Na ONU, papa defende educação como caminho para sair da pobreza
O papa Francisco defendeu em um discurso no plenário das Nações Unidas nesta sexta-feira (25) o direito à educação como caminho para sair da pobreza e criticou a exclusão de meninas do acesso a escolas em algumas partes do mundo.
“Para possibilitar que esses homens e mulheres reais escapem da extrema pobreza, devemos permitir que eles sejam agentes dignos de seus próprios destinos. (...) Isso pressupõe e demanda o direito à educação, também para as meninas, excluídas em alguns lugares, que é assegurado em primeiro lugar no respeito ao direito primário da família de educar suas crianças”, disse o papa.
“O desenvolvimento humano integral e o completo exercício da dignidade humana não podem ser impostos. Eles devem ser construídos e permitidos para cada indivíduo, para cada família, em comunhão com outros, e em uma relação justa com todas as áreas em que a vida humana se desenvolve: amigos, comunidades, cidades, escolas, negócios, províncias, nações etc.", afirmou Francisco, que dedicou boa parte de seu pronunciamento ao problema da desigualdade social no mundo.
Ele defendeu uma reforma do sistema econômico global, que denunciou como opressivo.
“As agências financeiras internacionais deveriam se preocupar com o desenvolvimento sustentável dos países e deveriam assegurar que eles não estão sujeitos a sistemas opressivos de empréstimos que, longe de promover o progresso, sujeitam as pessoas a mecanismos que geram maior pobreza, exclusão e dependência”, afirmou.
"A efetiva distribuição de poder, político, econômico, relacionado à defesa, tecnológico etc., entre uma pluralidade de sujeitos, e a criação de um sistema jurídico para regular reivindicações e interesses são um caminho concreto de limitar o poder".
Meio ambiente e “cultura do desperdício”
Francisco voltou a falar sobre conservação ambiental, tema que já havia explorado em seu discurso na Casa Branca, na quarta-feira (23), sugerindo que existe, de fato, “um verdadeiro direito ao meio ambiente”.
“Nós seres humanos somos parte do meio ambiente. Nós vivemos em comunhão com ele, uma vez que o ambiente por si só implica em limites éticos que a atividade humana deve reconhecer e respeitar”, disse o pontífice.
Para o papa, a devastação ambiental tem consequências diretas no processo de exclusão social.
“O mau uso e a destruição do meio ambiente são também acompanhados de um processo implacável de exclusão. Com efeito, a sede egoísta e sem limites pelo poder e prosperidade material leva a má utilização dos recursos naturais e à exclusão dos fracos e em desvantagem, seja porque estes são incapazes fisicamente ou porque lhes falta informação adequada e expertise técnica, ou são incapazes de ações políticas decisivas”.
“A exclusão econômica e social é uma completa negação da fraternidade humana e uma grave ofensa contra direitos humanos e o meio ambiente. Os mais pobres são os que mais sofrem com estas ofensas, por três sérias razões: eles são rejeitados pela sociedade, forçados a viver do que é descartado e sofrem injustamente pelo abuso do meio ambiente. Eles são parte da muito difundida e silenciosamente crescente ‘cultura do desperdício’”, criticou o papa.
Armas nucleares
O papa Francisco defendeu ainda em seu discurso a "total proibição" das armas nucleares e disse que a "ameaça de destruição mútua" constitui uma "fraude a toda a construção das Nações Unidas".
A existência de uma ética e um direito baseados nessa ameaça fariam, na prática, que a ONU passasse a ser as "Nações unidas pelo medo e pela desconfiança".
O pontífice se referiu ao recente acordo sobre o programa nuclear do Irã, "uma região sensível da Ásia e do Oriente Médio", sobre o qual disse que é "uma prova da boa vontade política e do direito, exercitados com sinceridade, paciência e constância".
Agenda
A convite da ONU, Francisco falou aos líderes mundiais que estão na cidade para a reunião da Assembleia Geral da ONU, que começa na próxima segunda-feira (28).
Mais de 150 presidentes e primeiros-ministros estavam presentes, entre eles a presidente Dilma Rousseff, que chegou a Nova York na madrugada de hoje, e personalidades de grande relevância internacional, como a ativista paquistanesa Malala Yousafzai, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2014.
Esta é a quinta visita de um papa à sede da ONU. A primeira aconteceu em 1965, pelo papa Paulo 6º. O papa João Paulo 2º esteve duas vezes nas Nações Unidas: em 1979 e 1995. Sete anos atrás, em 2008, o papa Bento 16, antecessor de Francisco, também falou aos líderes mundiais.
Porém, esta é a primeira vez que um pontífice fala a tantos líderes reunidos em um único lugar, de acordo com jornais norte-americanos.
Antes de seu pronunciamento no plenário principal da ONU, Francisco abençoou os funcionários da organização e fez um curto discurso de agradecimento aos seus esforços pela paz e a justiça.
“Fiquem próximos um do outro, respeitem um ao outro e assim incorporem entre vocês os ideais desta organização de uma família humana unida, vivendo em harmonia, trabalhando não só pela paz, mas em paz, trabalhando não só pela justiça, mas em um espírito de justiça”, disse.
O papa vai participar ainda hoje de uma cerimônia com representantes de várias religiões no Memorial do 11 de Setembro e vai se encontrar com parentes das vítimas dos atentados.
À tarde, Francisco visitará uma escola no bairro do Harlem, depois estará presente em uma procissão ao lado de fieis no Central Park e fará uma missa no Madison Square Garden, no fim do dia. A visita oficial aos EUA termina no domingo.
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