Tiro no peito enquanto pulava na cama: o que se sabe sobre morte de Eloá

A menina Eloá da Silva dos Santos, de 5 anos, morreu baleada com um tiro no peito enquanto brincava dentro de casa na manhã do último sábado (12), na Ilha do Governador, na zona norte do Rio de Janeiro, após duas ações policiais no local. Moradores afirmam que o tiro partiu de policiais militares.

A criança foi socorrida por familiares ao Hospital Municipal Evandro Freire, mas já chegou morta ao local, segundo a unidade.

O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital e 37ª DP. A PM diz que não havia operação policial no interior da comunidade e que policiais só foram informados sobre a criança baleada após manifestantes terem ateado fogo em um ônibus onde outro jovem de 17 anos já havia sido morto.

Tiro no peito

Uma prima de Eloá contou que a menina estava "brincando, pulando na cama", quando foi atingida. A família da criança havia feito uma festinha na sexta-feira (11) para comemorar o "mesversário" da irmã da menina, disse a prima Indiane Passos em entrevista à GloboNews.

Tava em casa brincando, pulando na cama, comendo os doces do 'mesversário' da irmã dela, que foi ontem. Ontem foi festa, e hoje é só tristeza pra gente.
Indiane Passos, prima de Eloá Passos

Tiro acertou Eloá no peito. "A gente pensou que era um tiro na perna, de raspão. Meu irmão depois ligou falando que não era na perna e não era de raspão. Foi justamente no peito", contou Indiane.

Havia outras crianças na casa no momento dos tiros, segundo João Luis Silva, articulador da ONG Rio de Paz e membro da Comissão de Direitos Humanos da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Ele esteve com familiares da vítima.

Ainda de acordo com Silva, a família de Eloá Passos está vivendo um momento de "tristeza, indignação e revolta".

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Além da menina, um jovem de 17 anos morreu baleado. Segundo a Polícia Militar, o rapaz estava armado e foi atingido em uma troca tiros com policiais do Batalhão da Ilha do Governador.

Comandante de Batalhão afastado

A Secretaria Estadual da Polícia Militar do Rio de Janeiro afastou o comandante do 17º BPM (Batalhão da Polícia Militar) da Ilha do Governador.

A medida foi tomada para "dar uma maior lisura e transparência à averiguação dos fatos", disse a secretaria, por nota.

15ª criança morta a tiros em dois anos no Rio

Nos dois últimos anos, 15 crianças ou adolescentes foram mortas por armas de fogo a maioria por balas perdidas, segundo a ONG Rio de Paz. Um desses casos foi um acidente com munição. Nesse ano, foram contabilizados 11 casos, sendo dez referentes a balas perdidas e um em que houve um acidente com munição.

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O nome de Eloá será colocado no mural em memória das crianças e policiais mortos fixado na ciclovia da Lagoa Rodrigo de Freitas, ainda segundo a instituição.

Já a região metropolitana do Rio de Janeiro registrou ao menos 601 crianças e adolescentes baleados nos últimos sete anos. Desse total, 286 foram atingidos em ações policiais — o que representa 47,5%. Os dados fazem parte de um levantamento do Instituto Fogo Cruzado.

O levantamento mostra que 267 crianças e adolescentes foram mortos e 334 ficaram feridos no período analisado — entre 5 de julho de 2016 e 8 de julho de 2023.

As ações e operações policiais foram o principal motivo para vitimar crianças e adolescentes nos últimos sete anos. Entre as 601 vítimas, 286 foram atingidas nestas circunstâncias — resultando na morte de 112 e deixando outras 174 feridas.

O que dizem a polícia e o governo

A Polícia Militar afirmou que uma equipe do 17° BPM abordou dois homens em uma motocicleta, na rua Paranapuã, na Ilha do Governador. Na versão da corporação, "o ocupante de carona portava uma pistola."

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"O indivíduo [na carona] disparou contra a equipe [policial], e houve revide", de acordo com os policiais que atuaram na ação.

O homem que estava na carona da moto, na verdade, tinha 17 anos. Ele morreu. Já a pessoa que pilotava a motocicleta foi levada à 37ª DP para prestar esclarecimentos, segundo a Secretaria de Estado de Polícia Militar.

Após a troca de tiros, um grupo de manifestantes "ateou fogo em um ônibus na rua Paranapuã", diz a PM. O Batalhão de Rondas e Controle de Multidão (RECOM) e o Corpo de Bombeiros foram acionados.

O 17° BPM diz ter sido informado "sobre uma criança baleada no interior da comunidade do Dendê". Era Eloá, que foi socorrida por familiares.

Segundo a PM, "não havia operação policial no interior da comunidade." A corporação disse também que "o comando da unidade instaurou um procedimento apuratório para averiguar a conjuntura das ações e a corregedoria da corporação acompanha os trâmites."

Ainda segundo a PM, as imagens das câmeras corporais dos policiais serão disponibilizadas para auxiliar as investigações.

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O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital e 37ª DP.

Já o governo do estado Rio informou que investe nas forças de segurança, "principalmente em tecnologia e treinamento". "Na atual gestão houve redução histórica dos crimes contra a vida. No acumulado de 2022, foram registrados os menores números de homicídios dolosos (intencionais) e de letalidade violenta em 31 anos, desde o início da série histórica do Instituto de Segurança Pública.

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