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Exército suspende Constituição do Egito, depõe Mursi e anuncia novas eleições

Do UOL, em São Paulo

03/07/2013 16h03Atualizada em 04/07/2013 10h22

O presidente Mohamed Mursi foi deposto nesta quarta-feira (3) por um golpe militar apoiado por grande parte da população. O ministro da Defesa do Egito e comandante das Forças Armadas, Abdeh Fattah al Sissi, disse na TV que está suspensa a Constituição do país. 

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Segundo o ministro, Mursi "não atendeu às demandas da população". Em um pronunciamento transmitido pela rede de TV oficial, Sissi afirmou que caberá à Suprema Corte Constitucional do Egito convocar novas eleições presidenciais e parlamentares, além de elaborar a nova Constituição do país.

O chefe da Suprema Corte Constitucional, Adly Mansour, 68, governará o país no período de transição, de acordo com o ministro da Defesa. 

Em um post no perfil da presidência do Egito no microblog Twitter, Mursi pediu à população que resista ao golpe de Estado mas de forma tranquila, "sem derramamento de sangue entre os compatriotas".

Confrontos deixam mortos e líderes são presos

Ao menos nove pessoas foram mortas em confrontos entre partidários e opositores de Mursi e as forças de segurança. Na cidade de Marsa Matruh, ao norte do país, quatro morreram depois de decretado o golpe militar. O governador Badr Tantawi disse à Reuters que todos os mortos eram apoiadores de Mursi.

Outras cinco morreram também em confrontos entre adversários e simpatizantes do presidente deposto na cidade de Alexandria, após um tiroteio segundo a TV Al Jazeera. 

O Exército do Egito deteve nesta quarta-feira vários dirigentes ligados à Irmandade Muçulmana, base do presidente deposto Mohamed Mursi. As forças de segurança egípcias receberam ordens para prender 300 membros dos Irmãos Muçulmanos, informa o jornal Al-Ahram.

Emissoras de TV islâmicas são tiradas do ar

Emissoras de televisão islâmicas do Egito foram tiradas do ar nesta quarta-feira (3), minutos depois de anunciarem a queda do então presidente Mohamed Mursi em cadeia nacional. 

Segundo a agência de notícias estatal Mena, a emissora de TV da Irmandade Muçulmana Egypt25 teve o sinal cortado e seus gerentes foram presos horas depois do golpe militar. Funcionários da filial egípcia da rede de televisão do Catar Al-Jazeera, a Al-Jazeera Mobasher, também foram detidos após a divulgação do discurso de Mursi na emissora.

Localização do Cairo

"As forças de segurança invadiram as instalações da Al-Jazeera Mobasher e prenderam vários funcionários", revelou a rede de TV do Catar.

Além de suspender as transmissões da Al-Jazeera Mobasher, o Exército adotou diversas medidas contra dirigentes da Irmandade Muçulmana.

Reação internacional

O presidente da Síria, Bashar Assad, disse nesta quarta acreditar que as gigantescas manifestações contra o egípcio Mohamed Mursi, derrubado pelo Exército, marcam o fim do Islã político.

"O que acontece no Egito é a queda do que nós conhecemos como o Islã político", declarou o presidente sírio ao jornal oficial "As-Saoura", segundo trecho da entrevista que será publicada em um jornal sírio nesta quinta-feira (4).

Antes da confirmação do golpe de Estado no Egito e pronunciamento dos militares, o governo brasileiro condenou a medida e defendeu uma solução negociada com a sociedade egípcia.

"Os egípcios querem resultados rápidos de uma revolução que ainda vai completar três anos. É preciso ter paciência", disse o emissário do Brasil para o Oriente Médio mais a Turquia e o Irã, embaixador Cesário Melantonio Neto.

Também antes do golpe, o Departamento de Estado dos EUA disse que a melhor solução para o impasse no país seria uma saída política. O órgão afirmou ainda que Mursi deve fazer mais para responder aos apelos da população do Egito

Curiosamente, na Síria, que há dois anos vive uma guerra civil pela saída do presidente, Bashar Assad, a TV estatal exibiu nesta quarta-feira (3) uma entrevista com um integrante do governo sírio favorável ao golpe no país.

"A crise no Egito pode ser superada se Mursi perceber que a maioria da população egípcia o rejeita e pede a ele que saia", afirmou Omran Zoabi, ministro da Informação do país, segundo a agência estatal "Sana".  

