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"América, você se transformou no Brasil", ironiza colunista dos EUA

Os presidentes Michel Temer e Donald Trump - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo e REUTERS/Francois Lenoir
Os presidentes Michel Temer e Donald Trump Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo e REUTERS/Francois Lenoir

Do UOL, em São Paulo

26/05/2017 12h31

"As palavras 'obstrução da Justiça' começam a ser faladas, com um pouco de raiva. Falou-se em conversas gravadas secretamente, e autoridades federais procurando documentos que provem ou não uma infração do presidente. Parabéns, América: você finalmente, depois de todos esses anos, se transformou no Brasil."

É com ironia que o colunista Kevin D. Williamson --jornalista da revista conservadora "National Review", em texto publicado no site da TV CNBC na quarta-feira (24)-- compara as situações atuais dos presidentes Donald Trump e Michel Temer, abalados em seus respectivos países por pedidos de impeachment e suspeitas na Justiça. O artigo tem o título de "Seis dias em maio: A ascensão da República da Banana", em alusão às crises que atingiram Trump na semana passada.

"O presidente está no cargo há menos de um ano, e há conversa de impeachment. Ele é um homem com dinheiro, já nos 70 [anos], acostumado a conseguir do seu jeito. Ele parece genuinamente confuso com a situação", escreve de forma ambígua Williamson, que não identifica se está se referindo a Trump ou Temer.

Segundo ele, "depois de tirar da frente uma mulher corrupta, que ele um dia apoiou, e prometer um novo começo", o presidente foi atingido "por relacionamentos --e pagamentos-- que não parecem corretos, e uma imprensa hostil alegremente escava atrás deles" e "funcionários do governo declararam que o presidente os pressionou para favorecer aliados políticos".

Depois de "parabenizar" os Estados Unidos por sua suposta transformação no Brasil, Williamson explica que "ninguém fora da América Latina se importa muito com as perspectivas de um impeachment de Michel Temer, apesar de sua situação tecer mais do que um paralelo com o da presidente americano".

"A presidente brasileira antes dele, Dilma Rousseff, sofreu um impeachment também. Esse tipo de coisa acontece em países como o Brasil, que conseguem ter períodos curtos de estabilidade e prosperidade e de repente se perdem por nenhum motivo aparente. Mas os Estados Unidos não são esse tipo de país. Ou não eram, até recentemente."

Na sequência, Williamson critica a postura dos partidos Democrata e Republicano com suas escolhas nas eleições do ano passado e diz que Trump é incompetente. "Mas isso não é surpresa. Durante a campanha, era óbvio que ele não sabia como transformar um decreto um projeto de lei em lei, ou os limites do poder do presidente, ou como a Constituição funciona."

Apesar das críticas a Trump, o colunista não defende o impeachment do presidente americano por considerar que "não há muito motivo para acreditar que Trump tenha cometido algo errado" que o leve a ser impedido do cargo. "Trump não sabe o que está fazendo e não é muito bom nesse trabalho, mas não há lei contra isso. Não é inconstitucional ser um tolo."

"As instituições americanas são muito robustas, e essa coisa de República da Banana do momento provavelmente pode ser digerida, supondo que não há muito além disso", diz ele.

Williamson, autor do artigo, é apontado como um colunista de visão conservadora, normalmente observada em textos da "National Review". A revista é uma das principais vozes do tradicional conservadorismo dos Estados Unidos e foi apontada como influente, por exemplo, na ascensão de Ronald Reagan à Presidência na década de 1980.

A "National Review", no entanto, apoiou Ted Cruz durante as prévias republicanas em 2016 e se opôs frontalmente à candidatura de Trump, chamando o empresário de "ameaça" para o conservadorismo americano.