Forças russas controlam Crimeia; Kerry viaja para Kiev na terça
As forças russas já têm sob seu controle a península da Crimeia, região autônoma no sul da Ucrânia, segundo informaram neste domingo (2) funcionários do governo norte-americano.
Numa tentativa de buscar uma solução diplomática para a crise ucraniana, o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, deve chegar em Kiev na próxima terça-feira (4) para oferecer seu apoio aos novos líderes interinos.
IMPASSE COM A RÚSSIA MOTIVOU REVOLTA NA UCRÂNIA
As manifestações começaram em novembro, depois que o então presidente Viktor Yanukovich anunciou sua decisão de não assinar um acordo de cooperação com a União Europeia, que poderia, no futuro, ter a Ucrânia como um de seus membros.
A questão, no entanto, é mais complexa e tem raízes na história recente do país, nascido após a desintegração da ex-União Soviética.
O país está no meio de uma disputa de forças entre grupos que querem mais proximidade com a União Europeia e outros que têm mais afinidade com a Rússia. Yanukovich foi deposto em fevereiro, e novas eleições foram convocadas.
As atenções agora se viraram para a Crimeia, região autônoma da Ucrânia cuja maioria é alinhada à Rússia, que convocou um referendo sobre sua soberania.
"O secretário viajará a Kiev. Estará lá na terça-feira", disse um alto funcionário da administração norte-americana, acrescentando que forças russas estão, "atualmente, em completo controle operacional na península da Crimeia".
O novo primeiro-ministro ucraniano, Arseniy Yatsenyuk, declarou que o país está "à beira de um desastre" após a "declaração de guerra" feita pela Rússia. "É o alerta vermelho. Não é uma ameaça, é, na verdade, uma declaração de guerra ao meu país", disse o premiê.
O governo dos Estados Unidos reiterou neste domingo sua disposição em cooperar com a Rússia na busca de uma solução diplomática para a crise da Ucrânia, mas advertiu ao governo russo que a invasão da Crimeia pode custar sanções e o isolamento internacional.
A Alemanha também está empenhada nas negociações com o governo russo para encontrar uma saída para a crise. Segundo comunicado oficial, a chanceler alemã, Angela Merkel, conversou por telefone neste domingo com o presidente russo, Vladimir Putin, que teria aceitado a proposta de iniciar "imediatamente" um diálogo político com a Ucrânia.
Mais cedo, o secretário de Estado americano havia classificado a ação russa na Crimeia como "um ato descarado de agressão" e ameaçou o governo de Putin com sanções.
"Os Estados Unidos continuam suas consultas com aliados e parceiros em todas as partes do mundo e estão dispostos a impor sanções, a ir até o extremo para isolar à Rússia devido a esta invasão", disse.
"É uma violação da lei internacional e uma violação da Carta das Nações Unidas", sustentou Kerry, que apareceu em quase todos os programas dominicais de televisão. "É uma ação do século 19 que põe em dúvida a capacidade da Rússia de viver no mundo moderno."
Kerry ressaltou que, "se a Rússia quer seguir sendo membro do Grupo dos 8, deve se comportar como um membro do Grupo dos 8", e acrescentou que o governo dos EUA considera a possibilidade de declarar um boicote à cúpula da entidade, programada para junho na cidade russa de Sochi.
Tanto Kerry quanto o chefe do Pentágono, Chuck Hagel, entrevistados pelo programa "Face the Nation" da rede "CBS", disseram que o presidente Barack Obama mantém abertas todas as opções.
Ingresso na Otan
A Ucrânia, da mesma forma que Geórgia, país invadido pela Rússia em 2008, expressou interesse em se incorporar à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e tem fronteiras com a Polônia, Eslováquia, Hungria e Romênia, todos membros da aliança.
Uma base aérea temporária americana na Romênia, que servirá como ponto principal para as forças norte-americanas que saem do Afeganistão, alcançou oficialmente sua capacidade operacional plena na sexta-feira passada, segundo informaram fontes militares.
Desde 2 de fevereiro, 6.000 soldados americanos passaram pela Base Mihail Kogalniceanu, 40 quilômetros ao noroeste da cidade de Constanta, sobre o Mar Negro. A base desempenha o papel que durante muito tempo foi do Centro de Passagem de Manas, perto de Bisqueque, a capital do Quirguistão.
Os especialistas em assuntos militares consultados pela imprensa americana assinalaram, de forma quase unânime, que os Estados Unidos não têm opções militares reais para responder à ocupação russa da Crimeia.
O senador republicano Marco Rubio, que pediu uma ação mais enérgica por parte do presidente Obama, preferiu não falar sobre o que os Estados Unidos poderiam fazer do ponto de vista militar para reverter à ação russa.
"Estamos absolutamente dispostos a impor sanções", disse Kerry, enquanto Hagel recusou discutir quais opções militares haveria se a intervenção russa se estender da Crimeia a outras partes da Ucrânia.
Kerry argumentou que a crise não é "um confronto entre Rússia e Estados Unidos, um confronto entre o Leste e Ocidente", e acrescentou que "este é o tempo para a diplomacia".
O secretário de Estado reconheceu que "a Rússia tem interesses legítimos na Ucrânia", e acrescentou que a forma de atendê-los é mediante a cooperação com o governo de Kiev para proteger os direitos dos russos no sudeste ucraniano.
Kerry advertiu que uma extensão da ação militar russa estaria cheia de perigos para a Rússia: "O povo ucraniano sabe brigar", apontou.
No sábado, o presidente Obama falou por telefone por cerca de uma hora e meia com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. O editorial do jornal "The Washington Post" afirmou hoje que "Putin precisou de menos de um dia para pisotear as advertências de Obama".
"Os Estados Unidos encaram agora um ato de crua agressão armada no centro da Europa por parte de um regime russo que mostra sua intenção de passar por cima de um presidente dos Estados Unidos e seus aliados", acrescentou o editorial. "Obama deve mostrar que isso não pode ser feito".
(Com agências internacionais)
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