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Consórcio prevê que água útil do Sistema Cantareira acabará em dez dias

Represa Jaguari-Jacareí, na cidade de Vargem, no interior de São Paulo, na divisa com o sul de Minas Gerais em abril - Luis Moura/Estadão Conteúdo
Represa Jaguari-Jacareí, na cidade de Vargem, no interior de São Paulo, na divisa com o sul de Minas Gerais em abril Imagem: Luis Moura/Estadão Conteúdo

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

27/06/2014 17h55Atualizada em 27/06/2014 19h18

O consórcio PCJ, que abrange rios das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, dá o dia 7 de julho como prazo máximo para que acabe a água do volume útil do Sistema Cantareira, principal abastecedor da Grande São Paulo e da região de Campinas. A partir dessa data, o sistema funcionará apenas com a reserva do volume morto.

O Sistema Cantareira, que fornece água para cerca de 9 milhões de pessoas na Grande São Paulo e para outros 5 milhões em Campinas, tem seu nível próximo a 21% da capacidade, contando o volume morto. Se ele for excluído, o nível se aproxima de 3%.

De acordo com o engenheiro e pesquisador da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Antônio Carlos Zuffo, também consultor do consórcio e responsável pelo estudo, isso significa que, a partir desta data, todo o sistema estará operando exclusivamente com o chamado volume morto, que não deve durar mais que cem dias. “Em se mantendo as atuais condições de chuvas, a água do Cantareira, sem contar o volume morto, só dura até 7 de julho”, disse.

Para Zuffo, a situação indica uma crise grave, que poderá afetar o abastecimento. “Caminhamos a passos largos para esta situação. Estamos em plena crise, é impossível negar essa realidade. Não discutimos mais se vai acontecer, nem quando vai. Precisamos pensar no que vamos fazer”, afirmou. Para o especialista, desde o fim do ano passado, deveria ter sido implementado um sistema de rodízio ou de racionamento para evitar o esgotamento do recurso.

Segundo o secretário-executivo do Consórcio PCJ, Francisco Carlos Lahóz, é urgente a necessidade de adoção de rodízio no abastecimento de todas as cidades que utilizam a água do Sistema Cantareira. “Isso já tinha de estar vigorando desde o começo do ano. Além disso, medidas emergenciais, como a captação de água de lençóis freáticos e a construção de reservatórios, já deveriam ter sido executadas de forma emergencial para diminuir o consumo das águas do Cantareira”, informou.

Chuvas

Pelas contas da própria Sabesp, o volume morto poderia garantir o abastecimento das regiões atendidas pelo Cantareira por cem dias. Com isso, a intenção é atravessar o período de estiagem, que tradicionalmente vai até setembro. A partir de então, com a chegada da primavera, o volume de chuva aumentaria e seria capaz de, além de garantir o abastecimento, recompor as reservas do Sistema Cantareira. 

Para Zuffo, no entanto, não há garantias de que as chuvas voltarão em volume suficiente para acabar com a crise hídrica. Dessa forma, a situação, para o próximo ano, pode ser ainda pior que a registrada em 2014. "Se não chover acima da média, chegaremos ao próximo ciclo de seca com os reservatórios ainda mais combalidos e sem reservas. Isso obrigaria que medidas drásticas fossem tomadas. Simplesmente não iremos ter de onde tirar água e o racionamento e o desabastecimento serão uma imposição”, disse.

O evento realizado pelo Consórcio PCJ contou ainda com a participação da consultora Rosana Garjulli, uma das responsáveis pela implantação e pela execução do projeto de abastecimento do Ceará, uma das regiões consideradas modelo no quesito gestão de água.

Ela defende que a região precisa imediatamente fazer a adequação do uso da água com o volume captado para evitar problemas. A região de Campinas tem uma vazão autorizada para captação de 4 m³/s. “É com isso que ela tem que trabalhar. Da mesma forma a Grande São Paulo. Querer captar mais que isso é a receita certa para o sistema entrar em colapso, ainda mais na atual situação”, disse. A Grande São Paulo tem autorização para captar 27 m³/s.