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Sequestrado no berço, Pedrinho vai ser pai e diz que visita Vilma

Pedrinho abraça Vilma Martins Costa, que o sequestrou na maternidade - Sérgio Lima/Folhapress
Pedrinho abraça Vilma Martins Costa, que o sequestrou na maternidade Imagem: Sérgio Lima/Folhapress

Lourdes Souza

Do UOL, em Goiânia

17/09/2012 17h08

Conhecido por um dos sequestros mais marcantes do Brasil, Pedro Rosalino Braule Pinto, o Pedrinho, que foi levado horas depois do nascimento de uma maternidade de Brasília em 21 de janeiro de 1986, agora se prepara para ter o primeiro filho. Aos 26 anos, ele e a mulher, Nábyla Gabriela Queiroz Galvão, 23, aguardam a chegada de João Pedro para novembro.

Advogado em Brasília, onde mora com a família, ele disse, em entrevista ao UOL por telefone, que pretende ser um pai normal. “Estou ansioso para ver a cara do meu filho, vou tentar contar a minha história da forma mais natural possível. ”Pedro viveu até os 16 anos em Goiânia, onde foi criado por Vilma Martins Costa, a mulher que o sequestrou na maternidade.

Os pais biológicos, Jayro Tapajós, 60, e Maria Auxiliadora Rosalino Braule Pinto, 59, mobilizaram o país, desde o sequestro em 1986, em busca do paradeiro do filho. Mas o caso só foi desvendado em 2002, quando a neta do ex-marido de Vilma, Gabriela Azeredo Borges, desconfiando de que Pedrinho não seria filho de seu avô, conseguiu indícios na internet e encaminhou denúncias à polícia. Um exame de DNA provou a paternidade.

Pedro conheceu os pais biológicos em 23 de novembro de 2002. Meses depois voltou para Brasília. Ele conta que optou pelo silêncio para tentar ter uma vida normal. Mas quebrou o silêncio, na quinta-feira passada (14), ao conceder a primeira entrevista ao “Correio Braziliense” sobre a paternidade. “Resolvi falar, mas agora, devido ao assédio, já estou pensando em voltar a ficar em silêncio novamente.”

Contatos mantidos

Em 2003, Vilma Martins foi condenada e presa pelos dois sequestros, o de Pedrinho e o de Aparecida Ribeiro da Silva, a Roberta Jamilly, em 1979, por falsidade ideológica, parto suposto e estelionato. Mesmo assim, Pedro manteve contato com a família em Goiânia.

Ele diz que a convivência é pouca, mas existe. E não nega que a situação possa até deixar os pais biológicos desconfortáveis. “Convivo, não muito, mas convivo. Às vezes, quando vou a Goiânia, eu me encontro (com Vilma Martins). A minha mãe não gosta muito não porque a faz lembrar do momento ruim, mas respeita a situação.”

Em agosto de 2008, Vilma conquistou a liberdade condicional e hoje mora na região leste de Goiânia, no bairro Itanhangá, com a filha Roberta Jamilly, que não retomou o convívio com a mãe biológica. Pedro conta que quando está em Goiânia fica em casas de vários parentes, inclusive Roberta, e de amigos. Ao ser questionado se o filho teria duas avós, ele disse que não, porque uma situação assim poderia confundir a cabeça da criança. “Quero deixar o meu filho mais tranquilo, acho difícil duas avós, mas não refleti muito sobre isso não.”

A história

O sequestro de Pedrinho mobilizou o Brasil na década de 1980. No dia 21 de janeiro de 1986, poucas horas após o nascimento, ele foi levado de uma maternidade em Brasília. A partir de então, os pais Jayro e Maria Auxiliadora Tapajós não pararam as buscas pelo filho, cujo desaparecimento foi divulgado em sites de crianças desaparecidas no Brasil e exterior.

Em 2002, 16 anos depois do sequestro, o caso começou a ser descoberto justamente pela internet. A neta do ex-marido de Vilma Martins Costa, Gabriela Azeredo Borges, desconfiava que Pedrinho, batizado de Osvaldo Martins Borges Júnior, não era filho biológico de seu avó.

Em outubro do mesmo ano, ao buscar informações sobre desaparecidos no site Missing Kids (www.missingkids.com.br), ela viu uma foto de Jayro Tapajós e percebeu semelhanças com Pedrinho, na época ainda Júnior. Em seguida, Gabriela acionou o SOS Criança de Brasília, por meio de uma denúncia anônima. A suspeita foi encaminhada à polícia, que retomou as investigações.

Vilma Martins foi convocada para depor na Delegacia de Investigação de Homicídios sobre a suspeita de ter sequestrado o menino ainda na maternidade. Na ocasião, ela negou os fatos e se recusou a fornecer material genético para o DNA.

Reabertura do processo

Ao contrário da sequestradora, o garoto forneceu material para o exame. Em novembro, o resultado do DNA comprovou que Júnior era Pedrinho. Ele conheceu os pais biológicos no dia 23 de novembro de 2002.

Com as investigações, a polícia descobriu que outra filha de Vilma, Roberta Jamilly, também havia sido sequestrada. Aparecida Fernandes Ribeiro da Silva, o nome de batismo da garota, foi levada de uma maternidade em Goiânia, em 1979.

Após a descoberta dos crimes, o Ministério Público pediu a reabertura do processo por sequestro, que teria prescrito em 1994.  Em 2003, ela foi condenada a 15 anos e nove  meses de prisão pelos dois sequestros, falsidade ideológica, parto suposto e estelionato. Ela cumpriu cinco anos em regime fechado. Em agosto de 2008, ganhou liberdade condicional e agora se apresenta a cada dois meses para um juiz até 2019.