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'Cenário de guerra' no RS: moradores perdem tudo e temem chuvas do feriado

A passagem de um ciclone extratropical pelo Rio Grande do Sul deixou famílias sem casa, sem pertences, sem possibilidade de trabalhar e apreensivas: a promessa de mais chuvas para os próximos dias já gerou um novo alerta da Defesa Civil do estado.

Moradores das cidades vizinhas de Lajeado e Cruzeiro do Sul, a cerca de 120 km de Porto Alegre, relataram ao UOL que o cenário é de destruição. A Defesa Civil relatou 10,5 mil desalojados e desabrigados.

Cena de guerra, de catástrofe, de tornado.
Cassiane dos Santos, 37, auxiliar de enfermagem

Cassiane e a família tentaram se antecipar às chuvas em Cruzeiro do Sul e chegaram a levantar móveis para preservá-los. Porém, a força do rio Taquari fez com que eles tivessem que sair às pressas do local no começo da manhã de ontem (6), quando a casa foi tomada pela enchente.

[Um vizinho] veio com o barco e nos tirou de dentro da minha casa. Minha mãe teve que sair pela janela do meu quarto. Como ela é uma pessoa idosa e já sofreu dois AVCs [acidentes vasculares cerebrais], ela tem a locomoção já bem reduzida. Nós a arrastamos para dentro do barco.
Cassiane dos Santos, moradora de Cruzeiro do Sul (RS)

Casa de auxiliar de enfermagem em Cruzeiro do Sul (RS) foi tomada pelas águas; quase todos os móveis foram levados pela correnteza
Casa de auxiliar de enfermagem em Cruzeiro do Sul (RS) foi tomada pelas águas; quase todos os móveis foram levados pela correnteza Imagem: Arquivo pessoal

A estrutura da casa de Cassiane resistiu, mas a maioria dos móveis e eletrodomésticos foi levada pela correnteza e se misturou aos pertences de vizinhos.

É uma casa térrea, uma casa financiada. Nós estamos pagando por ela e perdemos todos os móveis. A estrutura da casa se manteve em pé —a única coisa que foi derrubada foi o muro dos fundos, por onde a correnteza entrou, invadiu e levou tudo embora. Levou a geladeira, forninho, micro-ondas, levou tudo, tudo. Não sobrou nada dentro de casa. Só alguns fios da internet.

Com medo ante a expectativa de mais chuvas, Cassiane —que está abrigada com o marido, a mãe e a irmã na casa de uma tia em Lajeado— ainda não conseguiu voltar à cidade devido à quantidade de entulho nas estradas.

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Ela também não sabe quando vai poder voltar ao trabalho no Hospital de Cruzeiro do Sul. A região sofre com falta de água e energia.

Dá vontade de chorar, de se desesperar, de sair correndo, fechar a casa e sair, procurar outro lugar, porque a gente não tem mais ânimo para nada. Estamos cansados, um cansaço mais emocional mesmo, de ver as coisas indo embora. A gente trabalhou a vida inteira para conseguir um cantinho, vem essa desgraça e acaba com tudo.

Abrigo em cima de um ônibus

José Carlos Marques, 23, passou a madrugada de terça-feira (5) em cima de um ônibus, em Lajeado, após ficar ilhado ao ajudar o patrão a tentar salvar mercadorias da frutaria onde trabalha.

Moradores de Lajeado (RS) ficaram ilhados em cima de ônibus na madrugada de terça-feira (5)
Moradores de Lajeado (RS) ficaram ilhados em cima de ônibus na madrugada de terça-feira (5) Imagem: Reprodução/Redes sociais

"Nós estávamos guardando as coisas, mas não deu mais tempo de sairmos. Meu patrão falou para ficarmos em cima do ônibus, era o único lugar que a gente tinha para ficar. Ficamos da segunda para a terça-feira até o meio-dia. Acabou a bateria do telefone, acabou a internet, acabou tudo", disse o rapaz.

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A frutaria em que Marques trabalhava colapsou, disse o jovem, e a água subiu 50 cm na casa em que ele mora com os pais —um local em que "a água nunca chegou". Eles perderam eletrodomésticos da cozinha e a máquina de lavar.

Tragédia já é o maior desastre natural do RS

Até o momento, são 41 mortos no Rio Grande do Sul e 1 em Santa Catarina. O estado gaúcho está sob decreto de calamidade pública estadual e federal, conforme anunciado pelo governo federal.

Até a noite de ontem, 3.037 pessoas foram resgatadas nos 83 municípios atingidos pelas fortes chuvas.

Ajuda com doações

A Defesa Civil divulgou que está aceitando doações de materiais de higiene pessoal e limpeza, além de cestas básicas, agasalhos e roupas de cama.

Os materiais podem ser entregues na Central de Doações, que fica na avenida Borges de Medeiros, 1.501, em Porto Alegre, das 9h às 15h. Outros pontos também foram destinados:

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  • Palácio Piratini (Praça Mal. Deodoro, s/nº - Porto Alegre);
  • Quartéis da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros;
  • Prefeituras dos municípios do RS;
  • Agências do Banrisul;
  • Pontos de doação da campanha do agasalho.

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