Topo

Josmar Jozino

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

De aviões modernos a casas-cofres: o enriquecimento do PCC em 28 anos

Colunista do UOL

20/12/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Planilhas em poder do MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) mostram a organização e o enriquecimento do PCC (Primeiro Comando da Capital). A facção, criada atrás das grades em 31 de agosto de 1993, em São Paulo, registra, aos 28 anos de existência, movimentação bilionária com a venda de entorpecentes.

A farta documentação a qual a reportagem teve acesso relata que o PCC criou um setor financeiro, uma das principais células do grupo, para cuidar da contabilidade e ocultar os valores obtidos com as atividades ilícitas, especialmente o tráfico de drogas.

Algumas tabelas trazem valores em dólares e outras em reais. Segundo o MP-SP, as planilhas revelam que ao longo de 2018 e 2019, somente com as "padarias" (locais de refino e em embalagem de cocaína), o PCC registrou entradas de valores de US$ 24.206.208 em benefício da facção criminosa.

O relatório do MP-SP - produzido pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) - diz ainda que apenas com as FMs (pontos de vendas de drogas) da Baixada Santista, as entradas no caixa da organização atingiram a impressionante cifra de US$ 8.983.164 em 2019.

Promotores de Justiça do Gaeco apuraram que entre junho de 2018 e julho de 2019, o PCC investiu US$ 900 mil em despesas com aquisição e manutenção de aeronaves, aluguel de hangar, compras de peças e combustíveis, além de contratações de pilotos e mecânicos.

A contabilidade do PCC em poder do Gaeco detalha também os gastos de R$ 1.380.828,00 com compras, alugueis, montagens e manutenção das casas-cofres, utilizadas para guardar expressivas quantidades de dinheiro, armas e drogas.

As casas-cofres são construídas com paredes e pisos falsos para dificultar as possíveis apreensões em casos de blitz policial ou cumprimento de mandados de busca. As investigações policiais apontam que os imóveis, geralmente, ficam em nomes de "laranjas".

Assim como grandes empresas multinacionais, o PCC aplica o dinheiro na aquisição de modernos equipamentos eletrônicos, como computadores, notebooks e principalmente, telefones celulares caríssimos, de última geração.

Foram gastos R$ 341.960,00 apenas na compra de aparelhos móveis e chips, exclusivamente para a comunicação dos líderes do setor financeiro da facção criminosa presos e em liberdade.

Os veículos são considerados de fundamental importância para os negócios ilícitos do PCC. Nas planilhas do Gaeco consta que a organização efetuou gastos no valor de R$ 844.472,00 na aquisição de automóveis, picapes e Vans utilizados para a movimentação de drogas, dinheiro e armamento.

Uma parte das planilhas em poder do Gaeco foi encontrada em endereços relacionados a integrantes do PCC durante uma operação policial deflagrada em setembro do ano passado, quando foram cumpridos dezenas de mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça de São Paulo.

A outra parte da documentação estava armazenada no notebook e nos telefones celulares de um homem preso por equipes da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), unidade de elite da Polícia Militar, em julho de 2018 em Itaquera, zona leste da capital.

As mensagens entre um integrante do PCC, que posteriormente foi preso no Paraguai, com um contador da facção indicam que somente no primeiro semestre de 2018, a soma de entradas e saídas de dinheiro do caixa do grupo atingiu o montante de R$ 140 milhões.

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.