EUA suspeitam de ligação entre uso de relógio Casio e terrorismo, aponta WikiLeaks
Militares norte-americanos responsáveis por interrogar e avaliar a periculosidade dos detentos na prisão de Guantánamo são orientados a identificar um modelo de relógio de pulso Casio como sinal de possível ligação com terrorismo, de acordo com documentos secretos vazados esta semana pelo site WikiLeaks.
A informação aparece no documento militar intitulado “Matriz de indicadores de ameaça para combatentes inimigos”, de uso interno da prisão norte-americana de Guantánamo, que foi vazado pelo WikiLeaks e publicado hoje pelo site do jornal britânico “Guardian”.
“Abaixo estão indicadores usados na avaliação de detentos de Guantánamo para determinar suas capacidades e intenções em apresentar uma ameaça terrorista se lhe for dada a oportunidade”, indica o texto.
Em seguida, o documento afirma que “detalhes na captura do detento podem fornecer indicadores de participação em ou suporte a ações hostis aos EUA e aliados” e pede atenção para os itens portados no momento da detenção, tais como “grandes somas de dinheiro” ou “rádio de comunicação militar”.
O primeiro item desta lista de objetos “suspeitos” é justamente um popular relógio de pulso Casio modelo F-91W. “A posse de um Casio F-91W ou da versão prateada deste modelo, o A159W, é um indicador de treinamento da Al Qaeda na manufatura de explosivos caseiros”, afirma o documento.
Relógio terrorista
“É sabido que o [relógio] Casio é fornecido para estudantes que frequentam os cursos de fabricação de bombas da Al Qaeda no Afeganistão, nos quais os alunos recebem instruções na preparação de temporizadores com o relógio”, detalha o manual militar.
“Aproximadamente um terço dos detentos de Guantánamo que foram capturados com esses modelos de relógio têm conhecidas conexões com explosivos, seja porque frequentaram treinamentos com explosivos, seja por associação com locais onde explosivos artesanais eram fabricados, seja por associação com uma pessoa identificada como especialista em explosivos”, acrescenta.
Dezenas de fichas de detentos de Guantánamo confirmam a atenção dispensada pelos militares norte-americanos com o relógio, como no caso do turco Salih Uyar, de 30 anos de idade, capturado no Afeganistão e suposto comandante de campo de treinamento da Al Qaeda com liderança regional.
“O detento foi preso com um relógio Casio, um modelo que tem sido usado em explosões relacionadas com Al Qaeda e com explosivos caseiros terroristas”, afirma um trecho de um documento publicado pelo "The New York Times", que transcreve uma audiência judicial.
“É verdade que eu estava com um relógio Casio, mas o que se diz a respeito disso não é verdade. É um crime carregar esse relógio? Seus próprios militares usam esse relógio também. Isso significa que eles também são terroristas?”, teria respondido Uyar, que acabou transferido para a Turquia em 2005.
Comportamentos suspeitos
Outros indicadores de possível pertencimento a Al Qaeda, segundo o mesmo manual de Guantánamo, são: “dividir a mesma ideologia ou objetivos políticos que a organização”, “capturado em área onde a organização terrorista esteve ativa durante período relevante”, “capturado em tentativa de cruzar uma fronteira ilegalmente”, “não coopera em Guantánamo”.
O documento cobre ainda uma seção de “histórias falsas” comuns para pessoas detidas na região do Afeganistão, entre as quais: “trabalho com caridade”, “estou experimentando a vida em uma nação islâmica”, “encontrei um viajante e simplesmente o acompanhei”, “procuro emprego” e “procuro uma mulher”, “estou de férias”.
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