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Cientistas cobram do governo rede integrada de alerta para eventos extremos
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A repetição de mortes após chuvas no Brasil, dessa vez no litoral de São Paulo, deixou claras mais uma vez as fragilidades do país em prevenir tragédias, especialmente na era de eventos extremos.
Diante da repetição de casos, cientistas que integram órgãos federais cobram agora do governo federal a gestão institucional de uma rede integrada que possa ligar as salas de monitoramento às pessoas que estão em áreas de risco.
No último dia 22, o diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Clezio Marcos de Nardin, enviou ofício à ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações, Luciana Santos, alertando da necessidade de estruturar essa rede e ajustar funções de cada órgão —hoje há sobreposição de atividades.
A coluna teve acesso ao documento, que cita que a tragédia no litoral paulista "é mais um evento meteorológico extremo que demonstrou que ainda não há uma cadeia de informação padronizada que abrange desde as previsões meteorológicas ao envio dos alertas de curtíssimo prazo a população das áreas susceptíveis, com uma comunicação clara sobre a gravidade do evento".
Rede nacional em debate
Desde dezembro de 2020, Inpe, Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) e o Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia) estão discutindo a criação da Rede Nacional de Meteorologia (RNM).
O objetivo é justamente promover essa articulação com atuação cooperativa para eliminar sobreposição de atividades.
As discussões, que foram iniciadas no governo anterior, precisam avançar, diz Clezio. Para isso, ele sugere à ministra que seja realizada uma reunião no ministério para apresentação da RNM.
Creio que seja urgente e necessário que seja retomada a institucionalização da RNM, conforme discutido entre os órgãos, para um melhor atendimento aos órgãos de Defesa Civil, que estão entre os principais demandantes das informações meteorológicas.
Clezio Nardin, do Inpe
Falta um órgão federal
Ainda no documento à ministra, Clezio cita que, no Brasil, "não há coordenação dos órgãos de meteorologia".
Não há na estrutura federal de hoje um órgão responsável por estabelecer e definir as diretrizes para a implementação do "nowcasting", que é a previsão de tempo imediata, para um horizonte inferior a seis horas.
Com isso, fica o vácuo de liderança organizacional para agir em casos de previsão de eventos extremos, por exemplo. "A articulação geraria uma cadeia de processos, produtos e dados interligados e complementares", diz Clezio.
Um dos itens contemplados na RNM é a implementação desse "nowcasting" no país de forma padronizada e com atuação descentralizada por estados ou municípios. Quando implementado, ele permitirá identificar, rastrear e prever o deslocamento dos sistemas meteorológicos intensos em um prazo de poucos minutos até 6 horas.
Procurado pela coluna para comentar a proposta, o MCTI não se pronunciou até o fechamento desta reportagem.
Alertas fracos ou inexistentes
Na tragédia em São Paulo, na quinta-feira, o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) emitiu comunicado às defesas civis alertando sobre o risco "muito alto" de alagamentos e deslizamentos no litoral.
Moradores chegaram a receber mensagens por SMS das defesas civis, mas as mensagens não informavam nada além de que uma forte chuva estava por vir.
A mesma falta de alertas ocorreu nos casos de Petrópolis (RJ) e região metropolitana do Recife, onde tragédias pós-chuvas também mataram centenas de pessoas no ano passado.
Atualmente, o que há são monitoramentos de condições meteorológicas e ações isoladas e descentralizadas, e uma comunicação falha com a população que não traduz a gravidade dos eventos extremos, com conteúdo genérico.
Gilvan Sampaio, coordenador-Geral de Ciências da Terra do Inpe
Fábio Augusto Reis, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Rio Claro e diretor da Febrageo (Federação Brasileira de Geólogos), afirma que a estruturação de uma rede alerta é um trabalho de anos e que conta treinamento, definição rotas de fuga, pontos de abrigo, simulados —"que não têm sido feitos".
"Não é questão só de mandar SMS: as pessoas têm de saber o que fazer com a informação; têm de ter líderes comunitários auxiliando", diz.
No caso, ele diz que a instalação pura e simples de sirenes foi uma "solução" usada em alguns municípios, mas que não mostram efetividade.
"A instalação de equipamentos de alerta é o último ponto da linha, tanto que não resolveram no ano passado [na região serrana do Rio]: muitas sirenes não tocaram; e onde tocou, as pessoas não sabiam o que fazer.
Fábio Reis, Unesp
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