Acnur: 58% das mulheres que fogem da América Central aos EUA foram vítimas de abuso
Um relatório divulgado nesta quarta-feira (28), em Washington (EUA), pela Acnur, a Agência da ONU para Refugiados, traz números alarmantes sobre o crescimento dos casos de imigração motivados pela violência contra a mulher na América Central. Além dos relatos de agressão e intimidação, 64% das consultadas pela Acnur nos Estados Unidos, onde a maioria busca refúgio, descreveram ameaças diretas e ataques de grupos criminosos como uma das principais razões para a fuga. E 100% delas afirmaram ter recebido proteção insuficiente --ou nenhuma proteção-- da polícia ou de autoridades estatais quando buscaram ajuda.
Foram entrevistadas 160 mulheres de El Salvador, Guatemala, Honduras e México, todas em território americano. Na maior parte dos relatos, foram registrados casos de ameaça, extorsão, abuso físico e até mesmo estupro. Algumas tiveram parentes mortos ou que desapareceram, e muitos de seus filhos foram recrutados por organizações criminosas. Algumas delas também relataram violência física e sexual dentro de casa. Oitenta e cinco porcento das mulheres descreveram suas vidas em bairros controlados por facções criminosas e 58% delas disseram ter sido vítimas de abuso e violência sexual.
Mais de 60% das mães entrevistadas pela Acnur disseram que foram forçadas a deixar para trás seus filhos quando fugiram, mesmo que estivessem sujeitos à ameaças e agressões.
Uma mulher da Guatemala relatou ter fugido com a filha após contratar um coiote, os traficantes de pessoas que recebem muito dinheiro com a promessa de levá-los até a fronteira com os EUA. Durante a fuga, a mãe foi estuprada durante os 20 dias da viagem. Segundo a mãe da menina, o medo maior era o de que ele tentasse algo com a criança ou matasse as duas.
Grande parte das mulheres que fugiram para os EUA contou que tomou anticoncepcionais antes da jornada. "Se fosse estuprada, não estaria grávida. E o único trauma seria o ataque", disse uma delas à Acnur.
Entre as sobreviventes de agressões domésticas, são muitos os casos em que a polícia se manteve inerte. Uma el salvadorenha disse que, apesar de estar sangrando e visivelmente ferida, policiais que atenderam ao seu chamado disseram "mas ele é seu marido". Outra mulher afirmou que os soldados a aconselharam a "resolver entre vocês".
Segundo dados da ONU, El Salvador é o líder de feminicídios. A Guatemala aparece em 3º lugar, enquanto Honduras é o 7º em casos de homicídios de mulheres.
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