Topo

CIA usava técnicas de tortura brutais, mas ineficazes, aponta Senado dos EUA

A presidente do Comitê de Inteligência do Senado, Dianne Feinstein, discute relatório sobre táticas antiterrorismo da CIA - Senate TV/Reuters
A presidente do Comitê de Inteligência do Senado, Dianne Feinstein, discute relatório sobre táticas antiterrorismo da CIA Imagem: Senate TV/Reuters

Do UOL, em São Paulo

09/12/2014 15h04Atualizada em 11/12/2014 14h34

A CIA, agência federal de inteligência dos Estados Unidos, usava "técnicas reforçadas" --um eufemismo para tortura-- mais brutais do que revelado previamente no combate ao terrorismo, segundo relatório do Senado norte-americano divulgado nesta terça-feira (9). Ainda assim, esses interrogatórios se mostraram ineficazes na obtenção de informações relevantes no combate aos terroristas.

Com a divulgação, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, declarou, em comunicado, que os métodos não serviram os esforços gerais contra o terrorismo. "Estes métodos não apenas foram inconsistentes com nossos valores como nação, como não serviram aos nossos esforços gerais contra o terrorismo nem aos nossos interesses de segurança nacional. Eles prejudicaram significativamente a imagem da América e a sua posição no mundo", completou. 

O relatório foi elaborado pela Comissão de Inteligência do Senado e apresentado pela senadora democrata Dianne Feinstein, presidente do comitê. O documento aborda o uso de controvertidos processos de interrogatório em suspeitos e membros da Al Qaeda. Eles permaneceram detidos em instalações secretas na Europa e na Ásia nos oito anos posteriores aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.

Tortura no governo Bush

A investigação do Senado foi realizada entre 2009 e 2012 e revelou o uso de práticas como simulações de afogamento, privação do sono e ameaças de cunho sexual durante o governo de George W. Bush. A Comissão afirma que a CIA "forneceu repetidamente informações inexatas ao Departamento de Justiça, dificultando uma investigação apropriada" sobre suas práticas de interrogatório.

“Sete dos 39 detentos submetidos às técnicas de interrogatório ampliado [tortura] não produziram informações para a inteligência enquanto sob custódia da CIA”, diz um trecho do documento.

Ainda segundo o relatório, uma de cada cinco pessoas torturadas fora detida por "erros de identidade ou informações equivocadas de inteligência". Em geral, os suspeitos de terrorismo eram submetidos à tortura, prossegue o relatório, imediatamente após serem detidos. 

Já em outros casos, em que técnicas convencionais de interrogatório eram utilizadas, os detentos forneceram informações precisas aos agentes, informou a Comissão de Inteligência do Senado.  

Além disso, a justificativa dada pela CIA para o uso da tortura -- de que ajudava a obter informações para desbaratar ações terroristas -- se baseava em "alegações imprecisas". Em alguns dos exemplos revisados pelo comitê do Senado, não havia relação entre o sucesso de uma ação antiterrorismo e as informações fornecidas pelos suspeitos sob tortura. Nos demais casos, as informações estavam disponíveis por outros meios que não os depoimentos dos suspeitos. 

"Continuarei a usar a minha autoridade para assegurar que não recorramos mais a esses métodos", afirmou Obama.  

As embaixadas dos Estados Unidos amanheceram em alerta máximo por possíveis represálias devido a divulgação da investigação feita pelo Senado. (Com agências)