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Homenagem à "Charlie Hebdo" divide escritores americanos

05/05/2015 13h56

A polêmica em torno do atentado que vitimou doze pessoas na redação parisiense da "Charlie Hebdo", no passado mês de janeiro, atravessou o Atlântico e recomeçou nos Estados Unidos.

Como foi noticiado, o Pen Club, associação internacional de escritores e direitos humanos que é bastante influente nos Estados Unidas e na Inglaterra, decidiu homenagear os jornalistas assassinados em Paris concedendo-lhes postumamente o prêmio da Liberdade de Expressão.

Duas centenas de escritores afiliados ao Pen, mesmo condenando atentado de Paris e sendo favoráveis à plena liberdade de expressão, acham que Charlie ofendeu os muçulmanos e por isso não deveria ser homenageado. Mas a maioria dos escritores do Pen se posicionou ao lado da diretoria da instituição.

Numa declaração, Andrew Salomon, atual presidente do Pen Club, reconheceu que as caricaturas da "Charlie Hebdo" podem ter ofendido os muçulmanos e os fiéis das outras religiões visadas. Mas disse também que a homenagem se dirige aos jornalistas que defenderam a liberdade de imprensa e pagaram com a própria vida.

No "Washington Post", o jurista Eugene Volokh, tece considerações importantes sobre a polêmica, que também está explicada no site do Pen Club. Sem escrever mais longamente sobre assunto, que já foi tratado aqui, é possível salientar dois pontos.

Em primeiro lugar, o atentado à redação da "Charlie Hebdo" foi a primeira parte de uma operação homicida também perpetrada na mercearia judaica de outro quarteirão de Paris.

Assecla dos autores da chacina dos jornalistas, Amedy Coulibaly, em nome do Estado Islâmico, assassinou na mercearia kosher quatro clientes judeus que nada tinham a ver com "Charlie". Em outras palavras, os assassinos que se sentiram ofendidos pelas caricaturas da "Charlie" eram racistas da mais torpe espécie. 

Em segundo lugar, um estudo detalhado de dois sociólogos franceses sobre as caricaturas de capa da "Charlie Hebdo" dos últimos dez anos, demonstrou que no total dos 523 números, 336 se referem à atualidade política francesa com críticas dirigidas principalmente aos políticos de direita, e particularmente a Nicolas Sarkozy. Outras 85 capas tratam da atualidade econômica e social, 42 de famosos do esporte e da mída e 22 misturam vários assuntos. 

A religião propriamente dita é o alvo de 38 capas. Neste subtotal, 21 ironizavam a religião cristã, dez várias religiões ao mesmo tempo (judaica, muçulmana, budista) e somente sete dentre elas (1,3%) zombavam principalmente dos muçulmanos. Publicado pelo "Le Monde", o estudo redimensiona as informações veiculadas após o atentado que apresentavam a "Charlie" como uma revista de propaganda anti-islâmica.

Como escrevem os autores do estudo, Jean-François Mignot e Céline Gofette, “resta explicar... porque, nos dias de hoje, somente os extremistas que reivindicam a filiação muçulmana procuram calar uma revista que zomba – entre muitas outras coisas – da religião deles.”