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Pacheco diz que Senado 'não será mero chancelador de interesses do governo'

Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) - Pedro França/Agência Senado
Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) Imagem: Pedro França/Agência Senado

Do UOL, em Brasília

14/10/2022 04h00

A poucos meses do fim da gestão na Presidência do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) disse ao UOL que a Casa não vai referendar qualquer projeto apenas porque é de interesse do governo de Jair Bolsonaro (PL).

"O Senado não será mero chancelador de interesses do governo. E a responsabilidade não é apenas da Presidência do Senado. Há projetos, em função de suas inconsistências, que enfrentam dificuldades por falta de consenso no Parlamento", disse.

Na lista de prioridades bolsonaristas que estão travadas no Senado estão o projeto que flexibiliza o uso de agrotóxicos, conhecido como PL do Veneno, a proposta que regulamenta o homeschooling, o texto que acaba com as saídas temporárias de presos e a matéria que trata da regularização fundiária.

Essas pautas avançaram na Câmara, mas não andaram no Senado — o que é, recorrentemente, alvo de críticas de aliados de Bolsonaro. Questionado, Pacheco disse que os parlamentares que criticam a gestão dele à frente do Senado não elogiaram quando, por exemplo, a Casa aprovou medidas de redução do preço de combustíveis e o Auxílio Brasil de R$ 600.

Ambas as medidas foram defendidas por Bolsonaro durante a campanha eleitoral por sua reeleição.

Pacheco adotou uma postura de independência em relação ao Palácio do Planalto, diferentemente do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), principal aliado do presidente no Congresso.

Distanciamento. Eleito em 2020 ao cargo com o apoio de Bolsonaro, Pacheco se distanciou do governo no ano seguinte, no início da pandemia, quando foi aberta no Senado a CPI da Covid-19, instalada para investigar a conduta do Executivo no combate à doença do coronavírus.

O parlamentar resistiu às declarações do chefe do Executivo de ataques ao Congresso e até rejeitou um pedido de impeachment protocolado por Bolsonaro contra Alexandre de Moraes, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).

2023 na mira. O distanciamento entre Pacheco e Bolsonaro coloca em xeque, inclusive, uma possível reeleição do senador à Presidência do Senado. Isso porque, nas eleições de 2 de outubro, foram eleitos cinco ex-ministros do governo e outros nomes fortes da cúpula bolsonarista — entre eles Damares Alves (Republicanos).

O PL, sigla de Bolsonaro, conseguiu emplacar 14 nomes e substituiu o MDB do posto de maior bancada da Casa. Segundo o líder do governo na Casa, Carlos Portinho (RJ), o grupo pode chegar ainda a 19 integrantes — cinco novos senadores migrariam para a legenda se Bolsonaro vencer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno.

Os novatos deram fôlego à base bolsonarista na Casa e, nos bastidores, já há uma movimentação para emplacar um nome à Presidência contra Pacheco. A ex-ministra Damares já anunciou que gostaria de concorrer ao posto, mas há outros nomes, inclusive entre os liberais, que almejam o cargo — Portinho é um deles.

Modo de espera. Aliados do parlamentar mineiro afirmaram à reportagem que o senador aguarda o resultado da disputa em segundo turno ao Palácio do Planalto para negociar a pauta no Senado.

Pacheco decidiu não formalizar apoio a nenhum dos candidatos a presidente da República e aguarda em "modo de espera" para avançar com as conversas nas bancadas pela reeleição. Os projetos de interesse do governo, se tiverem adesão entre os parlamentares, também entrariam como negociação para o ano seguinte.

Na semana passada, o senador foi procurado por colegas petistas para tentar ampliar o apoio de Lula no estado mineiro. Pacheco não comentou o teor da conversa e seu partido, o PSD, anunciou que liberaria os filiados para apoiarem tanto o atual presidente como o candidato petista.

Impacto da eleição. Para o cientista político André César, se o presidente Jair Bolsonaro conseguir ser reeleito, Pacheco terá resistência para sua reeleição à Presidência do Senado. Mas acredita que o senador poderá negociar com o governo, justamente por entrar na segunda metade de seu mandato e tentar viabilizar sua "sobrevivência política".

"Pacheco tem um perfil mais ponderado e ele transita muito bem nas bancadas. Ele é um político experiente e sabe que esse entendimento vai ser muito importante para entrar no cálculo político de uma eventual vitória de Bolsonaro. Mas, caso Lula vença, ele terá maiores condições de disputar a reeleição à Presidência com um apoio maios das bancadas".