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Detenção de brasileiro foi "questão operacional de polícia", diz embaixada britânica

Do UOL, em São Paulo*

19/08/2013 17h26

A embaixada britânica informou, nesta segunda-feira (19), por meio de nota, que a detenção do brasileiro David Miranda no aeroporto de Heatrow, em Londres, é “uma questão operacional da Polícia Metropolitana” da cidade.

O comunicado aborda o que foi dito pelos ministros das Relações Exteriores do Brasil e do Reino Unido Antonio Patriota e William Hague, que conversaram na tarde dessa segunda, por telefone, sobre o incidente. Patriota e Hague definiram que representantes dos dois países permanecerão em contato na busca de uma solução para o impasse envolvendo o assunto.

“O ministro das Relações Exteriores britânico [Wiliam Hague] teve uma conversa particular com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, sobre a detenção de David Miranda durante uma ligação telefônica esta tarde [19]. Eles concordaram que representantes dos governos brasileiro e britânico permanecerão em contato sobre o assunto. Esta continua sendo uma questão operacional da Polícia Metropolitana de Londres”, diz a nota.

Em seguida, a embaixada reitera que as relações com o Brasil são intensas e de estreita parceria: “O Reino Unido e o Brasil têm uma forte relação bilateral. Nós trabalhamos em estreita parceria em diversas áreas, incluindo comércio e investimento, educação e energia. Continuamos a discutir uma vasta gama de questões de importância mútua para a política externa e para a agenda de segurança internacional”, diz o embaixador britânico, Alex Ellis, no comunicado.

De manhã, Patriota disse que a detenção de Miranda, durante nove horas, não se justifica. Miranda é companheiro do jornalista do diário inglês The Guardian, Glenn Greenwald, que divulgou informações sobre o esquema de espionagem do governo norte-americano.

“Espero que não volte a acontecer. Hoje mesmo deverei conversar com o chanceler William Hague, do Reino Unido”, disse o chanceler brasileiro, que, em discurso no Rio na manhã de hoje, condenou os “desmandos e desvios” que vêm sendo cometidos em nome do combate ao terrorismo no mundo. Segundo Patriota, há vários exemplos desse tipo de desmando, entre eles o enquadramento de pessoas mesmo sem justificativa alguma para a suspeita de envolvimento delas com o terrorismo.

“Continuamos a assistir alguns desmandos e desvios nessa questão do combate ao terrorismo. Reconhecemos que é um combate legítimo, que precisa ser articulado de forma a impedir que vidas inocentes sucumbam a atos de violência gratuita, mas também precisa se inspirar nos ideais de multilateralismo, direito internacional e racionalidade”, acrescentou Patriota.

No domingo (18), David Miranda, parceiro do jornalista Glenn Greenwald, que publicou dados sobre esquema de espionagem do governo americano, vazados por Edward Snowden, foi parado pela polícia britânica e interrogado por nove horas, quando voltava de Berlim para o Rio de Janeiro, onde moram ele e o jornalista.

Miranda fazia escala no aeroporto de Heathrow em seu voo procedente de Berlim com destino ao Rio de Janeiro, onde vive com Greenwald. O brasileiro foi liberado mas seus equipamentos eletrônicos, entre eles o computador, telefone celular, pen-drives, DVDS e jogos eletrônicos foram apreendidos.

Em Berlim, o brasileiro passou uma semana na casa da documentarista americana Laura Poitras, que foi selecionada por Snowden, junto a Glenn Greenwald, para publicar os documentos que trouxeram à tona os programas de espionagem realizados pela Agência de Segurança Nacional americana.

Brasil e Reino Unido cobram explicações

As autoridades britânicas estão sendo criticadas por parlamentares pela detenção durante nove horas do companheiro brasileiro do jornalista. A detenção é “extraordinária”, disse o presidente da Comissão Parlamentar Britânica do Interior, o trabalhista Keith Vaz, que exigirá explicações da polícia.

"Eles sabiam que se tratava do parceiro de Greenwald e, portanto, fica claro que não somente as pessoas envolvidas estão sendo visadas, como também pessoas ligadas aos envolvidos", disse à “BBC”.

"Vou escrever à polícia e pedir explicações, porque deter alguém sob essas circunstâncias e, além disso, confiscar seus pertences mostra um uso diferente da legislação", afirmou. "Eles podem ter uma explicação razoável para isso e, se esse for o caso, então pelo menos saberemos e ficaremos preparados", acrescentou Vaz.

Outro deputado da oposição trabalhista, Tom Watson, considerou indispensável conhecer o eventual envolvimento do governo nesta detenção. “Devemos saber se os ministros estavam cientes da decisão de deter David Miranda e quem tomou concretamente a decisão”, disse Watson. (Com Agência Brasil)