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Caminhoneiros desafiam Doria e Covas e fecham duas faixas da Paulista

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

11/05/2020 15h37Atualizada em 11/05/2020 22h55

Dezenas de caminhoneiros estacionaram seus veículos na avenida Paulista na tarde de hoje fechando duas faixas da via mais conhecida da cidade. Eles reclamam da quarentena implementada pelo governo do estado e pela prefeitura de São Paulo, pedem isolamento vertical e apoiam o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A fila de caminhões chegou a ter três quadras de extensão e, antes, houve carreata de vans. O protesto incluía um caixão com as imagens do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), e do governador do estado, João Doria (PSDB). Havia vários adesivos com a mensagem "fora Doria", principal alvo da manifestação.

Durante entrevista coletiva, o governador disse que não é contra manifestações, mas declarou que não aceita o fechamento de vias. Em protesto dez dias atrás, o prefeito de São Paulo afirmou que iria multar manifestantes que buzinassem nas imediações de hospitais.

Negociação com a PM

Na chegada dos manifestantes à avenida Paulista, a PM (Polícia Militar) negociou para que os manifestantes deixassem o local às 15h30, quando seriam escoltados até deixar a cidade.

Nesse horário, o motorista de um caminhão vermelho com um adesivo escrito "vírus chinês" no para-brisas entrou em seu veículo. Um colega, contudo, anunciou que não sairia do local porque respeitar o prazo da PM seria acatar as ordens de João Doria.

Dois companheiros concordaram e, na mesma hora, o trio correu para a frente do caminhão vermelho, então o primeiro da fila, onde os caminhoneiros se reuniram. Eles convenceram cerca de 20 pessoas a sentarem-se no asfalto, impedindo a dispersão da manifestação.

Os policiais militares acompanharam da calçada. Um capitão comentou que os manifestantes estavam quebrando um acordo e, visto que nenhum motor foi ligado até às 15h45, atravessou a rua. Antes, havia dito que autuaria os caminhoneiros e usaria os meios necessários para a dispersão caso o protesto não acabasse.

Diante do caminhão vermelho, conversou com um dos homens, que disse que não arredaria pé. Escutou uma resposta atravessada do capitão da PM e devolveu no mesmo tom. Diante do apoio dos demais manifestantes, criou-se um impasse.

Sentindo que tinha respaldo, o homem vociferou que era oficial do Exército e exigia respeito de um oficial da PM. Em seguida, virou as costas e agiu como se o policial não existisse.

Outro oficial da PM entrou com discurso de parcimônia e foi acompanhado pelo motorista do caminhão vermelho. Com atraso de meia hora, o protesto se encerrava com o homem reclamando da "polícia de João Doria".

Caminhoneiros na Paulista - Felipe Pereira/UOL - Felipe Pereira/UOL
Imagem: Felipe Pereira/UOL

Everton Antunes, Jobelzinho, 38 anos, explicou que os caminhoneiros passam dificuldades e as medidas afetam a vida de pais de família.

"A gente precisa trabalhar. Não somos contra fechar comércio, mas precisamos ter liberdade. A gente quer quarentena naquele esquema vertical. A gente cansou, estamos de saco cheio. A gente queria o impeachment do governador", afirmou.

Junto a eles, existem vários carros com placa final par, o que é proibido pelo rodízio ampliada que começou hoje.

Governo lamenta protesto diante de mortes pela covid-19

Em nota, a Secretaria de Logística e Transportes do governo do estado informou que "não há restrições por parte do governo de São Paulo ao trabalho dos caminhoneiros".

"Contudo, a Secretaria lamenta que a manifestação seja contra o isolamento social em um momento em que o novo coronavírus já matou 3.743 pessoas no estado. A manutenção da quarentena é essencial para que o sistema de saúde comporte a demanda de pacientes e não aconteçam ainda mais óbitos", diz o texto.

caminhoneiros paulista - Felipe Pereira/UOL - Felipe Pereira/UOL
Imagem: Felipe Pereira/UOL

Leia a íntegra:

A Secretaria de Logística e Transportes informa que não há restrições por parte do Governo de São Paulo ao trabalho dos caminhoneiros, pelo contrário, foi criada uma força-tarefa, no início da pandemia, para ajudar a categoria a manter os serviços pelas rodovias paulistas.

O diálogo tem sido permanente e diversas medidas já foram anunciadas em respeito aos caminhoneiros, que exercem um trabalho fundamental ao país. Contudo, a Secretaria lamenta que a manifestação seja contra o isolamento social em um momento em que o novo coronavírus já matou 3.743 pessoas no estado. A manutenção da quarentena é essencial para que o sistema de saúde comporte a demanda de pacientes e não aconteçam ainda mais óbitos.

Medidas anunciadas:

  • Criação de Canal de Denúncias 24h para que caminhoneiros denunciem fechamentos de serviços essenciais e bloqueios em rodovias. 0800 055 5510 ou e-mail - abastecimentoseguro@sp.gov.br;
  • Vacinação contra a gripe, iniciada dia 07, para caminhoneiros nas rodovias estaduais;
  • Distribuição de mais de 140 mil kits de alimentação para caminhoneiros nas rodovias;
  • Entrega de 25.850 adesivos eletrônicos para o pagamento automático de pedágios a caminhoneiros. Medida elimina o contato físico e o risco de contaminação pelo novo Coronavírus. A isenção das mensalidades traz ainda agilidade no serviço e economia ao caminhoneiro;
  • Suspensão das pesagens nas rodovias para agilizar as entregas e evitar o risco de contágio;
  • Liberação de espaços nos postos de pesagem das rodovias para apoio e descanso de caminhoneiros;
  • Liberação do acesso de caminhões aos domingos à tarde na chegada pelas rodovias a São Paulo. Antes esse acesso era proibido;
  • Criação do site www.abastecimentoseguro.sp.gov.br, que traz uma série de informações essenciais para orientar os caminhoneiros: pontos de distribuição dos kits de alimentação, informações sobre a situação dos postos de abastecimento e locais com restrição de circulação.

A reportagem procurou a prefeitura de São Paulo. O posicionamento será incluído nesta reportagem.