Rappers ex-detentos defendem PCC como grupo de resistência
Rodrigo Bertolotto
Um fez música mandando "salve" para integrantes do PCC. Outro foi convidado várias vezes para entrar para a facção, mas negou em nome do rap. Respectivamente, os rappers Cascão e Dexter são ex-presidiários e testemunhas do surgimento do Primeiro Comando da Capital.
Os dois falaram com o UOL sobre a atual onda de violência no Estado de São Paulo, trazendo o ponto de vista de quem vive na periferia e sente na pele o clima de tensão.
Cerca de 100 policiais foram mortos desde o começo do ano em ataques atribuídos ao grupo criminoso que nasceu nas penitenciárias. Muitos apontam o estopim do conflito o dia 28 de maio, quando uma ação da Polícia Militar terminou com seis homens mortos, supostamente todos integrantes do PCC.
Revide não demorou, e grupos de extermínio passaram a agir nos subúrbios da Grande São Paulo, levando pânico à sociedade civil. Resultado: o número de homicídios dolosos (com intenção de matar) em 2012 ultrapassou os de 2011 no final de outubro.
"Eu tenho medo quando vejo viaturas. A polícia do meu país não me traz segurança alguma", afirma Dexter, 39 anos, 13 deles atrás das grades, o que o transforma em alvo potencial de quem sai à noite em carros escuros atrás de quem tem passagem por prisões.
Por seu lado, Cascão tem 40 anos de vida, 15 no crime e oito na cadeia. Começou a compor música na prisão, após receber apoio de Mano Brown, líder dos Racionais MCs, o grupo mais famoso do gênero.
Neste ano, Cascão, que lidera o grupo Trilha Sonora do Gueto, lançou a música "Fala que é Nóis", em que faz uma ode ao PCC (confira vídeo abaixo). "Os atentado é pra mostrar que o comando é de verdade/O sistema tá ligado que o comando tá crescendo/Que a cada dia mais armado, nóis não tá podendo/Se cansamo de ficar vendo a polícia matar", é um dos trechos da letra.
Além disso, Cascão cita vários líderes da facção na música. "São caras que eu conheço. Quando eu escrevi a letra, eles autorizaram que eu colocasse os nomes. Muitos até pediram", conta o rapper. Ele diz que tem cautela durante estes dias de violência na Grande São Paulo.
Para Cascão, o PCC é um Hamas (agremiação política palestina) que nasceu nos presídios. "São pessoas que lutam contra as patifarias do sistema", afirmou.
Já Dexter, compara a facção ao MST (Movimento Sem-Terra). "São formas de organização do povo, para reivindicar direitos." Tanto Cascão como Dexter defendem que o PCC ajudou a pacificar as penitenciárias e os bairros periféricos. Os dois opinam isso a partir da experiência de vida atrás e fora das grades.
Os dois rappers dão a visão da periferia de um tema que preocupa a população paulistana: o ressurgimento do conflito entre a facção PCC e as forças públicas, com muitas baixas de gente inocente no meio das execuções, atentados e chacinas.
Receba notícias do UOL. É grátis!
Veja também
- Projeto quer resgatar história de território negro que foi destruído para construção de BH
- Anielle Franco se reuniu ao menos 5 vezes com terreiros antes de críticas à gestão
- Frente fria faz cair temperatura e traz chuvisco para o fim da semana em São Paulo
- 'É uma lógica da polícia que mata', diz ouvidor sobre morte de estudante por PMs