Mortes, danos ambientais e sequelas marcam tragédias com barragens no país
A tragédia causada pelo rompimento das barragens de Fundão e de Santarém, em Mariana (MG), foi mais um capítulo na triste história que envolve incidentes no país e que causaram mortes, destruição ambiental e deixam sequelas até hoje. Nos últimos 30 anos foram pelo menos sete incidentes com mortes registradas, já contando o episódio de quinta-feira (5), em Minas Gerais.
O que mais causou mortes foi o rompimento da barragem de Algodões, nos municípios de Cocal e Buriti dos Lopes, no Piauí, em 27 de maio de 2009. Oficialmente, nove pessoas morreram no incidente. Mas a Avaba (Associação das Vítimas e Amigos das Vítimas da Catástrofe pelo Rompimento da Barragem de Algodões) afirma que outras 15 foram hospitalizadas e morreram em seguida, aumentando para 24 as vítimas. Cerca de 2.000 pessoas ficaram desabrigadas e 1.038 casas foram destruídas. Segundo lado técnico, a “instabilidade da encosta" onde estava a barragem foi constatada ainda em 1997 e nada teria sido feito. Até hoje, ninguém foi responsabilizado pela tragédia.
Segundo o presidente da Avaba, Corcino Medeiros dos Santos, as vítimas ainda se recuperam do trauma e das perdas. “Os danos materiais e ambientais foram enormes. Todo mundo perdeu as casas e os animais, e a terra ficou imprestável. A indenização que era necessária para recompor mais rápido não foi paga ainda”, disse. Em maio de 2014, o Tribunal de Justiça condenou o Estado a pagar indenizações num valor total R$ 100 milhões às vítimas, mas o governo recorreu e aguarda nova decisão.
Outra tragédia ocorreu em 29 de março deste ano, quando quatro pessoas morreram no rompimento de uma barreira provisória da hidrelétrica de Santo Antônio, em Laranjal do Jari, no Amapá. O acidente foi causado pelo rompimento de uma braçadeira de uma barragem de desvio do rio.
Na Paraíba, em junho de 2004, cinco morreram por causa do rompimento da barragem de Camará, em Alagoa Nova. Cerca de 3.000 pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas.
Em Rondônia a PCH (Pequena Usina Hidrelétrica) de Apertadinho, em Vilhena, estava em fase final de obras em janeiro de 2008 quando a barragem se rompeu e causou assoreamento e deposição de detritos no rio e erosão do solo, entre outros estragos. Os danos ambientais se estenderam por 1.324 hectares. Até hoje, não há punição.
Campeão em rompimentos
Minas Gerais é o Estado com maior número de ocorrências nos últimos anos. Antes da tragédia de quinta-feira (5), o último incidente havia ocorrido em setembro de 2014, com o rompimento da barragem de uma mina em Itabirito. Três operários morreram e cinco ficaram feridos. O deslizamento de terra ocorreu em uma área destinada a depósito de rejeitos da Mineração Herculano. Outra barragem da empresa chegou a ser interditada porque também apresentava risco de ruir.
Em janeiro de 2007, a barragem com rejeitos da mineradora Rio Pomba Cataguases rompeu e inundou as cidades de Miraí e Muriaé com mais de 2 milhões de litros de lama de bauxita. Mais de 4.000 pessoas ficaram desalojadas e 1.200 casas foram atingidas. Um ano antes, em março de 2006, um outro vazamento durou três dias. Naquela ocasião, os 400 milhões de litros de resíduos de tratamento de bauxita -- água e argila -- atingiram um córrego da região e chegaram ao Rio de Janeiro.
Em 29 de março de 2003, outra barragem de rejeitos industriais em Cataguases se rompeu e despejou cerca de 1,4 bilhão de litros de lixívia negra, resíduo da produção de celulose, contaminaram o rio Paraíba do Sul e córregos próximos por 200 quilômetros, atingindo também o interior do Rio de Janeiro e deixando 600 mil pessoas sem água. Peixes e outros animais que viviam às margens dos rios morreram.
Em 2001, cinco operários morreram após rompimento de parte de uma barragem de contenção de minério em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte. A barragem de Macacos levou lama e resíduos de mineração, que encobriram dois quilômetros de uma estrada. O acidente também causou assoreamento, degradação de cursos hídricos e destruição de mata ciliar.
Segundo o jornal “Estado de Minas”, em 1986, em Itabirito, sete pessoas morreram no rompimento da barragem de rejeitos da Mina de Fernandinho, do grupo Itaminas. É o registro mais antigo do Estado, segundo a publicação.
Falta de estudos
Para o pesquisador aposentado do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e da Universidade Federal de Alagoas, Luiz Carlos Molion, o principal problema é que as barragens são construídas em áreas sem estudos prévios e não há inspeção contínua da situação das obras. “Talvez agora comecem a se preocupar mais com isso, mas nunca se fez barragem com a preocupação de quanta água pode ser colocada em cima da superfície”, afirmou.
Segundo Molion, é comum que as obras não tenham detalhes do subsolo. “Existem inúmeros casos no Brasil de construções que não se preocupam com isso e acabam criando desastres porque as sondagens não foram feitas de forma apropriada e as soluções de infraestrutura não foram adequadas”, disse.
O especialista afirma que a situação em Minas Gerais é mais grave por causa do solo. “Aquela região contem muitas cavernas; então, na medida em que vai se depositando água, ela cria pressão e o terreno vai acomodando -- o que produz pequenos abalos sísmicos, inferiores a 2 na escala Richter. Isso vai mexendo na estrutura. E nessa época do ano, aquela região recebe maior intensidade de chuva. Essa combinação de fatores causa um desastre.”
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