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Igreja fundada por pastor suspeito de estupros proíbe televisão e Coca-Cola

O pastor Marcos Pereira da Silva participa de culto da Igreja Assembléia de Deus dos Últimos Dias, em São João de Meriti - Uanderson Fernandes/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
O pastor Marcos Pereira da Silva participa de culto da Igreja Assembléia de Deus dos Últimos Dias, em São João de Meriti Imagem: Uanderson Fernandes/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

08/05/2013 14h51Atualizada em 08/05/2013 16h49

"Minha missão é libertar os oprimidos das mãos de Satanás". É assim que se descreve o pastor Marcos Pereira, 56, presidente da igreja Adud (Assembleia de Deus dos Últimos Dias), preso na última terça-feira (7) sob a suspeita de estupros, homicídio, associação para o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

O líder da igreja pentecostal que impõe rígidas posturas aos seus fiéis --as mulheres têm que se vestir com uma túnica, ninguém pode assistir televisão e nem tomar Coca-Cola, entre outros preceitos-- ficou famoso como mediador de rebeliões de presos e de livrar condenados do tráfico e das drogas.

Pastor Marcos começou sua atividade na Assembleia de Deus em 1989 e em 1990 fundou a Adud. No mesmo ano da fundação da igreja, ganhou destaque quando começou a trabalhar no Presídio de Segurança Máxima, na Ilha Grande, em Angra dos Reis, no litoral do Estado. Atualmente, outros três Estados - Paraná, Maranhão e Minas Gerais - têm igrejas da Adud.

Em seu perfil na página da igreja, o texto diz que o pastor atua em todas as penitenciárias do Rio de Janeiro e em outros Estados do Brasil, sendo responsável por "milhares de ex-detentos totalmente recuperados". 

Em 2004, o então governador e hoje deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ) chamou Pereira para negociar o fim de uma rebelião de presos que já durava dois dias na Casa de Custódia de Benfica, na zona norte do Rio. Centenas de reféns foram salvos, afirmou o pastor à época.

A "caminhada" do pastor até chegar à Adud foi longo. Antes de ser convertido em uma pregação do pastor Silas Malafaia, que à época pertencia à igreja Assembleia de Deus, em 1989, ele vivia totalmente nas "noitadas, bebedeiras e prostituição", como conta em seu perfil no site da igreja.  Em 2010, Malafaia fundou outra dissidência da Assembleia de Deus, com a denominação Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que nasceu no bairro da Penha, zona norte do Rio. 

Hoje, a doutrina da Adud diz que os fiéis não podem usar preto e vermelho, apontadas como cores para "identificação satânica", mas o pastor vestiu rubro-negro por muito tempo. Torcedor fanático do Flamengo antes da conversão, Marcos participava da organizada do time e dizia que "em seu vocabulário, de dez palavras, nove eram palavrões".

Marcos é o terceiro filho de uma família de oito irmãos. Ele diz em seu perfil que sua família era espírita e de classe média. Em seu perfil, ele diz que em 1982 teve a primeira filha, Nívea, que atualmente também é pastora. Ele também tem outro filho, Filipe.

Em sua página do Twitter, seguidores defendem Marcos. Com citações bíblicas, os fiéis dizem acreditar que o presidente da Adud foi preso injustamente e pedem orações pela sua libertação. Pastores da Adud também usaram a rede para manifestar apoio.

 "Que caia por terra toda essa perseguição", diz o bispo Laerte Lafayett, também da Adud. Outro a defender é o atual pastor e ex-cantor de pagode Waguinho. Ele cita a Bíblia para defender o líder de sua igreja. "Não prosperará nenhuma arma forjada contra ti", postou o ex-pagodeiro.

Já no Facebook, boa parte dos usuários que postaram na página de Marcos pedem justiça para os crimes de que ele é acusado.