Autor de charge satírica a Maomé prevê autocensura da mídia após atentado
O cartunista dinamarquês Kurt Westergaard, que está sob proteção policial após desenhar uma charge do profeta Maomé com um turbante-bomba, disse acreditar que o atentado à revista “Charlie Hebdo” levará a uma autocensura da mídia. Doze pessoas morreram no tiroteio na sede da publicação, das quais oito eram jornalistas.
Em entrevista à “BBC”, ele disse que o medo pelo ocorrido “não vai desaparecer”. O próprio Westergaard admite sentir medo, mas o sentimento predominante no momento, prosseguiu, é o da raiva.
“Haverá algum tipo de autocensura e esse é o pior tipo de censura”, lamentou.
Na quarta-feira (7), dia do atentado, Westergaard já havia afirmado que ele e os cartunistas da "Charlie Hebdo" tinham um destino comum, em referência ao atentado que sofreu há quatro anos.
Um somali residente na Dinamarca, depois condenado a dez anos de prisão, entrou a machadadas em sua casa em Viby, no oeste do país, na noite de 1º de janeiro de 2010, mas o chargista conseguiu se refugiar em seu banheiro e chamar a polícia.
Westergaard, de 79 anos, negou que o atentado contra a revista, em Paris, no qual morreram pelo menos 12 pessoas, vá provocar uma mudança em sua situação pessoal.
"Durante anos deixei o tema de minha segurança ao PET (serviço de inteligência dinamarquês) e ele se encarregou de que eu viva tranquilo e seguro. Estou convicto de que continuará assim", afirmou.
As charges do "Jyllands-Posten", onde Westergaard deixou de trabalhar há quatro anos, provocaram meses após sua publicação fortes protestos no mundo islâmico, com distúrbios em vários países e um boicote comercial a produtos dinamarqueses. O jornal sofreu várias tentativas de atentado nos últimos anos, todos abortados pela polícia dinamarquesa.
Em entrevista divulgada no site do jornal, seu redator-chefe, Jorn Mikkelsen, recorreu à "situação especial" do "Jyllands-Posten" para não publicar caricaturas da revista francesa, ao contrário da maior parte dos periódicos dinamarqueses.
"O certo é que teria sido irresponsável imprimir velhos ou novos desenhos do profeta agora. Muitos não o reconheceriam, eu sim, embora a meu pesar. O 'Jyllands-Posten' tem uma responsabilidade em relação a si mesmo e a seus trabalhadores, mas também além, infelizmente", avaliou Mikkelsen.
O redator-chefe do jornal rejeitou que se trate de autocensura e falou de "reflexão necessária" e de mostrar "um cuidado extraordinário", embora mantenha o direito a publicar todo tipo de charges mais adiante.
"Durante anos tentamos contribuir para que o debate avançasse, acima da antiga luta sobre os desenhos de Maomé de há quase dez anos. Se o 'Jyllands-Posten' os publicar - antigos, novos, com ou sem Maomé - tudo giraria sobre isso e escureceria o que aconteceu desde 2005", disse.
"Solidarizamo-nos com os colegas da 'Charlie Hebdo', compartilharam a carga conosco. Mas decidimos pela solução correta para nós, nossa situação é especial. Temos que cobrir esta história importante, por sua vez somos uma parte dela. Não é fácil", concluiu. (Com agências internacionais)
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