Guarujá : Famílias de vítimas têm medo de falar, diz presidente de conselho

O presidente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), Dimitri Sales, relatou que tem encontrado dificuldade em colher denúncias e conversar com familiares de vítimas da chacina no Guarujá (SP) por causa do clima de medo na cidade. Ao menos 12 pessoas morreram em supostos confrontos com a polícia, segundo o governo.

O que aconteceu:

Representantes do conselho estiveram no Guarujá ontem para monitorar o caso. Sales contou que tentou acompanhar parentes das vítimas, mas os contatos feitos "não foram para frente" após relatos de ameaças e abusos por parte dos policiais. Ao menos duas mortes foram registradas ontem segundo o delegado Antônio Sucupira, titular da delegacia do Guarujá.

As pessoas estão com medo, há um receio de falar. Se não devolver a situação de tranquilidade a gente não vai conseguir fazer a apuração. É urgente que isso aconteça
Dimitri Sales, presidente do Condepe

Policiais negam chacina. O presidente do conselho diz que esteve na delegacia e conversou com quatro policiais —todos recusam a tese de massacre e afirmam que haverá uma apuração rigorosa sobre o caso. "Para nós há uma chacina motivada por vingança", diz Sales, referindo-se ao assassinato do soldado da Rota Patrick Reis. O suspeito de atirar contra ele foi preso no domingo.

O Condepe pediu designação de grupo especial para apurar o caso. O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Sarrubbo, confirmou à Folha que o Gaesp (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública) vai trabalhar em conjunto com três promotores da Baixada Santista na investigação junto ao Ministério Público. O órgão vai instaurar um procedimento para analisar a legalidade da Operação Escudo, deflagrada após a morte de Reis.

O Condepe tem como finalidade investigar possíveis violações de direitos humanos no estado, encaminhar casos às autoridades e acompanhar as providências adotadas. O órgão possui autonomia e é integrado à secretaria de Justiça e Cidadania.

Moradores relatam abuso de autoridade e crimes

Marca de tiro na Vila Baiana, no Guarujá, após chacina
Marca de tiro na Vila Baiana, no Guarujá, após chacina Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Moradores da Vila Baiana, comunidade no Guarujá, disseram ao UOL ter testemunhado um crime e relatam casos de abuso de autoridade. Marcas de sangue ainda estavam na parede de uma das vielas do local e perfurações de tiro nas paredes, além de uma cápsula de bala no chão.

Continua após a publicidade

O vendedor ambulante Felipe Vieira Nunes, 30, teria sido torturado e assassinado por policiais da Rota. Ele saiu de casa para comprar cigarro na noite de sexta-feira (28), segundo relatos de parentes e vizinhos.

Todas as mortes em decorrência das ações policiais estão sendo "rigorosamente investigadas", afirmou a SSP (Secretaria de Segurança Pública). As apurações estão sendo conduzidas pela Deic (Divisão Especializada de Investigações Criminais) de Santos e pela própria Polícia Militar, segundo a pasta.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.