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Mãe diz que corpo enterrado de vítima do desabamento no Rio não era de seu filho

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio de Janeiro

25/01/2013 12h53

Vera Lúcia Fernandes Gitahy perdeu o filho, Bruno, no desabamento de três prédios no centro do Rio, há um ano. Mas ela diz que os restos mortais que enterrou não era o do jovem de 26 anos.

"O corpo que eu enterrei não era o do meu filho. Eles [o IML, Instituto Médico Legal] apresentaram um primeiro laudo, que foi substituído alguns dias depois. Às vezes, o meu filho era a 11ª vítima. Depois, virou a 17ª. E, por fim, a 18ª. Afinal, quantos corpos o meu filho tem?", diz à reportagem do UOL antes de começar a missa de um ano em homenagem às vítimas, no centro do Rio. Os nomes de todas as vítimas foram lidos na cerimônia.

"O principal absurdo é que eu tenho dois laudos, que atestam a morte da mesma pessoa."

Desde então, foi a única dos parentes das vítimas a abrir uma denúncia no Ministério Público, questionando o processo de identificação dos corpos. Em outubro do ano passado, conseguiu uma autorização para exumar o corpo, que ainda não foi marcada. Isso possivelmente vai gerar um terceiro laudo para morte do filho.

Vera Lúcia diz acreditar que seu filho morreu por conta das máquinas colocadas pelo Corpo de Bombeiros e pela Defesa Civil para retirar os escombros. "Logo depois que cheguei à área do desabamento, já escutei o barulho de máquinas nos escombros. O Corpo de Bombeiros mentiu, dizendo que as máquinas só foram colocadas no dia seguinte. Se eles mentem, é porque têm alguma coisa a esconder. Quem pagou o preço disso foi o meu filho."

Durante a manifestação nesta sexta-feira (25), ela estendeu uma faixa, endereçada ao MP, em que se lia: "O corpo que foi enterrado não é o do laudo que originou a certidão de óbito do meu filho. Cadê o laudo que diz que o meu filho levou de 48 a 72 horas para o óbito? Cadê as fotos que pedi? Cadê os assassinos de meu filho?".

Bruno Gitahy assistia uma aula de tecnologia da informação no sexto andar do prédio mais alto que desabou. Filho único, ele ligou para mãe minutos antes da tragédia.

"Ele avisou a mãe dele para não fazer janta porque ele não ia comer em casa. Ele disse que ia lanchar em um bar em frente ao prédio do curso", contou seu primo Paulo Roberto Fernandes Gitahy à época do desabamento.

Lixão

Outras famílias envolvidas na tragédia reclamam, principalmente, da pressa com que foram retirados os destroços dos prédios, que dificultou a identificação dos corpos.

O concreto dos edifícios ficou misturado aos pertences das vítimas e aos corpos das pessoas que não foram encontradas. Nos dias que sucederam a tragédia, tudo isso foi retirado da avenida Treze de Maio e levado primeiramente para um depósito zona portuária, depois para outro local na rodovia Washington Luiz e posteriormente para o lixão de Gramacho, onde as buscas pelos desaparecidos duraram 15 dias.

Segundo a Defesa Civil estadual do Rio de Janeiro, não havia a possibilidade de encontrar corpos ou partes deles, pois o desabamento aconteceu de forma verticalizada e houve compactação da estrutura. As vítimas que não estavam em bolsões de ar e espaços vasculhados sofreram uma compressão incompatível com a vida.

A Defesa Civil também afirmou que as máquinas só começaram a trabalhar no local da tragédia após a varredura de todos os bolsões de ar e espaços onde poderiam ser encontradas vítimas vivas.

Além disso, sobre a denúncia de ter levado corpos para lixões, a Defesa Civil disse que os escombros removidos do local do desabamento foram encaminhados a um terreno na rodovia Washington Luiz, que não era um lixão, onde passaram por outras varreduras, com o objetivo de esgotar a possibilidade de encontrar corpos ou restos mortais. 

Após a missa, eles caminhariam a pé até o edifício Liberdade, na avenida Treze de Maio, para rezar e depositar flores.

 

Denúncia do MP

Na quinta-feira, o Ministério Público denunciou seis pessoas pelo desabamento do edifício Liberdade --que causou o desabamento de outros dois prédios vizinhos-- na Avenida Treze de Maio, na Cinelândia, centro da cidade, causando a morte de 17 pessoas e deixando outras cinco desaparecidas.

A denúncia ocorre um dia antes de completar um ano do desabamento, nesta sexta-feira 25. Decorrido um ano da tragédia, ninguém foi indenizado e a investigação ainda não foi concluída.