla quase 20% do território ucraniano. 

Por sua vez, o Le Monde também fala das expectativas sobre as promessas de campanha de Trump após Washington, através do presidente ainda no poder, Joe Biden, concordar, no domingo (17), com o pedido de Kiev para usar armas capazes de atingir um alvo a quase 300 km de distância.  

"O objetivo é repelir o contra-ataque de Moscou - com sua força de 50 mil homens, incluindo 10 mil norte-coreanos - na região russa de Kursk, conquistada por Kiev em agosto. Essa decisão, que ocorre após um fim de semana de ataques russos maciços na Ucrânia e oferece a Kiev uma opção militar há muito esperada", diz o jornal.

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Entretanto, a autorização de Biden "não aponta para uma possível vitória, mas libera uma mão que estava amarrada atrás das costas", escreve o Le Monde, que explica a importância de o país de Zelensky "manter vantagens estratégicas" antes que Donald Trump assuma o cargo em 20 de janeiro.  

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"Ocidente tenta superar Trump"

Le Figaro desta terça aponta na mesma direção do diário, enfatizando que "o Ocidente tenta superar Donald Trump. Enquanto o presidente eleito dos Estados Unidos promete pôr fim ao conflito (na Ucrânia), o governo Biden acaba de autorizar os ucranianos a usar mísseis americanos". 

O jornal francês fala ainda que "somente após a reeleição de Donald Trump é que os líderes ocidentais perceberam a extensão de sua política de ruptura e gradualmente saíram da negação, renovando suas promessas de ajuda à Ucrânia. Pelo menos em palavras, o apoio a Kiev atingiu um novo pico, como se os aliados, tomados pelo pânico, quisessem agir antes que o presidente eleito, que já está manobrando em Washington, imponha uma paz desfavorável aos ucranianos". 

Para Le Figaro, "os europeus também têm sua parcela de culpa. Tendo subestimado por muito tempo a ameaça russa, eles não estavam preparados para a mudança nas prioridades americanas. Hoje, eles estão testemunhando com pânico e consternação a chegada do tornado Trump, que quer dar um pontapé violento na desordem internacional".

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Conforme a publicação, os europeus, são contra uma possível interrupção da ajuda à Ucrânia pelo futuro governo dos EUA. A UE e a Otan ajudarão a Ucrânia "pelo tempo que for necessário", conforme prometeu o presidente francês Emmanuel Macron. Mas segundo o Figaro, a Europa não está armada o suficiente - com ainda oito países ainda abaixo dos 2%, exigidos pela Otan, do PIB dedicado à Defesa - e determina que se Donald Trump encerrar abruptamente a ajuda à Ucrânia, "os europeus provavelmente não terão os meios para compensá-la".