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Prestes a ir a países árabes, Bolsonaro já criticou muçulmanos e Palestina

28.jun.2019 - Bolsonaro participa do G20 em Osaka, no Japão. - Ludovic Marin/Pool/AFP
28.jun.2019 - Bolsonaro participa do G20 em Osaka, no Japão. Imagem: Ludovic Marin/Pool/AFP

Do UOL, em Brasília

25/10/2019 12h08

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) inicia as visitas oficiais a três países árabes - Emirados Árabes, Qatar e Arábia Saudita - neste sábado (26) atrás de investimentos de fundos soberanos no Brasil.

Se os árabes têm a atenção positiva do governo brasileiro pelo grande volume de recursos que podem ser injetados no país, por outro lado, parte deles já foi alvo de críticas de Bolsonaro. O presidente, porém, não fez críticas diretas aos países a serem visitados.

Nem todo país árabe é muçulmano, assim como os muçulmanos não se restringem a países árabes.

O presidente é católico e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, evangélica. Na campanha eleitoral do ano passado, Bolsonaro se apoiou no eleitorado cristão para vencer a disputa à Presidência da República.

Em transmissão ao vivo no Facebook em 12 de julho deste ano, ao lado do líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, Valdemiro Santiago, o presidente falou sobre intolerância religiosa em alguns países com população muçulmana, sem citações nominais.

"Eles têm sua religião lá, tá certo? Eu aceito qualquer religião aqui desde que no país deles aceitem a nossa também. Esse negócio de exterminar cristão por aí não conta com nosso apoio, obviamente", declarou.

"Agora, quando fala de ideologia de gênero, o pessoal dessa religião pensa da mesma maneira que nós. A questão de ideologia de gênero. Não a mulher...nós sabemos que em alguns países no norte da África [a mulher] é um ser que tá ali só para dar prazer para o homem. E não tem direito nenhum. Até para ir na rua ela....[faz sinal de que apenas os olhos ficam descobertos]", completou.

Em seguida, disse não querer impor ou exaltar uma religião como mais importante do que outras nem discriminar alguém por suas crenças. A declaração foi dada ao criticar título de matéria de jornal que dizia que o governo brasileiro acompanhou países islâmicos em votações sobre questões sexuais na ONU (Organização das Nações Unidas).

Quando candidato, Bolsonaro citou acabar com Embaixada da Palestina

Em agosto de 2018, durante a campanha eleitoral, Bolsonaro falou que iria retirar a Embaixada da Palestina no Brasil, se eleito, porque "a Palestina não é um país".

"Não pode fazer puxadinho, senão daqui a pouco vai ter uma representação das Farc aqui também", disse, em referência à organização de guerrilha contra o governo da Colômbia.

Até o momento, a representação diplomática permanece intocada em Brasília.

O governo brasileiro reconheceu a Palestina como um Estado independente em 2010 de acordo com as fronteiras de antes de 1967, quando tropas de Israel ocuparam a parte oriental de Jerusalém. O posicionamento seguiu entendimento de mais de cem países em busca de mediação para a paz na região.

Em viagem para Israel em abril deste ano, já como presidente, Bolsonaro não contemplou visitas a territórios palestinos nem respondeu ao convite feito pela embaixada palestina em Brasília para visitar a Igreja da Natividade, em Belém, na Cisjordânia, e se reunir com autoridades.

Meta de apaziguar mal-estar causado por eventual transferência de embaixada brasileira

A ida aos países árabes nos próximos dias também servirá para ampliar os negócios agropecuários e apaziguar o mal-estar causado pelo anúncio da transferência da embaixada do Brasil em Tel Aviv para Jerusalém no início do ano.

Diante de ameaças de boicote à importação de produtos brasileiros pelos árabes e de reclamações de empresários ao Planalto, Bolsonaro recuou da promessa de campanha e decidiu pela abertura de escritório comercial da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) sem status diplomático em Jerusalém.

A cidade é considerada santa pelo cristianismo, judaísmo e islamismo, reivindicada como capital tanto por Israel quanto pela Autoridade Palestina, e sempre se viu envolta em disputas religiosas e de poder.