Topo

Morte de diplomata brasileiro em atentado no Iraque completa dez anos amanhã

Do UOL, em São Paulo

18/08/2013 06h00

No dia 19 de agosto de 2003, um atentado terrorista à sede da ONU (Organização das Nações Unidas) em Bagdá, no Iraque, colocava fim à vida do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, então com 55 anos. Além dele, 21 funcionários das Nações Unidas morreram no ataque, atribuído pelos Estados Unidos à Al Qaeda.

Vieira de Mello estava havia apenas três meses no Iraque. Ele havia sido nomeado em junho daquele ano para o posto de representante especial do secretário-geral no Iraque, para onde foi para uma estadia inicial de quatro meses. Sua missão era trabalhar para restabelecer a tranquilidade no país e ajudar os iraquianos a construir um governo democrático.

O secretário-geral da ONU à época, Kofi Annan, afirmava que Mello era "a pessoa certa para resolver qualquer problema". Ele foi o primeiro brasileiro a atingir o alto escalão das Nações Unidas e muitos o apontavam como possível sucessor de Annan.

A historiadora Samantha Power, autora da biografia de Mello, “O Homem que Queria Salvar o Mundo” (Companhia das Letras), conta que o diplomata fez questão de que os escritórios da ONU em Bagdá fossem abertos aos civis iraquianos --ao contrário da zona verde iraquiana, onde as instalações dos EUA eram altamente guardadas por cercas e soldados--, decisão que o teria deixado mais vulnerável à ameaça terrorista.

Antes da missão no Iraque, Vieira de Mello assumiu por quase um ano o mais importante posto de sua carreira nas Nações Unidas, o de Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos. O diplomata, que trabalhou na resolução de conflitos durante 34 anos, ajudou na restauração da ordem em Kosovo, em 1999, e na transição do Timor Leste para a independência da Indonésia --talvez seu maior legado--, alcançada em 2002.

Homenagens

Os dez anos da morte do diplomata serão lembrados nesta segunda-feira (19) em uma cerimônia no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a partir das 8h30. O evento, organizada pelo Ministério das Relações Exteriores e pela ONU, contará com uma nova homenagem do cantor Gilberto Gil -- que se apresentou em cerimônias pela memória de Vieira de Mello em 2003 e em 2004.

Na última sexta-feira (16), em mais um evento da série de homenagens prestadas ao diplomata, no Rio de Janeiro, o ex-presidente do Timor Leste e vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1996 José Ramos Horta lembrou o papel fundamental de Vieira de Mello no processo de paz e reconstrução de seu país, iniciado em 1999. “O Timor Leste foi o primeiro caso eminentemente político de que Sérgio Vieira de Mello participou e representou as Nações Unidas”, disse. “Ele serviu à causa da ONU, da paz e da humanidade por mais de 30 anos”, completou Horta.

Biografia

Nascido em 15 de março de 1948 no Rio de Janeiro, Vieira de Mello era filho do embaixador Arnaldo Vieira de Mello e acompanhava o pai em missões pelo mundo.

Formado em filosofia pela Universidade de Sorbonne, na França, Vieira de Mello começou a trabalhar na Agência da ONU para Refugiados (Acnur) aos 21 anos. Conhecido como hábil negociador, se destacou na área humanitária e, em 1981, foi nomeado para o cargo de conselheiro político sênior das forças da ONU no Líbano.

Em 1996, Vieira de Mello foi nomeado assistente do Alto Comissário da ONU para refugiados e, dois anos depois, assumiu em Nova York o cargo de subsecretário-geral para casos humanitários e coordenador de emergência.

Em Kosovo, assumiu temporariamente a função de representante geral do secretário-geral da entidade. Já no Timor Leste, serviu como administrador transitório da ONU, levando o país à independência e à realização de eleições livres.

Em 12 de setembro de 2002, foi nomeado para o cargo de Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, onde ficaria até 2003. Em junho do mesmo ano, afastou-se da função para assumir o posto de representante especial do secretário-geral Kofi Annan no Iraque, onde morreu no dia 19 de agosto.

O diplomata, que deixou dois filhos, Laurent e Adrien --que teve no casamento com a francesa Annie--, foi enterrado em Genebra, na Suíça. (Com agências de notícias)