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Paciente de covid-19 volta a Manaus 80 dias após transferência para o RJ

Alison França, de 38 anos, foi transferido para o RJ por falta de leitos no Amazonas - Reprodução/Arquivo Pessoal
Alison França, de 38 anos, foi transferido para o RJ por falta de leitos no Amazonas Imagem: Reprodução/Arquivo Pessoal

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

27/04/2021 16h13Atualizada em 27/04/2021 17h11

Depois de quase 3 meses internado no Rio de Janeiro, Alison de Almeida França, de 38 anos, conseguiu vencer a covid-19 e voltou na noite de ontem (26) para sua cidade natal, Manaus.

O paciente passou 82 dias no Hospital Federal dos Servidores do Estado, no centro do Rio, para tratar o vírus e suas consequências, sendo transferido para o sudeste devido à falta de leitos no Amazonas.

Os primeiros sintomas da covid surgiram quando Alison estava aproveitando o final das férias com a família em Santa Catarina, no final de janeiro. Tudo começou com sintomas de resfriado mas, mesmo assim, dois dias depois ele retornou para casa.

Em pouco tempo surgiu a febre, o mal-estar e a situação se agravou a ponto de o homem ter falta de ar, tosse e dor no peito. Ele procurou atendimento em uma unidade básica de saúde, mas devido à falta de estrutura foi orientado a procurar o Hospital Estadual de Manaus, com serviço de pronto atendimento.

Depois de chegar ao local já com baixa saturação, ele precisou ser internado às pressas, mas ficou no aguardo de um leito de terapia intensiva para atendê-lo.

"O problema do oxigênio já tinha sido resolvido, mas faltavam leitos de UTI. Uma equipe do Ministério da Saúde ofereceu a mim e a outros pacientes para receber o tratamento em outro estado, no Rio de Janeiro. Não poderia ficar lá esperando, aceitei sem pensar duas vezes. Fui com máscara de oxigênio no avião com mais 20 pessoas", contou Alison em entrevista para o UOL.

Ao todo, foram 85 dias longe da família na luta contra o vírus. Assim que chegou no Rio, o paciente ficou no Hospital Federal do Andaraí e no dia seguinte foi transferido para o Hospital Federal dos Servidores do estado, onde ficou internado até a tarde de ontem.

internacao rj - Reprodução/Arquivo Pessoal - Reprodução/Arquivo Pessoal
Família de Alison preparou surpresa para recebê-lo de volta após internação
Imagem: Reprodução/Arquivo Pessoal

O manauara ficou intubado em estado grave por 30 dias. Quando acordou, precisou lidar com outro problema, a chamada Síndrome Pós- Covid.

"Eu não conseguia movimentar nada no meu corpo depois que saí da sedação. Fui transferido para o CTI Geral e passei a ter acompanhamento com fisioterapeuta, médicos, nutricionistas e o pessoal da enfermagem. Demorei uns 30 dias até começar a levantar e andar, mas ainda assim não tenho muita firmeza nas pernas. Voltei para casa de cadeira de rodas e vou precisar continuar a fisioterapia em Manaus. Além disso, tive alteração no paladar e queda de cabelo. Vou ficar careca", contou Alison.

O médico responsável pelo tratamento do manaura, Everardo Amorim, explicou que o paciente teve dificuldades no "desmame" do respirador, devido a atrofia muscular pelo tempo de inatividade dos pulmões provocado pela doença.

"A síndrome respiratória aguda grave deixa como principal sequela as lesões pulmonares de graus variáveis. Pode provocar distúrbios de coagulação (hipercoagulabilidade) em praticamente todos os órgãos do corpo, causando embolias pulmonares e embolias arteriais, para os membros inferiores, superiores e AVC isquêmico", explicou o chefe do CTI.

Segundo o Ministério da Saúde, o Rio de Janeiro recebeu 96 pacientes vindos de Manaus, sendo 74 para tratar o Coronavírus e 22 para o tratamento de câncer no INCA.

Casado e pai de uma filha de 20 anos, Alison contou que a saudade da família era constante: "Depois que consegui movimentar o braço, passei a mexer no celular. Sempre fazia chamada de vídeo e ligava dizendo que estava doido para voltar pra casa. Era a única forma de matar a saudade".

Ele ainda recebeu o carinho de todos da equipe na hora de se despedir. Ganhou bolo, balões feitos de luvas, homenagens e aplausos: "Fui muito bem tratado e logo nos primeiros dias depois da sedação, encontrei pessoas extremamente humanas, que se importam mesmo com o próximo. Isso fez total diferença na minha recuperação. Tenho certeza que não teria recebido o mesmo tratamento na minha cidade".

O agora ex-paciente chegou ao aeroporto na noite de ontem e foi recebido pela família com placas e faixas de boas vindas.

"A melhor parte da recuperação é voltar para casa e melhorar 100%. Foi emocionante. É muito bom saber que a gente é amado pela família. O resto agora é correr atrás", completou.