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Nordeste lidera ranking da morte e vê assassinatos dobrarem em 10 anos

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

02/06/2014 06h00

Em uma década, o Nordeste viveu uma explosão no número de assassinatos, o que tornou a região líder em números absolutos e taxa de homicídios no país. Os dados são do Mapa da Violência 2014, divulgado na semana passada, que revelou casos entre os anos de 2002 e 2012.

Nesse mesmo período, os homicídios na região cresceram 10 mil, mesmo índice do Sudeste, onde, em vez de crescer, o número caiu. Em 2012, foram assassinadas na região 20.960 pessoas, quase o dobro de 2002, quando foram 10.947 mortes.

Migração Sudeste-Nordeste

Em 2002, o Sudeste concentrava 55% dos homicídios do país. Dez anos depois, esse percentual caiu para 30%. Já no Nordeste houve uma curva inversa. Em uma década, o percentual de crimes na região saltou de 22% do total nacional para 37%, se tornando a região com mais mortes. 

Além disso, o Nordeste é atualmente a região com a maior taxa de homicídios: 38,9 para cada 100 mil habitantes. O índice é similar ao da Guatemala, quinto país mais violento do mundo, segundo estudo da ONU (Organização das Nações Unidas). 

No Brasil, a taxa é 29 por 100 mil na média do país. No Sudeste, a taxa em 2012 era de 21 para cada 100 mil.

Nesses 10 anos, os maiores crescimentos de taxa de homicídios no país ocorreram justamente no Nordeste: no Rio Grande do Norte e na Bahia, que mais que triplicaram o crescimento –229% e 221,6% a mais, respectivamente.

Pernambuco --então líder de violência no início do século-- foi o único dos nove Estados que reduziu a taxa de homicídios, com queda de 39%.

Com as altas taxas, hoje, quatro dos seis Estados mais violentos do país estão no Nordeste: Alagoas (taxa de 64,6 para cada 100 mil), Ceará (44,6), Bahia (41,9) e Sergipe (41,8). Completam a lista de mais violentos Espírito Santo (47,3) e Goiás (44,3), segundo e quarto colocados, respectivamente.

Dois fenômenos

Para o autor do estudo do Mapa da Violência, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, a violência no Nordeste aconteceu devido a dois fenômenos paralelos.

“Primeiro houve no país uma mudança no modelo econômico altamente concentrador em unidades como São Paulo e Rio. Isso foi esgotando, e novos polos de desenvolvimento foram surgindo, levando riquezas a esses Estados”, explicou.

O segundo ponto explicado por Waiselfisz é o modelo político de combate à violência, no início dos anos 2000, com enfoque nos Estados mais violentos.

“Em 2000, foi promulgado o primeiro plano nacional de segurança e criado fundo nacional de segurança. O governo federal começou a mandar recursos para os mais violentos, como São Paulo, Rio e Pernambuco. Chegou-se à conclusão de que deveriam se investir muitos recursos para esses Estados, que melhoraram o aparelho de segurança. Assim Rio, São Paulo e Pernambuco começaram a reduzir [os índices]”, disse.

Para o sociólogo, na mesma medida em que esses Estados fortaleceram suas polícias, os outros com menos recursos acabaram se tornando vítima de um fenômeno que chama de "interiorização da violência no país", iniciada a partir de 2002.

“O que houve no Brasil foi uma migração do crime para o Nordeste, mas não só para lá. Estados como Goiás, Pará e Amazonas, por exemplo, eram tranquilos e tiveram crescimentos significativos", disse.