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"Veio um estrondo e não deu tempo de sair", diz padre que rezou missa em gruta

Bombeiros resgatam vítimas após desabamento de gruta em Santa Maria do Tocantins - Divulgação
Bombeiros resgatam vítimas após desabamento de gruta em Santa Maria do Tocantins Imagem: Divulgação

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

02/11/2016 16h40

O padre que celebrava a missa na gruta que desabou em Santa Maria do Tocantins (TO) e matou dez pessoas, nesta terça-feira (1º), contou que as vítimas não tiveram tempo de sair de dentro do local antes de serem atingidas pelas pedras e terra. Outras seis pessoas ficaram gravemente feridas, estão internadas em hospitais de Pedro Afonso e Palmas e não correm risco de morte.

Tocantins - localização de Santa Maria do Tocantins - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL
O acidente ocorreu durante a celebração do Dia de Todos os Santos, evento tradicional no município realizado na gruta Casa da Pedra. No local, estavam cerca de 50 pessoas, dez morreram soterradas e seis tiveram ferimentos graves ao serem atingidas pelas pedras. Entre os mortos, estão mãe e filhos, de 9 e 10 anos, que moravam em Itacajá.

“De repente, veio um estrondo e a poeira, não deu tempo de sair. Não caiu pedacinho de pó, de pedra, nada antes do desabamento. Caiu a chapa, de vez, e quem estava embaixo não teve tempo para sair”, relatou padre Rivonaldo da Silva Santos, em entrevista ao UOL nesta quarta-feira (2).

O padre disse que a missa tinha acabado poucos minutos antes e, em seguida, um grupo de pessoas entrou na gruta para rezar o terço. Foi neste momento que veio o barulho e as pessoas que estavam sentadas em bancos e no chão foram atingidas pelo desabamento.

Há décadas fiéis se reuniam em gruta de Santa Maria do Tocantins no dia 1º de novembro, como mostra foto de 2005 - UNITINS/NUTA/Divulgação - UNITINS/NUTA/Divulgação
Há décadas fiéis se reuniam em gruta de Santa Maria do Tocantins no dia 1º de novembro, como mostra foto de 2005
Imagem: UNITINS/NUTA/Divulgação
“Foi uma tragédia, realidade triste para nós. Sentimo-nos impotentes porque nada podemos fazer na hora para impedir que as pessoas morressem. As pessoas ficaram desesperadas e em pânico. Eu poderia estar lá também, se alguém tivesse chamado para conversar naquele local, mas estava falando com outro grupo perto do córrego -- questão de um metro”, disse Santos.

Enquanto o socorro não chegava, o padre contou que ajudou na separação dos feridos para que os mais graves fossem levados primeiro pelas ambulâncias. Segundo ele, carros das polícias civil e militar foram os primeiros a chegarem ao local. Em seguida, vieram ambulâncias da prefeitura. O local do acidente fica a 10 km da sede do município em uma propriedade particular.

“Foi um desespero, as pessoas gritavam e corriam sem sentido. Todos procurando pelos parentes e quem não achou sabia que estavam nos escombros. Instintivamente, elas queriam ir retirar as vítimas debaixo dos escombros, mas não sabíamos se havia risco de acontecer um novo desabamento. Foi angustiante ver aquilo tudo”, contou o padre.

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A igreja católica deverá realizar uma missa coletiva de sétimo dia em homenagem aos mortos da tragédia, mas ainda não tem local definido. O padre disse que aguarda a análise pericial para saber se a gruta continuará interditada ou se será liberada para visitação.

“Vamos conversar com a comunidade e definir se vamos fazer missa na igreja ou próximo ao local. Vamos esperar a pericia para definir se pode ter acesso a gruta ou não. Temos de pensar como vai ser prosseguimento da tradição da missa naquele local. A  fé e o sentimento que fica  não se pode romper de uma vez”, destacou.

A gruta está isolada e não se sabe se o acesso vai ser liberado para visitação. A gruta Casa da Pedra é um local de peregrinação de católicos porque há décadas teria sido encontrada uma santa no local e a imagem desapareceu. Como não se sabe o nome da santa, a aparição foi definida para Todos os Santos.