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Brasileiro 'deportado' passou dois anos em depressão por causa do choque cultural

Hoje, Tiago Ramos dá aulas de inglês em Poços de Caldas (MG) e sonha em voltar aos EUA - Arquivo pessoal
Hoje, Tiago Ramos dá aulas de inglês em Poços de Caldas (MG) e sonha em voltar aos EUA Imagem: Arquivo pessoal

Thiago Varella

Do UOL, em São Paulo

14/11/2013 06h00

Apesar de ter nascido em Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais, Tiago Ramos teve de reaprender a ser brasileiro aos 16 anos de idade. Após sete anos vivendo nos Estados Unidos, se sentindo “muito mais americano do que brasileiro”, o adolescente se viu de volta ao país natal, um lugar que achava agradável, mas completamente diferente de onde havia se acostumado a viver.

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Em 2000, quando tinha nove anos, Tiago se mudou para Mount Vernon, no Estado americano de Nova York. Lá, aprendeu rapidamente o inglês e fez vários amigos. O garoto só falava português em casa, com o pai e a mãe. Até com a irmã, o menino conversava em inglês.

Sete anos depois, quando a vida parecia estar estabilizada nos EUA, a família de Tiago recebeu um duro golpe. Enganada por um empresa mentirosa que prometia legalizar a situação de imigrantes sem documentação, a família Ramos se viu sem dinheiro e obrigada a deixar os Estados Unidos.

“Uma juíza decidiu pela deportação voluntária. Com não tínhamos documento, a Justiça americana fixou o prazo de três meses para a gente voltar ao Brasil”, contou.  “Foram os piores três meses da minha vida. Toda minha vida estava nos Estados Unidos. Tinha namorada. Tinha a ideia de qual faculdade fazer e de como fazer. Tinha toda uma expectativa de vida lá.”

De repente, o país que Tiago passou a chamar de seu o estava expulsando. No dia 25 de novembro de 2007, o jovem, então com 17 anos, voltou ao Brasil com a mãe. O pai e a irmã ficaram nos EUA, desafiando a Justiça.

No Brasil, o rapaz entrou em depressão. Não se sentia brasileiro e só conseguia pensar na vida que tinha deixado para trás.

“Fiquei dois anos em depressão. O choque cultural foi muito grande. Os amigos, a escola, tudo era diferente. Fui tentar estudar aqui e odiava. Eu odiava tudo daqui. Meu sonho era voltar aos EUA”, disse.

Após dois anos, aos poucos, Tiago foi fazendo amigos de novo. Fez supletivo para terminar o Ensino Médio, passou a frequentar uma igreja e a trabalhar dando aulas  de inglês.

“Muita gente que vem embora de lá dá aulas de inglês. Hoje penso em fazer faculdade de letras”, contou.

O pai e a irmã não aguentaram a saudade da família e também voltaram ao Brasil. Apesar de readaptada, a família ainda enfrenta problemas. A mãe de Tiago ainda não conseguiu emprego e tentou, por vias legais, voltar aos EUA. Em vão.

“Antes do meu pai voltar, em 2009, eu e minha mãe tentamos renovar o visto. Lá no Consulado perguntaram para minha mãe se ela já tinha ido anteriormente aos EUA. Ela disse que sim, mas só por um período de tempo. A moça que nos atendia disse para minha mãe não mentir, mas ela continuou a contar a mesma história. O visto acabou negado”, disse.

Tiago nunca mais tentou tirar o visto. Agora, aos 22 anos, pensa em voltar ao Consulado. Ele sente muita saudade dos amigos, com quem conversa pela internet.

“Na minha opinião, adolescentes, estudantes, deveriam ter uma oportunidade para ficar no país. Os imigrantes fazem muito por aquele país. Ninguém merece passar por o que eu passei”, contou.