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União Europeia poderá enfrentar mais um ano difícil

Eric Vidal/Reuters
Imagem: Eric Vidal/Reuters

James G. Neuger

04/01/2016 16h25

Refugiados sírios morrendo em praias europeias, ataques terroristas nas ruas de Paris, tendência crescente de nacionalismo colocando em dúvida a integração da União Europeia: esses foram os retratos da Europa em 2015.

O ano-novo corre o risco de ser uma reprise do anterior, pois a crise de migração está entrando em uma nova etapa de tensão, as fronteiras internas abertas estão sitiadas, a Grã-Bretanha poderia sair da UE e uma Alemanha hesitante está sendo, mais uma vez, obrigada a agir como escudo político e econômico.

"Esse foi um ano difícil para a UE, mas as crises potenciais para a UE continuam incalculáveis", disse Philippe Moreau-Defarges, pesquisador do Instituto Francês de Relações Internacionais em Paris. "O populismo mostrou sua cara mais virulenta no leste europeu, mas ele não se restringe a essa região".

Enquanto a guerra civil na Síria fervilha, o principal fator de imponderabilidade --que foi salientado quando Bruxelas, a capital administrativa da UE, bloco composto por 28 países, voltou a entrar em alerta pela possibilidade de terrorismo no ano-novo-- seria outro ataque da mesma escala que o assassinato de 130 pessoas cometido em Paris por adeptos do Estado Islâmico em novembro.

O fato de a Europa estar perto da reavivada Rússia e a um curto voo de distância da turbulência do Oriente médio contribui, junto com dúvidas existenciais --Será que a UE ou a zona do euro vão se dividir? Será que a Espanha e a Grã-Bretanha vão continua inteiras?-- para tumultuar as condições comerciais. Um indicador da volatilidade nos mercados acionários chegou perto do valor mais alto dos últimos quatro anos em agosto.

Economia

A turbulenta política europeia e suas ansiedades sociais contrastam com uma perspectiva mais benigna para a economia, apoiada pelas taxas de juros extremamente baratas do Banco Central Europeu e pelos baixos preços do petróleo. A Comissão Europeia estima que a zona do euro, composta por 19 países, crescerá 1,8 por cento em 2016, um crescimento que é menor que o dos EUA pelo quinto ano consecutivo, mas é o melhor desempenho da Europa desde 2010.

"A política monetária vem movimentando muito mais os mercados e o BCE praticamente deixou a porta aberta para mais estímulos, e isso deu ao povo muito mais esperança de que essas medidas darão apoio aos mercados, disse Gemma Godfrey, fundadora e CEO da Moo.la, à Bloomberg Television.

A Grécia, que deve estar mais calma neste ano depois de um turbulento 2015, ainda precisa aceitar reformas econômicas impopulares exigidas por seu acordo de resgate, como as reformas da aposentadoria e do imposto de renda.

Esquerda x direita

A esquerda europeia teve um ano ruim, pois a migração e o terrorismo fizeram com que as mentalidades tendessem à direita. O partido grego Syriza, contrário à austeridade, cedeu aos imperativos da política alemã quando foi ameaçada com a expulsão da zona do euro, e um movimento semelhante na Espanha não conseguiu chegar ao poder na eleição de dezembro, embora tenha ficado em terceiro lugar na primeira tentativa.

Na disputa antes da eleição presidencial da França, que ocorrerá em maio de 2017, Marine Le Pen está se saindo melhor. Seu nacionalismo contrário ao euro e aos estrangeiros, misturado com a benevolência pelos oprimidos economicamente, fez com que sua Frente Nacional fosse o partido mais votado no primeiro turno das eleições regionais em dezembro. Uma aliança de conveniência dos partidos tradicionais e um comparecimento maior às urnas prejudicaram os candidatos dela no segundo turno, mas um marco foi estabelecido.

A bancada anti-imigração às margens da Europa aumenta as pressões nas sociedades que estão no meio - principalmente na Alemanha, na Áustria e na Suécia - que escancararam suas fronteiras para os recém-chegados, em sua maioria muçulmanos, com o objetivo de acabar espalhando-os pela Europa de modo equitativo.

Até agora, no entanto, a UE só realojou 266 refugiados dos 160.000 pretendidos - uma meta consagrada legalmente que, por sua vez, é insignificante perto dos mais de 1 milhão que chegaram à Europa em 2015. A UE calcula que outros 2 milhões chegarão até o fim de 2017. O ponto de ruptura talvez seja atingido no início do segundo trimestre, pois o clima melhor atrai mais refugiados e pressiona ainda mais o sistema interno do bloco que dispensa o passaporte em viagens.

Não faltam previsões pessimistas sobre o destino da Europa. Um dos mensageiros é o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, que disse no fim de dezembro: "A Europa não vai explodir por questões econômicas, mas poderia explodir". O principal apelo da política de Renzi, no entanto, é econômico: ele quer que mais gastos públicos sejam classificados como "investimento", o que aliviaria a pressão que a UE impõe sobre a Itália para reduzir o déficit orçamentário.