Companhia dona de navio naufragado se apresentará como vítima em julgamento
A companhia de navegação Costa Cruzeiro, proprietária do cruzeiro Costa Concordia, que naufragou na sexta-feira (13) na Itália, se apresentará como vítima no julgamento do caso "porque, além da tragédia e do drama humano, a empresa sofreu um dano imenso", afirmou um de seus advogados.
Em declarações à imprensa, o advogado Marco De Luca, condenou o comportamento do comandante do cruzeiro, Francesco Schettino, acusado de ter desviado sem autorização a embarcação de sua rota causando o naufrágio, que provocou a morte de 11 pessoas e mais de 20 desaparecidos.
O advogado disse ainda que a companhia não assumirá a defesa do comandante, que foi suspenso de seu cargo. "A companhia é outra vítima nesta tragédia", acrescentou o advogado, que anunciou que a empresa colaborará com a justiça italiana.
O presidente da companhia, Pier Luigi Foschi, condenou publicamente o comportamento do capitão, que, além disso, abandonou o navio antes dos passageiros, violando um dos princípios básicos da navegação.
Schettino se encontra em prisão domiciliar em sua residência depois de ter permanecido quatro dias na prisão, o que gerou revolta e indignação por parte dos parentes das vítimas.
Durante interrogatório na quarta-feira (18) o comandante disse que escorregou e caiu em um bote salva-vidas para explicar o motivo pelo qual não coordenou a retirada dos passageiros da embarcação.
"Suba a b-o-r-d-o!"; ouça diálogo no momento do acidente do navio
Segundo Schettino, ele tentava fazer com que os passageiros entrassem nos botes, quando escorregou. "Eu não tinha um colete salva-vidas, porque dei para um dos passageiros. Estava tentando levá-los para os botes de forma ordenada. Como o navio estava a uma inclinação entre 60 e 70 graus, eu escorreguei e parei em um dos botes. É por isso que eu não estava lá", declarou.
Schettino confirmou ainda que, de fato, passou pela ilha de Giglio --onde o navio colidiu com uma formação rochosa-- para saudar o capitão aposentado Mario Palombo, e estava no telefone com o amigo no momento do acidente. Ele disse que não estava sob o efeito de drogas.
Um telefonema entre o capitão do Costa Concordia e a Capitania dos Portos, publicado na terça-feira (17) na imprensa italiana, confirma que ele deixou o navio antes da retirada de todos os passageiros e não voltou apesar de ter recebido ordem para retornar.
A transcrição da conversa revela que o capitão ocultou o motivo do naufrágio e que se recusou a voltar para o navio para ajudar na retirada dos passageiros. Segundo o jornal "Corriere della Sera", a Capitania perguntou a Schettino às 0h32 (21h32 de Brasília) quantas pessoas ainda restavam a bordo. Embora a embarcação estivesse cheia, o comandante respondeu que apenas entre 200 e 300 pessoas estavam no navio.
A resposta fez levantar suspeitas à Capitania, que perguntou se ele ainda estava a bordo, fazendo Schettino confessar que ele havia deixado a embarcação.
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"Mas como que abandonou a nave?", perguntou o capitão Gregorio De Falco, da Capitania. "Volte imediatamente a bordo, suba pela escada de segurança e coordene a evacuação. Deve nos dizer quantas pessoas há lá dentro: crianças, mulheres, passageiros, o número exato de cada categoria."
"Comandante, é uma ordem, agora comando eu. Anteriormente o senhor declarou que havia abandonado o navio, volte à proa e coordene o resgate porque há mortos", completou De Falco.
Schettino, que estava em terra firme e não retornou ao transatlântico, perguntou quantos corpos havia.
"É o senhor quem tem de me dizer quantos [corpos]. O que quer fazer? Ir para sua casa? Volte imediatamente e nos diga o que é preciso fazer, quantas pessoas restam e o que necessitam", disse De Falco.
O comandante garantiu que voltaria, mas testemunhas e investigadores que cuidam do caso afirmam que ele não voltou e o viram pegar um táxi em direção a um hotel.
O acidente
O cruzeiro Costa Concordia colidiu contra as rochas em águas da ilha italiana de Giglio na sexta-feira (13) à noite.
A companhia proprietária da embarcação, Costa Cruzeiros, admitiu que houve "erro humano" e que o capitão não respeitou o regulamento, aproximando-se até 150 metros da costa.
Schettino é acusado de homicídio culposo múltiplo (sem intenção de matar), naufrágio e abandono do navio, crimes pelos quais pode ser condenado a até 15 anos de prisão.
(Com agências internacionais)
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