Alinhado a Trump, Brasil sediará reunião dos EUA sobre paz no Oriente Médio
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O governo de Jair Bolsonaro vai sediar, em fevereiro de 2020, uma conferência internacional para debater a paz e segurança no Oriente Médio. O encontro faz parte de uma iniciativa do governo de Donald Trump para criar uma aliança própria na região e isolar o Irã.
O primeiro encontro da iniciativa ocorreu em fevereiro de 2019, em Varsóvia. A Polônia, uma aliada de Trump, aceitou a função de sediar o evento, que passou a ser conhecido como o "Processo de Varsóvia".
Nem russos, nem representantes da União Europeia e nem palestinos estiveram presentes. Alemanha e França também se recusaram a participar. Teerã, alvo dos ataques dos organizadores, sequer foi convidada.
Sete grupos de trabalho foram estabelecidos para debater assuntos como cibersegurança, segurança aérea e marítima, energia e proliferação de mísseis. Todos os encontros seguintes foram realizados em países aliados aos EUA, como Bahrein, Coreia do Sul ou Romênia.
Brasil exporta para o Irã
O próximo encontro está marcado para ocorrer no Brasil. Ao longo dos últimos meses, a administração Trump tem pressionado Bolsonaro e seu chanceler, Ernesto Araújo, a ampliar a pressão sobre os iranianos, um dos maiores destinos de exportações agrícolas do Brasil na região.
Num documento, os organizadores afirmam que estão "entusiasmados" em anunciar que o grupo de trabalho sobre assuntos humanitários e refugiados irá se reunir em Brasília, nos dias 5 e 6 de fevereiro de 2020.
Os documentos afirmam que esse grupo de trabalho vai permitir a troca de informações sobre a questão de educação e a proteção da juventude, nas respostas humanitárias no Oriente Médio.
"O impacto dessas crises nas crianças e jovens é grave e poderia levar à perda de capital humano que ameaçaria a segurança, economia e aspectos sociais de longo prazo para uma geração no Oriente Médio", constata.
As três crises citadas — Síria, Iemen e Iraque — são alvos de uma disputa de influência por parte de iranianos.
Na carta que serve de convite para delegações de todo o mundo, chamou a atenção de experientes diplomatas o fato de a assinatura do chanceler Araújo — o anfitrião — vir apenas depois de Mike Pompeo, secretário de Estado norte-americano, e do representante polonês.
A carta, ainda que convide a um evento no Brasil, pede que os interessados se inscrevam em um email do governo polonês.
De discussão sobre terrorismo a "brainstorming"
Ainda que o governo americano tenha anunciado que a iniciativa conta com o apoio de 60 países, o processo tem sido marcado por uma ampla polêmica. Antes da primeira conferência ocorrer, Pompeo chegou a declarar abertamente que se tratava de um encontro para lidar com a "influência e terrorismo do Irã".
Diante de uma reação dura por parte dos europeus, enviados americanos se apressaram para tentar modificar a forma pela qual a reunião era apresentada. A nova versão era de que se tratava apenas de um "brainstorming" sobre o Oriente Médio.
Mas, naquele mesmo evento, em Varsóvia, o vice-presidente americano Mike Pence classificou o Irã como sendo "a maior ameaça à paz no Oriente Médio" e de estar planejando "outro holocausto".
O governo iraniano chegou a dizer que a conferência era uma "tentativa desesperada" de Trump para sufocar Teerã e criticou duramente os poloneses por se prestar a oferecer Varsóvia para a iniciativa americana.
Além de convocar o embaixador polonês para se explicar, o chanceler iraniano Javad Zarif fez um severo ataque contra a Polônia nas redes sociais, lembrando que o Irã recebeu mais de 100 mil refugiados poloneses durante a Segunda Guerra Mundial. "O governo polonês não pode lavar a vergonha: enquanto o Irã salvou os poloneses na Segunda Guerra, ele vai agora sediar um circo anti-Irã", escreveu.
Para negociadores brasileiros, o Itamaraty pode ser alvo de ataques similares por parte de Teerã nos próximos meses.
Procurado, o Itamaraty não respondeu sobre quem está pagando pelo evento em Brasília e nem sobre sua posição no que se refere ao governo iraniano.
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