Menina de 5 anos baleada é a 15ª criança morta a tiros em 2 anos no Rio
A menina Eloá, de 5 anos, que morreu baleada enquanto brincava dentro de casa, na manhã deste sábado (12), na Ilha do Governador, na zona norte do Rio de Janeiro, é a 15ª criança que morre atingida por arma de fogo nos últimos dois anos em todo o estado. O monitoramento é realizado pela ONG Rio de Paz, que contabiliza vítimas de 0 a 14 anos.
O que aconteceu
Nos dois últimos anos, foram 15 crianças ou adolescentes mortas por armas de fogo — a maioria por balas perdidas, segundo a ONG. Um desses casos, foi um acidente com munição. Nesse ano, foram contabilizados 11 casos, sendo dez referentes a balas perdidas e um em que houve um acidente com munição.
O nome de Eloá será colocado no mural em memória das crianças e policiais mortos fixado na ciclovia da Lagoa Rodrigo de Freitas, segundo a Rio de Paz.
Além da menina, um jovem de 17 anos morreu baleado hoje. Segundo a Polícia Militar, o rapaz foi atingido em uma troca tiros. Na versão da corporação, dois homens em uma moto atiraram contra policiais do Batalhão da Ilha do Governador após uma abordagem durante a madrugada — o que estava na guarupa foi baleado e levado ao Hospital Municipal Evandro Freire.
Após a ação, manifestantes tomaram a rua Paranapuã, onde o jovem foi morto, e atearam fogo em um ônibus. A PM afirma que atua, desde às 12h30, no patrulhamento da região para evitar obstrução de vias.
A PM diz que policiais foram informados sobre a criança de cinco anos baleada somente após a manifestação. Ela foi socorrida por familiares ao Hospital Municipal Evandro Freire após ser atingida dentro de casa, mas já chegou morta ao local, de acordo com a unidade.
Nesta semana, Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, foi assassinado na Cidade de Deus, na segunda-feira (7). Segundo testemunhas, os disparos partiram de um PM durante uma operação policial. A PM do RJ diz ter ocorrido um confronto.
Crianças e adolescentes atingidos em ação policial
A região metropolitana do Rio de Janeiro registrou ao menos 601 crianças e adolescentes baleados nos últimos sete anos. Desse total, 286 foram atingidos em ações policiais — o que representa 47,5%. Os dados fazem parte de um levantamento do Instituto Fogo Cruzado.
O levantamento mostra que 267 crianças e adolescentes foram mortos e 334 ficaram feridos no período analisado — entre 5 de julho de 2016 e 8 de julho de 2023.
As ações e operações policiais foram o principal motivo para vitimar crianças e adolescentes nos últimos sete anos. Entre as 601 vítimas, 286 foram atingidas nestas circunstâncias — resultando na morte de 112 e deixando outras 174 feridas.
315 crianças e adolescentes foram atingidos em disputas entre grupos armados, em execuções, homicídios, tentativas de homicídio, brigas, vítimas de disparos acidentais e ataques a civis.
"Os dados precisam ser levados em conta para o planejamento da segurança pública", afirma Cecília Olliveira, do Fogo Cruzado. "Não podemos deixar essas histórias se perderem. Nosso esforço é também de memória, porque sem ela a sociedade não se mobiliza."
A história do Rio de Janeiro é marcada por crianças e adolescentes mortos e feridos. A gente sabe que não são casos isolados. Ágatha Félix, Maria Eduarda, João Pedro, Kauã, Alice, Emilly e Rebecca. Todo mundo lembra de um destes nomes.
Cecília Olliveira, diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado
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