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Polícia prende suspeito de atirar contra delegacia em São Luís

Aliny Gama

Do UOL, em Recife

07/01/2014 13h53

A polícia do Maranhão prendeu, nesta terça-feira (7), um homem suspeito de atirar contra o prédio do 9º DP (Distrito Policial), localizado no bairro São Francisco, em São Luís, na noite de sexta-feira (3), quando simultaneamente ocorreram ataques a quatro ônibus a mando de presos integrantes de facções criminosas do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, onde 60 presos foram assassinados em 2013.

Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), o suspeito Robenilson Carlos da Silva Martins, 23, foi preso no bairro Sá Viana, em São Luís. O acusado está detido na 5º DP, no bairro Anjo da Guarda, onde está prestando depoimento à polícia.

Na sexta-feira (3), a 9º DP foi atingida por dois disparos de arma de fogo e no momento do ataque havia apenas vigilante no prédio. Ninguém ficou ferido.

Ainda na noite de sexta-feira, um policial reformado foi assassinado a tiros enquanto conversava com a namorada no bairro Maracanã. A polícia não confirmou se a morte do PM teve relação com as ordens dos presos de Pedrinhas, mas investiga o caso.

Ataques a prédios ligados à segurança pública estão sendo alvos constantes de ataques criminosos.

Na noite do último sábado (4), a delegacia do bairro da Liberdade, em São Luís, foi alvo de tiros. Os disparos atingiram a porta da delegacia e um carro policial. Não houve feridos.

No dia 9 de novembro, dois ônibus foram incendiados, mas antes os passageiros foram roubados pelos criminosos. Os coletivos faziam a linha Bequimão e Alto da Esperança/Tamancão. Na mesma noite, homens armados mataram um PM e feriram dois durante ataques a trailers da polícia.

Dois dias depois, a onda de ataques criminosos em São Luís continuou. Homens armados assaltaram um ônibus na Lagoa da Jansen e tentaram atear fogo no veículo na noite do dia 11 de novembro. Ao mesmo tempo, um outro grupo tentou invadir e colocou fogo no trailer da PM (Polícia Militar) do bairro Vila Nova, o mesmo que foi atacado no dia 9, e um policial que estava no posto foi assassinado a tiros.

Os ataques ocorreram na mesma noite o governo do Estado anunciava novos nomes para o comando da PM, o subcomando da corporação e o comando do Policiamento Metropolitano.

Prisões

Nesta segunda-feira (6), a polícia prendeu mais seis pessoas foram presas acusadas de participar dos ataques aos ônibus. Um dos presos está com o braço e algumas partes do corpo queimadas, o que evidencia a participação dele nos atos criminosos. Até agora já são 16 pessoas capturadas, incluindo menores apreendidos.

Na noite do sábado o suspeito de coordenar os ataques aos ônibus foi preso pela polícia no bairro Monte Castelo.

Segundo a polícia, Hilton John Alves Araújo, 27, vulgo "Praguinha", recebeu as ordens de Jorge Henrique Amorim Martins, 21, o "Dragão", que lidera uma das facções que agem no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, para incendiar ônibus na capital maranhense.

Estupros

As ações de violência ordenadas no Complexo de Pedrinhas foram relatadas pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que mostrou que mulheres e irmãs de presos que não são líderes de facções ou comandam pavilhões nos presídios são estupradas dentro das celas em dias de visita. Há relatos também de estupros fora dos presídios, também ordenados por integrantes dessas facções.

Ainda segundo o CNJ, a disputa dos grupos pelo domínio dos presídios de Pedrinhas já causou diversos assassinatos e estupros em mulheres de presos que não são chefes de setor ou líderes, e acaba comprometendo a segurança do local.

"Em dias de visita íntima no Presídio São Luís I e II e no CDP, as mulheres dos presos são postas todas de uma vez nos pavilhões e as celas são abertas. Os encontros íntimos ocorrem em ambiente coletivo. Com isso, os presos e suas companheiras podem circular livremente em todas as celas do pavilhão, e essa circunstância facilita o abuso sexual praticado contra companheiras dos presos", informou o juiz Douglas de Melo Martins.

Por determinação do governo do Estado, a PM assumiu o complexo em 27 de dezembro. Apesar da ação, ele já registrou duas mortes em menos de 24 horas neste ano.

Violência em Pedrinhas

O relatório do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), divulgado no último dia 27 de dezembro, apontou que o domínio de facções criminosas que agem dentro dos presídios maranhenses deixa as unidades prisionais "extremamente violentas".

A maior parte das mortes tem relação com brigas entre as facções criminosas Bonde dos 40 --nome em alusão à pistola ponto 40-- e PCM (Primeiro Comando do Maranhão), facção ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital).

Em um período de apenas 17 dias, dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas ocorreram três rebeliões e 18 presos assassinados. A maioria das mortes em Pedrinhas termina com a decapitação de presos.

O ambiente de extrema violência e segurança precária é exemplificado com o relato de um vídeo feito por agentes penitenciários durante uma rebelião, que mostra "um preso vivo com a pele do membro inferior dissecada, expondo músculo, tendões, vasos e ossos, tudo isso antes de ser morto nas dependências do Complexo Penitenciário de Pedrinhas".

O domínio desses grupos criminosos dentro dos presídios do Maranhão impediu que fossem concluídas as inspeções do CNJ, realizadas em dezembro para traçar a verdadeira situação do Complexo de Pedrinhas.

Somente em 2014, dois assassinatos ocorreram dentro do Complexo de Pedrinhas. Na tarde desta quinta-feira (2), o preso Sildener Pinheiro Martins, 19, foi assassinado a golpes de ferros no CDP (Centro de Detenção Provisória). Na madrugada do mesmo dia, o detento Josivaldo Pinheiro Lindoso, 35, foi encontrado morto, com sinais de estrangulamento, no Centro de Triagem do Complexo Penitenciário de Pedrinhas.

O senador José Sarney (PMDB-AP), maranhense de nascimento e uma das figuras políticas mais importantes do Estado governado pela filha dele, Roseana Sarney (PMDB-MA), chegou a comemorar, durante entrevista concedida a uma rádio de sua propriedade, o fato da violência, no Maranhão, "estar nos presídios e não na rua", conforme informou o blog do jornalista Josias de Souza.

O governo do Maranhão informou que tem com recursos no valor de R$ 131 milhões para construção e reaparelhamento nas 32 unidades prisionais do Estado. Com esse valor, as unidades receberão armamentos, portais detectores de metal,  esteiras de Raio-X, estações de rádio, coletes, algemas e veículos.

O dinheiro é proveniente do Programa Viva Maranhão e serão construídos sete novos presídios sem licitação devido ao decreto de emergência de 180 dias para reestruturar as unidades penais.

Nesta segunda-feira, o Estado enviou à Procuradoria Geral da República um relatório das ações realizadas no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em resposta ao pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O documento faz críticas e acusações ao CNJ, que, também em relatório, denunciou crimes de direitos humanos na unidade prisional.