Pai de jovem morto por PM no Rio quer indiciamento por tentativa de homicídio contra irmãos
O corpo do estudante Rafael Costa, 17, morto no domingo (28) por um sargento da Polícia Militar que confundiu o estouro de um pneu do carro da vítima com tiros, foi enterrado nesta segunda-feira (29) no cemitério de Irajá, na zona norte do Rio de Janeiro. "Eu o tiro como um anjo", disse o pai da vítima, Walmir Costa da Silva, 53, após a cerimônia.
Silva afirmou ainda que pretende processar o Estado e pedir mais um indiciamento ao PM do 16º BPM (Olaria) que confessou ter se enganado durante a abordagem --o policial já foi autuado por homicídio doloso (quando há intenção de matar).
Outros dois filhos de Silva, identificados como Raoni, 16, e Róbson, 17, estavam no banco de trás do veículo conduzido pela vítima. Na visão do pai, os quatro tiros disparados pelo policial militar --um deles atingiu Rafael no pescoço, provocando o óbito-- configuram o crime de tentativa de homicídio contra os demais jovens.
"Eu e meu advogado vamos correr atrás até o final. Ele pegou um homicídio doloso, certo? O doloso é quando há intenção de matar. Esse sargento não pode pegar só um homicídio doloso se tinham seis pessoas dentro do carro e ele atirou contra seis pessoas. Existe o homicídio doloso, que é o do meu filho, e existe a tentativa de homicídio contra cinco pessoas. Eles têm que rever isso no processo", disse.
"Nós estamos deixando o momento esfriar. Eu e meus filhos vamos agora no escritório dele, pegar a documentação na DH e começar a encaminhar", completou o pai.
Além dos filhos de Walmir, outros três jovens, amigos do menor assassinado, estavam no carro, dos quais um foi atingido de raspão.
Cerca de 350 pessoas compareceram ao enterro de Rafael Costa. O irmão Raoni era um dos mais emocionados, e chegou a tentar impedir que o caixão fosse levado. "Pai, não deixa eles levarem o meu irmão", gritava o adolescente, que precisou ser contido pelos colegas. Após a cerimônia, dezenas de amigos da família subiram em uma kombi com sistema de alto falante, e deixaram o cemitério de Irajá aos gritos de "justiça".
Rafael dirigia o carro da mãe quando um dos pneus do veículo furou em um ponto da estrada do Porto Velho, por volta das 19h. Os PMs associaram o barulho do estouro do pneu a disparos de arma de fogo e atiraram contra a vítima. Um dos quatro disparos realizados contra o carro atingiu o pescoço do jovem, que chegou morto ao hospital.
Segundo a PM, oito policiais estavam presentes na cena do crime --eles ocupavam dois carros. A polícia informou ainda que o próprio sargento procurou a 22ª DP (Penha), onde confessou ter sido responsável pelos disparos. Ele está detido no BEP (Batalhão Especial Prisional).
Todas as armas utilizadas pelos PMs foram recolhidas para perícia, e o resultado deve sair nos próximos 30 dias. Pelo menos dez pessoas já prestaram depoimento.
Atitude "lamentável"
Ao comentar a morte do menor, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Erir Costa Filho, afirmou que os agentes da corporação "só devem atirar quando há segurança". Segundo o oficial, "a principal missão da corporação é a preservação da vida".
Em nota, Costa Filho classificou como "lamentável" a atitude do sargento Márcio Peres de Oliveira, 36, lotado no 16º BPM (Olaria), que admitiu ter alvejado o veículo da vítima.
Após o enterro do estudante, o pai de Rafael Costa ironizou a nota emitida pelo comandante-geral da PM. "Ah, é lamentável? E se fosse filho dele? Ele iria lamentar também?", questionou.
"Até agora, o Beltrame [secretário estadual de Segurança Pública] e a Polícia Militar não me procuraram para pedir desculpa pela morte do meu filho", finalizou.
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