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Festa do Peão de Barretos começa hoje e reacende polêmica sobre maus-tratos a animais

José Bonato

Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)

15/08/2013 06h00

A Festa do Peão de Barretos (423 km de São Paulo), a maior e mais tradicional do Brasil, começa nesta quinta-feira (15) e deve ser marcada pelo acirramento de uma polêmica que há dois anos põe frente a frente organizadores, público e defensores dos animais: a questão dos maus-tratos.

O assunto ganhou novos contornos depois que, em 2011, a prova de bulldog foi suspensa por conta de um acordo entre os organizadores do evento e o Ministério Público. Nesse tipo de prova, o peão precisa saltar do cavalo em movimento para imobilizar um bezerro. Naquele ano, porém, imagens [abaixo] mostraram o bezerro tendo de ser sacrificado após a prova. O MP viu e não gostou. 

Desde então, essa modalidade de competição está suspensa, até que a Justiça se manifeste sobre o assunto, segundo informou nessa quarta-feira (14) a promotora de Justiça e curadora do Meio Ambiente de Barretos, Adriana Nogueira Franco.

Elizabeth Mc Gregor, gerente de educação do FNPDA (Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal), que agrega cem entidades em defesa de bichos no Brasil, assina embaixo da decisão da promotora, mas diz que a suspensão da prova de bulldog ainda é pouco e não muda em nada o que os ativistas pensam sobre a festa.

As provas, segundo Elizabeth, causam sofrimento, estresse, lesões e muitas vezes levam os animais à morte. Os maus-tratos, diz, ocorrem não só durante as montarias, mas no transporte e no ambiente em que bois e cavalos permanecem. Ela cita os rojões soltos durante a competição como um dos fatores estressantes.

Condições 90% melhores

O veterinário Oneir Aparecido Caçador Júnior, 35, integrante da ABA (Associação Barretense de Animais), pensa diferente. Para ele, as condições dos animais na festa melhoraram 90% em relação a como eram há dez anos.

Ele disse que os maus-tratos ainda são uma realidade em 60% dos rodeios de segunda divisão do país, mas que, no caso de Barretos, considerado de elite, os sofrimentos dos bichos foram minimizados sensivelmente.

De acordo com Caçador, o próprio público se incumbe de fiscalizar eventuais excessos, e os donos de animais se preocupam com o bem-estar deles por serem muito valiosos. “Tem boi que vale R$ 1 milhão”, afirma.

O veterinário defende que é preciso “dar um voto de confiança” à Festa do Peão de Barretos. “A festa movimenta a economia da cidade, gera empregos e muitas famílias dependem dela”, declara.

Elizabeth, do FNPDA, afirma que o argumento de que os rodeios geram divisas para a cidade é “falacioso”. De acordo com ela, o que atrai o público são os shows com artistas famosos, não animais saltando. “É inaceitável uso cruel de animais para entretenimento. A festa poderia ser feita apenas com shows, sem montarias.”

Polêmicas à parte, outras provas envolvendo animais serão realizadas normalmente. Entre elas, rodeios com touros e carneiros (para crianças), cavalos, apartação de gado e manobras entre tambores.

Outro lado

A reportagem do UOL entrou em contato com a assessoria de imprensa da festa de Barretos por meio de e-mail para comentar as críticas ao evento, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

A Festa do Peão de Barretos termina no próximo dia 25. Ela vai reunir 400 competidores do Brasil e de outros países. Haverá provas também de gastronomia (queima do alho) e de berrantes. 

Durante os 11 dias, estão previstas cem atrações musicais, entre elas Gusttavo Lima, Jorge & Mateus, Chitãozinho & Chororó e Bruno e Marrone, entre outros. Embora o ritmo predominante seja o sertanejo, haverá shows de axé, música soul e house, em cinco palcos no recinto, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

São esperadas cerca de 1 milhão de pessoas. “A Festa do Peão de Barretos é planejada para despertar emoção e alegria no público, alinhadas ao objetivo maior que é a preservação da cultura sertaneja e de raiz”, declarou Hugo Resende Filho, presidente da associação Os Independentes, organizadora do evento.