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Delegada diz não descartar motivação passional ou vingança em chacina da Brasilândia

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

13/08/2013 15h11Atualizada em 13/08/2013 17h59

A chefe do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), delegada Elizabete Sato, afirmou na tarde desta terça-feira (13) que não estão descartadas outras hipóteses, como crime passional ou vingança, na chacina de Vila Brasilândia que deixou cinco mortos em uma casa do bairro da zona norte de São Paulo. 

"Esta é uma das hipóteses, isto não está descartado", disse ela.

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Esta é a segunda vez que a polícia especifica outras linhas de investigação além de latrocínio, que foi descartado logo no início. Ontem (12), em entrevista a uma rádio, já havia sido apontada a hipótese de vingança.

Até agora a principal linha mantida pela polícia aponta o filho do casal, o estudante Marcelo Pesseghini, 13, como responsável pelo assassinato do pai dele, o sargento da Rota (tropa de elite da Polícia Militar paulista) Luís Marcelo Pesseghini, 40, e da mãe, a cabo da PM Andréia Pesseghini, 36, além da avó e da tia-avó do adolescente.

Segundo a delegada, que não entrou em detalhes sobre os desdobramentos da investigação, a próxima etapa da investigação tentará traçar o perfil do casal de PMs.

Para isso, foram chamados para depor pelo menos quatro policiais da Rota que trabalhavam e eram próximos do sargento Luís Marcelo. Outros quatro PMs que trabalhavam com a cabo Andréia no 18º Batalhão, na Freguesia do Ó, também serão ouvidos.

De acordo com a delegada, o local do crime "não estava idôneo", ou seja, preservado para perícia, no dia em que policiais civis foram atender a ocorrência, na segunda-feira passada (5), pouco depois das 18h.

No dia do crime, cerca de 200 policiais foram até a casa onde a família foi morta.

Linhas de investigação

Após a publicação do texto, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) divulgou nota dizendo que a informação passada pela delegada à reportagem do UOL "não expressa os resultados obtidos na investigação do crime até o presente momento" e que Sato afirmou "que todas as informações que chegarem ao departamento serão verificadas na investigação".

"O DHPP, em todos os contatos com a imprensa, informou que a principal linha de investigação é a de que o estudante Marcelo Pesseghini é o responsável pelas mortes da família. No entanto, sempre se afirmou que outras hipóteses serão checadas", diz a nota. "Sobre essa suposta nova fase de investigação, esclarecemos que desde o início dos trabalhos a Polícia Civil, em cada depoimento colhido, está construindo o perfil de cada vítima, uma vez que essa técnica é parte do processo investigatório."

Além disso, a SSP ressaltou que o fato de mais de 200 policiais terem ido até a casa onde a família foi morta "evidentemente, não quer dizer que houve violação proposital da cena do crime".

Dúvidas não esclarecidas 

- como os vizinhos não ouviram o barulho de tiros que mataram cinco pessoas?
- se de fato matou quatro pessoas e a si próprio, como Marcelo não tinha vestígios de pólvora nas mãos?
- como o menino teria cometido os assassinatos, ido à escola e, mesmo assim, ter cabelos nas mãos quando morreu?
- como um menino “dócil e amoroso” com os pais, segundo familiares e vizinhos, teria sido capaz de um crime tão violento?
- qual o motivo de Marcelo ter colocado um revólver calibre 32 na mochila, se a arma usada para todos os assassinatos foi uma pistola .40?
- por que o depoimento de um adolescente de 13 anos é mais relevante para a polícia formular um juízo de valor do que o de testemunhas adultas que ainda nem foram ouvidas?
- onde os pais de Marcelo guardavam as armas em casa?
- que horas e em que sequência as vítimas foram assassinadas?
- por que só a mãe do menino, a cabo Andréia, estava em posição de submissão ao ser morta?
- a cena do crime poderia ter sido forjada?

Depoimentos

O DHPP ouviu até a noite desta segunda-feira (12), uma semana após o crime, 22 testemunhas. Só ontem, por exemplo, foram colhidos depoimentos de quatro testemunhas, entre um estudante de 13 anos que era colega de turma de Marcelo, a mãe deste aluno e um integrante da Polícia Militar, amigo do pai do garoto.

Hoje devem depor a diretora do colégio onde Marcelo estudava e um colega dele

O teor dos depoimentos não foi divulgado. Ainda assim, o DHPP informou que Sebastião de Oliveira Costa --filho de Bernadete Oliveira da Silva, 55, tia-avó de Marcelo -- entregou uma chave embrulhada em papel amassado, que será encaminhada à perícia.

Após o depoimento, Costa falou com a imprensa e informou que a suposta cópia da chave da casa dos PMs foi entregue a ele por uma repórter de uma emissora de TV, mas não deixou claro como conseguiu o objeto. Ele disse ainda que "alguém ligou para o delegado e disse que a chave estava comigo". "Não sei de onde é essa chave, mas ela está na mão do delegado." 

Costa afirmou que a família está "cansada" com a repercussão do caso. "A gente não aguenta mais, a família está sofrendo. Não conseguimos nem trabalhar. Se soubéssemos quem é [o assassino], já tínhamos falado", declarou ele.

Apesar de ter sido feito hoje o anúncio de que PMs foram chamados a depor, na semana passada um policial identificado como “Neto” e como amigo da policial assassinada já tinha sido ouvido como testemunha.

Na ocasião, o delegado da divisão de homicídios Itagiba Franco disse que o PM relatou ter presenciado o sargento da Rota ensinando o filho de 13 anos a atirar. No mesmo depoimento, ele afirmou que Andréia é quem teria ensinado o filho a dirigir o carro da família.

Para a polícia, um dos indícios que reforçam a hipótese de o garoto ser o autor dos crimes são as imagens de câmeras de segurança na rua do colégio em que ele estudava, na Freguesia do Ó. Nelas, o carro da policial estaciona em um local à 1h15 de segunda (5). Às 6h30, supostamente Marcelo desce e segue, de uniforme e mochila nas costas, em direção à escola.

Outro indício apontado pelo DHPP é um depoimento de um amigo próximo do estudante, que foi prestado há uma semana. Nele, o estudante afirmou ter ouvido de Marcelo que queria ser matador de aluguel. Logo em seguida ao crime, familiares rechaçaram a hipótese apresentada pela polícia.

No último domingo,  por exemplo, um dos irmãos do sargento da Rota disse, em entrevista ao programa "Fantástico", da Rede Globo, que o sobrinho não sabia dirigir tampouco manusear armas. “Meu irmão era uma pessoa muito coerente, e o Marcelo nunca mostrou interesse nem quanto a dirigir, nem com armas", disse, na entrevista.