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Tales Faria

Conselheiro de Mandetta, Caiado recomendou ao ministro enfrentar Bolsonaro

Governador Ronaldo Caiado (DEM-GO) fornece alcool gel para o presidente Jair Bolsonaro em cerimônia em Goiás  -  divulgação/Twitter Ronaldo Caiado
Governador Ronaldo Caiado (DEM-GO) fornece alcool gel para o presidente Jair Bolsonaro em cerimônia em Goiás Imagem: divulgação/Twitter Ronaldo Caiado

Colunista do UOL

14/04/2020 10h09Atualizada em 14/04/2020 14h08

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Foi no sábado, 11, após uma longa conversa com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, decidiu dar a entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, no domingo.

Na entrevista, Mandetta reclamou das atitudes do presidente Jair Bolsonaro contra a política de distanciamento social recomendada pelo Ministério da Saúde. "O brasileiro não sabe se escuta o ministro ou o presidente", disse.

Caiado já havia decidido, antes, ele próprio bater de frente com Bolsonaro em relação à política de enfrentamento da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Até então ele era o governador com maior proximidade do presidente da República.

A longa conversa de aconselhamento entre Mandetta e Caiado ocorreu logo após os dois se encontrarem com Bolsonaro na cidade de Águas Lindas, naquele sábado, durante a inauguração de um hospital de campanha montado pelo Exército.

Os dois combinaram não recuar diante das investidas de Bolsonaro contra o Ministério da Saúde e os governadores em geral.

Continuarão defendendo publicamente o distanciamento social e farão tudo para evitar que Bolsonaro jogue sobre seus ombros a responsabilidade pelas "muitas mortes" pela Covid-19 que preveem que ainda ocorrerão.

Para isso, Mandetta só pedirá demissão quando ficar evidente que o presidente está lhe mandando ir embora. Assim, não poderão acusá-lo de abandonar o barco. De tão irritado com seu subordinado, Bolsonaro está prestes a fazer-lhe a vontade e mandar que deixe o governo.

O desfecho pode ocorrer nas próximas horas.

Médico como Mandetta, Caiado é apontado pelo ministro como "o único amigo de verdade" que fez no Congresso nacional, durante seus oito anos de mandato como deputado federal, eleito pelo Mato Grosso do Sul.

Os dois são do partido Democratas, sendo Caiado o principal chefe político do partido e, hoje, até mesmo da direita na região Centro-Oeste. Antes de se candidatar a governador, ele chegou a se colocar como pré-candidato à Presidência da República.

No encontro com o presidente, Caiado fez questão de desinfetar as mãos e oferecer álcool a Bolsonaro, obrigando-o a fazer o mesmo. Depois da cerimônia o governador carregou o ministro até a sua residência oficial na capital, Goiânia, onde conversaram longamente.

Também são constantes as conversas telefônicas entre Mandetta e o governador.

E isso deixa o presidente Bolsonaro mais irritado ainda com seu ministro da Saúde. Ele se considera traído por Caiado, que se aliou aos governadores do Nordeste e do Norte na política de distanciamento social durante a pandemia.

Agora Bolsonaro se sente alvo de uma trama urdida por dois ex-aliados -o governador e o ministro- em aliança com opositores como os governadores do Nordeste, do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Mas o presidente julga que Mandetta cometeu um erro ao enfrentá-lo publicamente na entrevista ao Fantástico. A partir dela perdeu o apoio que tinha de grupos dentro do governo, especialmente os militares. Bolsonaro só estuda o momento e a forma exata de demitir o ministro.

Correção: constava do texto original que Mandetta se elegeu por Goiás. A informação estava errada e foi retirada. Ele foi eleito por Mato Grosso do Sul.