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Baixo Clero

A jornalista Carla Bigatto conduz com analistas um papo sobre temas que dominam a pauta política.


Baixo Clero #87: Encontro de Lula e FHC antecipa acordos para eleições de 2022

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/05/2021 04h00

O encontro histórico entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) firma uma aproximação que já vinha se desenhando entre os dois partidos. A análise é de colunistas do UOL que, no episódio #87 do Baixo Clero, avaliaram que o gesto antecipa potenciais acordos para as eleições presidenciais de 2022.

Nesta edição, o podcast de política do UOL recebe a colunista Carla Araújo. De Brasília, ela contou que, no Palácio do Planalto, ninguém do governo Jair Bolsonaro (sem partido) quis comentar o encontro. "Bolsonaro falou no Maranhão, mas ninguém quer falar. Querem distância", disse (veja a partir de 10:17).

Ontem, em uma agenda no Maranhão, Bolsonaro fez ataques a Lula e afirmou que, para o pleito do ano que vem, já há uma chapa formada, com o "ladrão" como candidato a presidente.

Na avaliação do colunista do UOL Diogo Schelp, a aproximação de Lula e FHC já neste momento, a mais de um ano das eleições presidenciais, dá a entender que o PSDB está "jogando a toalha".

"Fico imaginando o que isso significa para o PSDB, porque, se não é uma antecipação de cenário de segundo turno, pode parecer a uma primeira vista que o partido já está jogando a toalha —pelo menos talvez o Fernando Henrique Cardoso, considerando que não há outra possibilidade além de ter Lula e Bolsonaro no segundo turno. O que, acho, que não é assim tão garantido", afirmou (veja a partir de 2:44).

Carla Araújo concordou. Segundo ela, o ex-deputado Bruno Araújo, presidente nacional do PSDB, disse que a repercussão do encontro é negativa para Bolsonaro, mas ressaltou a necessidade de cautela para que o eleitor tucano não entenda "sinais trocados", já que o partido pretende lançar um candidato próprio na disputa pelo Planalto.

"Acho que esse encontro, que acontece logo depois de o Fernando Henrique ter dito publicamente que votaria no Lula, tem uma simbologia muito forte", disse (veja a partir de 11:24).

Para a colunista do UOL Maria Carolina Trevisan, a aproximação entre Lula e FHC é uma "boa notícia" para a democracia, mas não pode ser encarada como uma definição de aliança eleitoral para 2022.

"Os dois ex-presidentes estão fazendo um gesto muito importante de ampliação de uma força antibolsonarista. Agora, isso pode ser convertido em uma aliança eleitoral? Aí, vai depender. Porque depende também do que os partidos querem nos estados. Vamos lembrar que a gente tem nessa eleição a escolha para governadores também" (veja a partir de 6:37).

Na avaliação de Trevisan, o cenário para 2022 ainda pode mudar muito, principalmente a depender da capacidade de Bolsonaro de manter ou não sua popularidade até lá.

FHC tuitou na sexta que apoiaria qualquer um que fosse opositor de Bolsonaro em um eventual segundo turno, até "mesmo o Lula".

Frigideira

A cada semana, os participantes do podcast escolhem o personagem da política nacional que merece ir para a frigideira. Neste programa, os eleitos foram o presidente Jair Bolsonaro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, e o ex-chanceler Ernesto Araújo.

Carla Araújo escolheu o nome de Bolsonaro pelo fato de o presidente ter comparecido a um evento no Maranhão sem utilizar máscara e promovendo aglomeração logo após a confirmação de casos de covid-19 no estado pela cepa indiana.

"Coincidentemente ou não, ironicamente ou não, ele ir ao Maranhão fazer agenda sem máscara e com aglomeração... Eu não consigo não escolher ele nesse momento" (veja a partir de 46:08).

Trevisan, por sua vez, disse que optou por botar Aras na frigideira pela decisão do procurador-geral de República de processar o colunista da Folha e professor da USP (Universidade de São Paulo) Conrado Hubner Mendes por ter feito críticas à sua atuação na PGR.

"Vou colocar o Aras não só porque ele tem se fingido de surdo e não tem feito nada para parar um pouco o presidente, mas também porque ele está processando o professor da USP Conrado Hubner por conta de um artigo que ele escreveu o chamando de poste", disse Trevisan. "Pela vontade de calar um crítico, ele vai para a frigideira" (veja a partir de 48:05).

Já Schelp disse que escolheu o nome de Ernesto Araújo não só pelo fato de o depoimento dele à CPI da Covid ter ficado "um pouco ofuscado" após as declarações do ex-ministro Pazuello à comissão, mas também pelo ex-chanceler ter mentido quando afirmou que nunca causou atritos com a China.

"[Ele] implantou aquela política externa bolsonarista, que vai levar muitos anos para o Brasil reverter. É um prejuízo. A diplomacia brasileira tinha uma credibilidade internacional, uma respeitabilidade construída ao longo de décadas, e que o Ernesto em dois anos conseguiu jogar por terra", afirmou (veja a partir de 50:37).

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