São Paulo inaugura na Paulista ciclovia que desperta amor e ódio

A ciclovia da avenida Paulista, construída ao longo dos últimos cinco meses, será inaugurada oficialmente neste domingo (28) em um evento que interditará totalmente a via aos veículos automotores das 10h às 17h. Desde setembro de 2014, quando foi anunciada a construção da obra, os paulistanos se dividiram entre defensores e críticos da implantação de uma via exclusiva para bicicletas no local.

Os primeiros tapumes para a realização da obra no canteiro central da avenida foram instalados na madrugada do dia 5 de janeiro, e não demorou para surgirem contestações. Duas questões polêmicas prevaleceram: a suposta falta de planejamento na implementação das obras e o alto custo delas, R$ 12,2 milhões, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).

No dia 17 de março, com a justificativa de que faltavam estudos técnicos para a implantação dos 400 km de ciclovias prometidos pelo prefeito Fernando Haddad (PT), o Ministério Público de São Paulo entrou na Justiça com pedido de liminar para que todas as obras de construção de ciclovias na cidade de São Paulo fossem suspensas e o canteiro central da avenida Paulista fosse reconstruído.

A Justiça permitiu que as obras na Paulista, na ocasião, prosseguissem, mas embargou a construção das outras ciclovias por 10 dias. No dia 27 de março, quando acontecia uma mobilização nacional em defesa das ciclovias, veio o anúncio da queda da liminar, o que permitiu a continuidade das obras. A vitória dos cicloativistas foi comemorada na própria avenida Paulista, onde acontecia o ato em São Paulo.

Custo de implantação

A ciclovia já tinha enfrentado outra polêmica em fevereiro: uma reportagem da revista Veja São Paulo contestando o custo da implementação das ciclovias motivou a criação de uma CPI na Câmara dos Vereadores de São Paulo, que acabou não ocorrendo. A Prefeitura justificou o valor de R$ 12,2 milhões da obra na Paulista pelo fato de a intervenção na avenida contemplar correções geométricas viárias, melhorias na acessibilidade, recapeamento das faixas de tráfego e implantação de infraestrutura de rede de transmissão de dados, além da modernização e da melhoria na sinalização horizontal, vertical e semafórica da via.

A justificativa dos gastos, porém, não convenceu muitos paulistanos. Para Rosy Ferreira, 39, que trabalha com projetos culturais, trata-se de uma obra “cara e desnecessária”. Para ela, a construção da ciclovia “piorou o trânsito e só beneficia os órgãos e governantes que superfaturam estas obras”. Natália Figueiredo, 49, recepcionista, também julgou que a verba foi mal gasta. “Acho que o prefeito deveria investir em escola e saúde”, diz. Os relatos foram enviados para o WhatsApp do UOL (11) 97500 1925.

Aqueles que apoiam a bicicleta como meio de transporte, no entanto, celebram a construção da ciclovia e veem pouco sentido na revolta contra a obra. “Não entendo porque tanto drama, existem tantas coisas que deviriam ser motivo de revolta popular”, pontua o gerente de e-commerce Flávio Menezes, 39.

O ciclista e criador do site Vá de Bike, Willian Cruz, afirma que ela traz segurança para quem pedala em um dos principais cartões postais da cidade. Ele lembra que várias mortes já foram registradas na via, justamente pela ausência de uma faixa exclusiva para bicicletas. “É uma coisa que devia até ser óbvia”, afirma.

O consultor Daniel Albuquerque, 42, estará na avenida no domingo para celebrar a conquista, mas lamenta que sua construção tenha demorado tantos anos para acontecer. “Perdi duas amigas atropeladas na Paulista”, conta.

Símbolo de mobilidade

Para o pesquisador de mobilidade urbana, Luiz Vicente Mello, mais que a questão do meio de transporte, a simbologia de se ter uma ciclovia em um dos principais cartões postais da cidade é significativa e “incentiva as pessoas a procurarem outro meio de transporte que não seja simplesmente o automóvel”.

Ele se mostra preocupado, porém, com possíveis problemas gerados pela presença de mais um modal de transporte urbano em uma avenida que já conta com a presença de automóveis, motos, ônibus, estações de metrô e pedestres. A questão da velocidade dos carros, que ameaçaria a integridade física dos ciclistas quando esses forem fazer as travessias, saindo da “ilha” da ciclovia, e um possível risco de choque entre ciclistas e pedestres, sobretudo em momentos de grande fluxo de pessoas atravessando a via, são questões a se avaliar, de acordo com Mello.