'Fui pegar meu diploma, fiquei nervosa e minha boca grudou na gengiva'
A empresária Ana Carolina Abichequer, 26, viveu em sua formatura momentos de tensão que hoje se transformaram em risadas.
Graduada em direito pela PUC-RS, Ana ficou tão nervosa na hora de receber o diploma que acabou com o lábio grudado na gengiva e saiu nas fotos de uma forma, no mínimo, peculiar.
O caso ocorreu em 2019, mas se tornou público este ano, quando ela decidiu compartilhar as fotos da cerimônia nas redes sociais.
"Não queria mostrar para ninguém, não deixava meu namorado ver, porque tinha muita vergonha. Até que mostrei e ele morreu de rir. Depois, minha mãe e amigas próximas também viram e acharam muito engraçado. Chegou a um ponto que algumas meninas que eu nem conheço disseram que viram o vídeo da formatura, que riram muito e pediram para eu publicar nas redes que ia viralizar. Dito e feito."
Em um mês, o vídeo de Ana chegou a mais de um milhão de visualizações no TikTok. "Chorando de rir, mas com mais um medo desbloqueado", disse uma mulher nos comentários.
O que aconteceu, afinal?
Quando são situações assim, fico nervosa. Naquele dia, tomei uma bebida [alcoólica] antes de subir para dar uma relaxada e fiquei bem na primeira fileira, que era uma das últimas a receber o diploma. Era janeiro, calorão, os canhões de luz estavam bem na nossa frente. Todo mundo ficou com a boca seca, inclusive eu.
A cerimônia ocorreu sem muitos problemas, mas, quando a vez de ela pegar o diploma se aproximava, Ana sentiu o rosto mudar.
Minha boca começou a tremer e levantar. Foi primeiro de um lado, depois do outro. Eu fiquei: 'O que é isso?'. Aí olhei para minhas colegas e percebi que, em seguida, já era eu [que teria de pegar o diploma]. Elas começaram a rir e perguntar o que estava acontecendo. Ninguém entendeu. Minha boca tinha grudado completamente na gengiva.
Ana tentou esconder a situação nas fotografias, mas não conseguiu.
Tentei fugir. Fui pegar o diploma com a mão na boca. Não tinha nada que eu fizesse que descolasse ela da gengiva: tentei molhar com a saliva, puxar com a mão. Minha mãe, depois, me contou que me via de longe tentando desprender a boca. Os caras que gravavam a cerimônia tiveram pena de mim e não me colocaram no telão. Eu ficava perguntando para os professores o que estava acontecendo comigo.
Com o canudo em mãos, Ana retornou ao lugar e percebeu que a boca já tinha voltado ao normal. "Foi só questão de pegar o diploma. Quando voltei, a boca soltou."
O momento, no entanto, teve registros. Ela comenta que não queria rever as imagens, mas, ao saber que elas entreteriam muita gente, perdeu a vergonha de mostrar. "Mudei bastante. Não me importei mais com isso. Fiquei feliz por divertir muita gente."
Desde então, a empresária nunca mais teve a boca grudada na gengiva.
Às vezes, quando colocam muita atenção em mim, tipo um fotógrafo, sinto minha boca seca, mas nunca daquele jeito. Brinco que meu maior medo é que aconteça no meu casamento ou quando tiver filhos
Qual a causa?
Ana disse ter consultado informalmente, na época, parentes próximos que tinham formação em medicina. Segundo ela, a suspeita era a de um caso de espasmo hemifacial — o diagnóstico, no entanto, não foi comprovado.
O espasmo hemifacial ocasiona uma contração muscular involuntária de metade do rosto. O neurologista José Maria de Campos Filho, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que o quadro ocorre ao longo da vida, não tem solução rápida e afeta os três andares do rosto: face, olhos e boca.
É um movimento automático que pode acontecer inclusive no sono. A contração ocorre nessas três áreas, não apenas na boca. Geralmente é indolor e não é possível de ser controlada. As causas não são muito bem definidas. Pode ser uma condição secundária a algumas situações como quadro infeccioso de um nervo
José Maria de Campos Filho
A condição não tem cura, mas tratamento — que depende da causa. Entre as opções está aplicar botox para bloquear músculos da face. "Não é questão estética, mas um tratamento neurológico", diz o médico. Remédios anticonvulsivos também podem ser receitados.
O diagnóstico, por sua vez, só ocorre depois de uma consulta médica e exames de imagem.
A situação vivida por Ana pode ter outras causas. "O que pode acontecer e que tem resolução espontânea são as alterações vasculares. Além disso, também é possível ser um tique ou ainda alterações de ansiedade", explica.
Independentemente da causa, movimentos automáticos precisam de uma avaliação de um médico porque existe uma gama de diagnósticos que precisam ser excluídos
José Maria de Campos Filho
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