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Sob ataque de Aras e com Moro fora do governo, Lava Jato volta a funcionar

Outdoors com as fotos de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol e frases de apoio à Lava Jato aparecem espalhados em bairros de classe média em Curitiba - Theo Marques/UOL
Outdoors com as fotos de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol e frases de apoio à Lava Jato aparecem espalhados em bairros de classe média em Curitiba Imagem: Theo Marques/UOL

Colunista do UOL

14/07/2020 15h24

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Era assim que muita gente pensava: com o então juiz Sergio Moro aceitando o convite para assumir o comando do Ministério da Justiça, a Lava Jato ganhará mais poder e passará a limpo o país.

Deu certo? Não parece.

Moro, de fato ganhou maior poder formal ao se tornar ministro. Mas ficou mais amarrado ao presidente Jair Bolsonaro e aos interesses, sempre inconstantes, de qualquer governo.

Ou porque não era politicamente oportuno mexer com o Congresso quando havia votações importantes em pauta, como a reforma da Previdência; ou porque poderia parecer provocação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pelo fato de ele não priorizar o pacote de Segurança; ou ainda porque o próprio presidente da República reclamava de ações que poderiam esbarrar em seus filhos e nos aliados políticos.

Resultado: em vez de crescer, a operação Lava Jato apequenou-se no período em que o chefão Sergio Moro esteve no governo.

Para azar do então ministro e seus pupilos da República de Curitiba, o site The Intercept Brasil apareceu ainda com as transcrições de conversas entre Moro e os procuradores da Lava Jato combinando estratégias de atuação com politização das investigações: ora pelo vazamento de gravações contra o ex-presidente Lula (PT) e a então chefe do Executivo, Dilma Roussef (PT), ora evitando triscar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Aí Moro deixa o governo e livra-se das ligações políticas do presidente Jair Bolsonaro. Passa a ter somente os seus próprios interesses políticos. Ele e seus aliados no Ministério Público já não sofrem mais as amarras dos bolsonaristas.

Estão livres para reagir ao cerco dos políticos da esquerda e da direita e ainda de boa parte do Supremo Tribunal Federal. Cerco até da Procuradoria Geral da República, cujo chefe, Augusto Aras, ameaça esfarelar o poder dos lavajatistas sobre os processos.

Coincidência ou não, eis que a Lava Jato ressurge atirando para todos os lados e tentando desfazer o cerco.

Desde a saída de Moro, já deflagrou operações contra o senador José Serra (PSDB-SP), contra o ex-ministro das Minas e Energia Silas Rondeau, pediu bloqueio de centenas de milhões de reais desviados da Petrobras e da Eletrobras, destinou verbas para o combate ao coronavírus e, nesta terça-feira, voltou-se contra o deputado Paulinho da Força (SD-SP), ligado ao centrão.

O fato é que a Lava Jato hibernou durante a passagem do ex-juiz pelo governo e tenta voltar à tona, agora que Moro e os procuradores precisam de um palanque.

Provavelmente está coberta de motivos técnicos para agir. E pode ser até que não haja interesses políticos envolvidos. Afinal, ninguém precisa crer em teorias conspiratórias, nem em bruxas.

Mas como diz o velho ditado castelhano, "pero que las hay, las hay"...