Golpe um ano depois

Cronologia

  • Mursi assumiu a Presidência em junho de 2012

O presidente (agora deposto) do Egito foi eleito democraticamente, mas é visto por opositores como um mero fantoche da Irmandade Muçulmana, partido que governava o país de fato. Mursi assumiu o cargo em 2012, após um outro levante egípcio, o de 2011, que depôs o então presidente Hosni Mubarak.

A gestão de Mursi foi considerada insatisfatória. Apesar das sucessivas promessas de que ouviria a oposição, na visão de seus críticos Mursi governou tendo em vista unicamente os interesses da Irmandade Muçulmana - jocosamente apelidada de "Irmandade da Ocupação" pelos manifestantes.

O mandato do presidente durou exatamente um ano. Desde o domingo (30), data do 1º aniversário de Mursi no poder, manifestantes têm ido às ruas pedindo sua renúncia. 

Ultimato

Na segunda-feira (1º), o Exército disse que, se as forças políticas envolvidas no impasse político do país não se entendessem em até 48h, os militares interviriam para que fosse seguido o "mapa" que as Forças Armadas desenharam para o Egito.

O prazo para respostas do governo ao ultimato do Exército terminou nesta quarta-feira (3), às 16h30 na hora local (11h30 de Brasília). Na véspera do golpe, terça-feira (2), Mursi fez um pronunciamento na TV dizendo que sua eleição foi democrática e que lutaria até a morte para defender sua legitimidade no cargo. Nesta quarta-feira (3), o político propôs por meio de sua página no Facebook a formação de um governo de coalizão para tirar o país da crise política.

Futuro de Mursi

Segundo agências de notícias, Mursi teve a prisão decretada pela Justiça do país. O presidente deposto do Egito e líderes da Irmandade Muçulmana foram considerados culpados por uma fuga de uma prisão em janeiro de 2011. Segundo um tribunal egípcio, a Irmandade Muçulmana organizou a fuga com a ajuda de integrantes do Hamas palestino e do Hezbollah libanês.

É essa investigação que resultou agora na proibição a Mursi e vários líderes da Irmandade Muçulmana de deixarem o território egípcio. Funcionários aeroportuários disseram à agência de notícias "AFP" que receberam ordens de impedir que Mursi, o líder da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie, e o número dois da confraria, Jairat al Shater, saiam do país.

 

Debandada do país

A Embaixada dos EUA no Cairo ordenou que todos os seus funcionários considerados não necessários deixem o Egito, logo após o anúncio de deposição do presidente Mohammed Mursi, nesta quarta-feira.

De acordo com agências de notícias, a partida dos funcionários deve começar imediatamente e todos deverão ter saído do país até o final da semana. 

Mortos na madrugada

Pelo menos 16 pessoas morreram e 200 ficaram feridas em um ataque contra manifestantes pró-Mursi nos arredores da Universidade do Cairo, informou a TV estatal, citando o ministério da Saúde.

Ao todo, o número de mortos em confrontos pode chegar a 23. Na maioria dos protestos no país, não houve relatos de confrontos violentos. (com agências)

Entenda a crise no Egito

A QUE SE DEVE A NOVA CRISE?O descontentamento começou em novembro de 2012, quando o presidente do Egito, Mohammed Mursi, promulgou um decreto pelo qual estendia mais poderes para si mesmo. Desde então, houve uma cisão política no país. De um lado, Mursi e a Irmandade Muçulmana; de outro, movimentos revolucionários e liberais.

Essa divisão política foi propiciada por uma constituição polêmica, escrita por um painel dominado por islamitas.

O fato foi agravado pelo que a oposição chamou de decisão unilateral adotada pelo governo. Alguns alegaram que muitos dos membros da Constituinte egípcia foram indicados pela Irmandade Muçulmana com base em critérios que privilegiaram a lealdade à competência.
O QUE MURSI DIZIA?Apesar de admitir que cometeu alguns erros, Mursi insinuou que os protestos foram motivados por ex-membros do antigo regime e seus associados. Ele também culpa a oposição por não responder a seus pedidos para a construção de um diálogo nacional. Tais indicações ficaram claras em um pronunciamento à nação em 26 de junho deste ano.